Qual era a rota da antiga estrada que conectava o Reino da Judeia à nação vizinha de Edom, conforme a Bíblia? A pesquisa, liderada pelo arqueólogo da Universidade Ben Gurion, Dr. Eli Cohen-Sasson, oferece novos insights sobre o caminho pelo deserto da Judeia.
O grupo de acadêmicos israelenses lançou uma nova luz sobre o assunto, sugerindo que, pelo menos, dois itinerários existiram conforme as Escrituras. A descoberta se deu através de um profundo conhecimento sobre a vida dos antigos habitantes da terra de Israel naquele lugar.
“Uma das coisas mais importantes para se saber do mundo antigo, é sobre os caminhos e estradas que faziam as conexões entre as terras”, disse o teólogo e professor de arqueologia, Luiz Sayão, ao Guiame.
Luiz Sayão com dois pássaros do deserto da Judeia. (Foto: Arquivo Pessoal/Luiz Sayão/Pikuri)
Sasson, o principal autor do estudo sobre o rio Edom, publicado recentemente pela revista acadêmica Palestine Exploration Quarterly, disse que estava trabalhando no sul do deserto da Judeia, numa estrada diferente que conectava Arad e Jordânia, no início da Idade do Bronze.
A Idade do Bronze Inferior cobre o período entre 3300 a.C e 2000 a.C., que é anterior ao cenário da maioria dos textos bíblicos. A pesquisa despertou o interesse por outros sistemas de estradas, especialmente depois que o arqueólogo encontrou um local que já era conhecido, mas ainda não explorado.
Achados arqueológicos
Artefatos de cerâmica foram encontrados e estudados. Eles pertencem ao período do nono ou oitavo século a.C., que são da Idade do Ferro II (1200-586 a.C.) e isso foi esclarecedor.
“Lemos muito sobre a estrada para Edom mencionada na Bíblia”, disse Sasson. O arqueólogo lembrou que as conexões entre Israel, Judeia e Edom são discutidas várias vezes no texto bíblico. O caminho é explicitamente citado no terceiro capítulo do Livro de II Reis.
“O rei de Moabe rebelou-se contra o rei de Israel. A passagem diz que o rei Jorão partiu de Samaria e reuniu todo o Israel, ao mesmo tempo em que enviou uma mensagem ao rei Josafá, de Judá: ‘Irás acompanhar-me na luta contra Moabe? Ele respondeu: Sim, eu irei. Serei teu aliado, os meus soldados e os teus, os meus cavalos e os teus serão um só exército. E perguntou: Por qual caminho atacaremos? Respondeu Jorão: Pelo deserto de Edom’. (2 Reis 3.7,8)”, mencionou.
“Esse fato aparece implícito na Bíblia. Se fosse apenas uma estrada, por que o rei de Judá perguntaria a seu companheiro rei de Israel qual caminho eles deveriam seguir?”, apontou o arqueólogo.
Duas estradas separadas
Na década de 1950, os lendários arqueólogos israelenses Yohanan Aharoni e Beno Rothenberg identificaram dois locais da Idade do Ferro que eles acreditavam estar localizados ao longo da estrada, conectando as áreas do Deserto de Negev, as Colinas da Judeia e o Deserto da Judeia, bem como algumas fortalezas localizadas ao longo do Fronteira da Judeia.
Mas, de acordo com Sasson, a rota que eles propuseram era altamente ilógica e tinha desvios desnecessários. “Por que alguém gastaria meio dia extra viajando sem necessidade?”, perguntou.
O que o arqueólogo e sua equipe encontraram em Gorer permitiu-lhes propor uma interpretação alternativa, também baseada no trabalho do geógrafo israelense Menahem Markus, que já havia sugerido que o que Aharoni e Rothenberg encontraram eram na verdade duas estradas separadas.
Sobre a importância da descoberta
“Quando começamos nosso trabalho, percebemos que o local provava que havia duas estradas porque Gorer fica exatamente na interseção entre elas”, disse Sasson.
O sul do deserto da Judeia apresenta vários locais e fortalezas que datam da Idade do Ferro e que parecem estar ligados por estradas. Acredita-se que a estrutura em Gorer tenha cerca de 14 por 14 metros de largura, com uma torre de seis por seis metros.
“Era muito pequeno para ser uma fortaleza, era mais como uma torre de vigia avançada”, explicou o arqueólogo. Ele também considerou que o local estava numa posição muito estratégica que dava uma oportunidade única de monitorar os arredores.
“Isso nos mostra que os antigos judeus tinham um conhecimento muito bom da topografia de seu território”, observou. O fato de haver mais estradas para Edom não deveria ser uma surpresa”, disse ao se referir à pergunta que um rei fez ao outro: “Por qual caminho atacaremos?”.
Sayão acredita que a atual descoberta, de que havia mais de uma rota para chegar a Edom, é importante e muito significativa. “Isso mostra o quanto o texto bíblico é exato”, comentou.
“Mais uma vez a arqueologia vem nos ajudar a interagir adequadamente com os relatos bíblicos e trazer luz sobre as relações internacionais dentro do contexto do Israel bíblico”, disse.
O arqueólogo Rodrigo Silva também comentou sobre a descoberta. “Essas duas esquinas no sul de Israel sobre Edom são muito importantes para a arqueologia bíblica, principalmente na questão da datação”, disse ao Guiame.
Rodrigo Silva ensinando a Bíblia, em uma de suas viagens para Israel, janeiro de 2018. (Foto: Reprodução/Facebook/Rodrigo Silva Arqueologia)
Segundo ele, os críticos diziam que o reino de Edom começou em 800 a.C., logo todos os textos que falam dele na Bíblia, eram considerados lendas. “Agora mostraram que o reino de Edom já existia 300 anos antes da data imaginada, e isso começa a abrir um caminho [para provar que a Bíblia está certa]”, concluiu o arqueólogo.