Milhares de cristãos iraquianos que fugiram de suas casas com medo de serem mortos pelo Estado islâmico e buscaram abrigo na vizinha Jordânia estão sendo "negligenciados" pelas Nações Unidas e encontrando dificuldades em sua busca de serem aceitos como refugiados e reassentados, segundo a advertência uma ativista cristã assíria de Direitos Humanos.
No início deste mês, Juliana Taimoorazy, pesquisadora do Projecto Philos e fundadora do Conselho de Alívio Cristão Iraquiano, com sede nos Estados Unidos, viajou com outros ativistas para o Iraque e a Jordânia em uma missão de "constatação" sobre o status de refugiados cristãos deslocados de suas casas devido à intensificação da jihad no norte do Iraque em 2014.
Em uma entrevista recente ao 'Christian Post', Taimoorazy explicou que, enquanto ela estava satisfeita com o progresso feito na assistência e retorno dos cristãos iraquianos às suas casas e aldeias dentro do Iraque, os dois dias que ela e seus colegas passaram com famílias iraquianas iraquianas deslocadas na Jordânia a deixou de coração partido.
"Eles são completamente negligenciados pelo ACNUR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados]", explicou Taimoorazy.
Segundo as estimativas de que Taimoorazy recebeu de fontes no terreno na Jordânia, existem atualmente cerca de 15.000 cristãos iraquianos deslocados que ainda procuram abrigo na Jordânia.
Taimoorazy e seus colegas conseguiram se encontrar e ouvir as experiências de pelo menos 30 famílias cristãs iraquianas durante sua estadia no país.
"Eles realmente vivem em bairros pobres nos subúrbios de Amã. Havia três famílias que conhecemos que viviam em um apartamento de três quartos", detalhou Taimoorazy. "Não há privacidade. Eles reclamam que o auxílio não chega a eles. Diferentes organizações de caridade chegam, mas não trazem ajuda suficiente. O ACNUR ainda não concedeu à maioria deles o status de refugiado".
De acordo com as estimativas de Taimoorazy, há cerca de 25 mil cristãos iraquianos deslocados dentro da Jordânia em 2015 quando ela visitou o país pela última vez. Embora cerca de 10 mil desses cristãos tenham sido reassentados em países como o Canadá e a Austrália, os 15 mil restantes estão presos pelo sistema, afirmou Taimoorazy.
Muitas dessas famílias cristãs, afirmou, simplesmente estão esperando o retorno do ACNUR sobre quando eles podem finalmente completar o processo para receber o status de refugiados.
"O que acontece é quando eles chegam à Jordânia, são entrevistados e recebem o número do arquivo e a papelada. E então, eles precisam esperar. Eles não recebem um prazo para serem chamados de volta para a segunda entrevista, que é quando eles receberão o status de refugiado. A maioria deles ainda não teve essa segunda entrevista", afirmou Taimoorazy. "Os que foram entrevistados pela segunda vez, eles não sabem quando serão contactados de novo para que o processo atual seja aceito em outro país".
De acordo com Taimoorazy, alguns dos refugiados cristãos da Jordânia disseram que o ACNUR não está revendo ativamente seus documentos em tempo hábil.
"Eles vêem que muçulmanos do Iraque e da Síria estão entrando e saindo do país", afirmou Taimoorazy. "O que avaliamos e o que eles dizem no terreno é que eles não querem que esses países ou o ACNUR sejam vistos como locais que estão dando tratamento preferencial aos cristãos, mesmo que os cristãos tenham sido especificamente alvo da jihad por causa de sua fé. Não estamos pedindo tratamento preferencial. Estamos pedindo o processamento da papelada em tempo hábil".
Dos refugiados cristãos na Jordânia com os quais Taimoorazy falou, os que receberam uma segunda entrevista com o ACNUR foram rejeitados pela Austrália, disse ela.
Taimoorazy também falou com dois cristãos iraquianos na Jordânia que serviram como tradutores para os militares dos EUA durante a Guerra do Iraque dos anos 2000.
"Eles trabalharam para uma empresa empregada pelos americanos. Eles nem sequer são entrevistados [pelo ACNUR]. Ninguém está olhando seus arquivos", disse ela. "Uma mulher [iraquiana] estava chorando e me disse: 'Eu não tinha que trabalhar, mas confiei nos americanos".
"Ela foi trabalhar para os americanos com a esperança de serem bem tratados e no futuro que sua família seria mobilizada para a América. Ela foi sequestrada e torturada pelos iraquianos por causa da sua lealdade aos EUA. Ela diz que os Estados Unidos não estão analisando os arquivos dela".
Essa tradutora particular não está sozinha.
"Muitos dos tradutores e funcionários estão sendo negligenciados pelo ACNUR e pelo governo americano e não estão tendo seus arquivos analisados", declarou Taimoorazy. "Essa é a situação na Jordânia. Eles estão realmente devastados".
Taimoorazy planeja fazer uma viagem de advocacia ao Reino Unido no próximo mês para aumentar a conscientização sobre a situação dos cristãos iraquianos na Jordânia.
"Eu vou participar de um evento no Parlamento e eu tenho uma série de reuniões organizadas para realmente falar sobre toda a situação, mas também o que está acontecendo com as pessoas na Jordânia", disse ela.