Depois que deixou de liderar uma megaigreja na Califórnia para iniciar um movimento de discipulado nos lares, o pastor Francis Chan mudou drasticamente sua visão sobre o Corpo de Cristo.
Com os anos de ministério, ele entendeu que se a presença de Deus não for o principal atrativo na igreja, a liderança sempre terá que criar outros artifícios para atrair as pessoas.
“Em vez de criar nossas próprias reuniões, nosso chamado é simplesmente colocar Deus em evidência e observar como Ele atrai as pessoas para Si mesmo”, disse Chan em entrevista ao The Christian Post. “Caso contrário, corremos o risco das pessoas que frequentam nossos cultos se apaixonarem apenas por nós”.
Filho de chineses nativos, Chan notou que este é o segredo de mais de 100 milhões de pessoas que hoje fazem parte das igrejas clandestinas na China — “todas foram atraídas por um grupo dedicado à presença de Deus”, observa.
“Me lembro quando eu e minha filha fomos a um culto clandestino na China anos atrás. Os jovens oravam com tanta paixão, clamando a Deus para enviá-los para lugares mais perigosos. Eles estavam realmente esperando morrer como mártires. Eu nunca tinha visto nada assim. Eu ainda não consigo superar a paixão por Jesus que aquela igreja tinha”, o pastor relata.
Chan ficou espantado quando ouviu as histórias de perseguição dos chineses e explicou a eles por que estava tão intrigado. “Eu disse a eles que a igreja [no Ocidente] não era nada daquilo. Não consigo expressar o quanto foi constrangedor tentar explicar que as pessoas frequentam cultos de 90 minutos uma vez por semana em edifícios, e que é isso que chamamos de ‘igreja’”, ele lembra.
“Eu contei como as pessoas mudam de igreja se encontram uma pregação melhor, ou uma música mais emocionante, ou programas mais desenvolvidos para seus filhos. Quando descrevi a vida da nossa igreja, eles começaram a rir. Não foram pequenas risadas — eram gargalhadas. Eu me senti um comediante, mas eu só estava descrevendo a nossa igreja. Eles acharam ridículo que pudéssemos ler a mesma Bíblia e vivêssemos algo tão incompatível”, continua Chan.
Cristãos têm reagido com fé à crescente perseguição na China. (Foto: Reprodução)
O pastor sentiu o mesmo constrangimento quando levou seu amigo da Índia para uma conferência em Dallas, no Texas. “Quando ele ouviu a música e viu as luzes, ele disse: ‘Vocês, americanos, são engraçados. Vocês não aparecem sem um bom pregador ou banda. Na Índia, as pessoas ficam animadas só para orar’”, relata.
“Ele começou a me contar como os cristãos amam a comunhão e como se reúnem em simples reuniões de oração. Eu imaginei Deus olhando para baixo na terra, vendo pessoas de um lado do planeta se reunindo com expectativa sempre que havia oração. Enquanto isso, do outro lado do planeta, as pessoas só aparecem quando há pessoas mais talentosas e uma ‘atmosfera’”, o pastor lamenta.
“É constrangedor. Deveríamos ser melhores do que ‘precisar de uma atmosfera’ em nossas igrejas. Devemos desejar nos encontrar com Deus acima de tudo”, Chan alerta.
Um olhar de esperança
Embora Chan não seja um proclamador do “avivamento”, ele acredita que a igreja está tomando a direção certa e a mentalidade do “cristão consumidor” está desaparecendo através da comunhão.
“Minha intimidade com Deus tem sido ligada à minha conexão com a igreja. Isso é estranho para mim, porque durante anos me senti mais próximo de Deus quando estava longe das pessoas e sozinho na sala de oração. Pela primeira vez, eu me sinto mais perto de Deus enquanto oro com a minha família da igreja. É como se eu pudesse sentir a presença real Dele na sala conosco”, afirma o pastor.
Em mais de 30 anos de ministério, Chan se arrepende por ter priorizado suas próprias tradições e métodos para crescimento da igreja. “A igreja é um assunto tão sagrado, mas nem sempre tratei a igreja assim. Passei anos fazendo ‘tudo o que funciona’ para chamar a atenção das pessoas. Nos últimos anos, passei tempo chorando na presença de Deus, confessando minha arrogância”, confessa.
“Vinte e cinco anos depois de fundar a primeira igreja (Cornerstone), fico me perguntando: ‘Quem se importa com o que o Francis Chan quer?’”, questiona. “Quanto mais envelheço, mais estou consciente de que o fim está próximo. Não há tempo para se importar com o que eu quero na igreja. Não há tempo para se preocupar com o que os outros estão procurando em uma igreja. As advertências no Apocalipse são reais e precisamos levá-las a sério. Mais e mais, sua mensagem tem sido ‘se arrependa’. Jesus está chegando. Nós devemos ser urgentes sobre as coisas eternas”.