Fulanis matam mais cristãos do que Boko Haram e Estado Islâmico, diz relatório da Nigéria

O Observatório de Liberdade Religiosa na África afirmou que mais de 20 mil cristãos foram mortos por radicais fulanis, nos últimos 4 anos.

Fonte: Guiame, com informações de Morning Star NewsAtualizado: quarta-feira, 2 de outubro de 2024 às 15:40
Exército da Nigéria. (Foto: Imagem ilustrativa/Wikimedia Commons/Nicolas Pinault).
Exército da Nigéria. (Foto: Imagem ilustrativa/Wikimedia Commons/Nicolas Pinault).

Radicais Fulani matam mais cristãos na Nigéria do que os grupos terroristas Boko Hama e Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP), segundo um novo relatório sobre a perseguição no país.

O levantamento do Observatório de Liberdade Religiosa na África (ORFA) mostrou que fulanis ligados a grupos terroristas, chamados de “bandidos Fulani”, mataram 12.039 pessoas, enquanto "pastores Fulani armados" mataram 11.948 civis, de outubro de 2019 a setembro de 2023.

O número de assassinatos por bandidos e pastores Fulani é maior do que o número de pessoas mortas pelo Boko Haram e ISWAP juntos. 3.079 pessoas foram mortas pelos dois grupos terroristas, conforme o relatório.

Os pastores Fulani fazem parte da Milícia Étnica Fulani (FEM) e se acredita que os
“bandidos Fulani” também estejam ligados ao grupo islâmico.

"Isso implica que o FEM é um fator muito maior na cultura nigeriana de violência do que o Boko Haram e o ISWAP", afirmou o relatório da ORFA.

De acordo com o estudo, a maioria das vítimas dos extremistas são cristãos, que foram mortos em ataques às suas comunidades. "Os dados mostram que mais cristãos nigerianos foram vítimas de violência do que nigerianos com outras afiliações religiosas", afirmou. 

"Entre os 30.880 civis mortos no período de quatro anos, o número de cristãos mortos foi de 16.769, enquanto o número de muçulmanos mortos foi de 6.235”.

Sequestros


Mulher na Nigéria. (Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash/Ninno JackJr).

Entre as vítimas sequestradas pelos fulanis, os cristãos também são a maioria. Dos 21.532 raptados, 11.185 eram cristãos e 7.899 eram muçulmanos.

"O fenômeno de sequestros começou lentamente no período do relatório de 2020, mas depois ganhou velocidade em 2021 em diante. Os mesmos agressores responsáveis pela maioria dos assassinatos também foram, de longe, os atores mais importantes da indústria de sequestros nigeriano", comentou o estudo.

O relatório registrou 11.610 ataques com vítimas mortas e/ou sequestradas e, destes, 8.905 envolveram assassinatos sem sequestros; 1.065 envolveram assassinatos e sequestros; e 1.640 envolveram sequestros sem assassinatos.

"Esta é uma média de oito ataques por dia envolvendo assassinatos e/ou sequestros em um período de quatro anos. Esses números incluem ataques com civis, forças de segurança e/ou grupos terroristas mortos e sequestrados”, explicou o documento.

A principal área de ataques de pastores armados Fulani foi na região Centro-Norte da Nigéria, incluindo a parte sul do estado de Kaduna. As ações de outros grupos terroristas foram concentradas no Noroeste e Centro-Norte.

Embora o relatório da ORFA tenha apontado questões econômicas como a motivação da violência Fulani – com os pastores procurando tomar as terras dos agricultores para pastagem do seus rebanhos – o reverendo Yusufu Turaki, ex-vice-presidente da Associação Cristã da Nigéria (CAN), afirmou que o objetivo dos radicais é destruir o cristianismo, estabelecer um estado islâmico e impor a sharia (lei islâmica).

“O ponto mais impressionante é que a Milícia Étnica Fulani (FEM) está matando civis nigerianos sem oposição. Assassinatos em massa, sequestros e tortura de famílias inteiras não são contestados”, criticou ele.

Violência Fulani

Em um relatório de 2020, o Grupo Parlamentar Multipartidário do Reino Unido para a Liberdade ou Crença Internacional (APPG) observou que os Fulani, possuem milhões de membros espalhados pela Nigéria e pelo Sahel. 

Predominantemente muçulmanos, eles compreendem centenas de clãs de muitas linhagens diferentes que não têm visões extremistas, mas alguns Fulani aderem à ideologia islâmica radical.

“Eles adotam uma estratégia comparável à do Boko Haram e do ISWAP e demonstram uma clara intenção de atingir cristãos e símbolos poderosos da identidade cristã”, afirma o relatório do APPG.

Líderes cristãos na Nigéria acreditam que os ataques de pastores às comunidades cristãs no Cinturão Médio da Nigéria tem o objetivo de tomar as terras dos cristãos à força e impor o islamismo, já que a desertificação tornou difícil para eles sustentarem seus rebanhos.

A Nigéria ocupa a 6ª posição da Lista Mundial da Perseguição 2024 da Missão Portas Abertas, de países mais difíceis para ser um cristão.

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