Uma igreja metodista na Califórnia apresentou um presépio representando Jesus, Maria e José como refugiados presos em gaiolas. A CBS Los Angeles relatou que a exibição na Igreja Metodista Unida de Claremont está alimentando um debate relacionado às políticas de separação, usadas governo Trump, na fronteira sul dos EUA.
A exposição mostra figuras clássicas do natal, como José, Maria e o menino Jesus, separados, cada um em uma gaiola e tenta colocá-los como "refugiados".
A Rev. Karen Clark Ristine, que diz que ficou "emocionada" com a exposição, diz que a igreja usa seu presépio anual para enfrentar uma questão social, como a população de rua do sul da Califórnia.
Em uma declaração publicada no Facebook, Ristine contou a história da Bíblia de Jesus, Maria e José.
Ristine então perguntou: "E se esta família buscasse refúgio em nosso país hoje? Imagine José e Maria separados na fronteira e Jesus com menos de dois anos tirados de sua mãe e colocados atrás das cercas de um centro de detenção da Patrulha de Fronteira com mais de 5.500 crianças nos últimos três anos. Jesus cresceu para nos ensinar bondade, misericórdia e uma recepção radical de todas as pessoas".
Ristine disse que um presépio mais tradicional está sendo exibido dentro da igreja, que serve uma congregação de cerca de 300 pessoas.
O governo Trump enfrentou grandes críticas por cumprir uma lei já instituída pelo governo Obama, que visava impor duras penas a imigrantes que tentassem entrar ilegalmente nos EUA. Essas penas implicavam inclusive em prisão, o que levaria à separação dos adultos de crianças e, por consequência, pais e filhos. Logo após a polêmica, Trump ordenou o fim da prática em 2018.
A igreja exibiu outras cenas controversas de presépios no passado. Em 2014, o presépio retratava uma Virgem Maria sem-teto em um ponto de ônibus com o recém-nascido Menino Jesus enrolado em estopa. Exibições em anos anteriores chamaram a atenção nacional e algumas foram vandalizadas, como a exibição de 2011 de um casal heterossexual e gay. Em 2013, a exposição mostrava na manjedoura Trayvon Martin, um garoto negro que foi assassinado na Califórnia.
Contextualização
Fato é que a comparação do contexto do nascimento de Jesus à situação refugiados - e sobretudo dos imigrantes ilegais - é contestada por muitos teólogos e outros pesquisadores.
Para escritor, pesquisador, analista político, palestrante e tradutor Flavio Morgenstern, não tinha como Jesus ser um refugiado no conceito moderno do termo, pois apesar de não ter nascido na terra de seus pais, ainda continuava sob domínio do império romano, mesmo estando em Belém.
"Jesus nasceu durante uma viagem de seus pais para o recenseamento proposto por Herodes. Graças a isso, acabou nascendo em Belém, ao invés da terra natal de Maria, que era Nazaré. José, que era da linhagem de Davi de Belém, precisou realizar o censo naquele povoado. Seria de uma esquisitice atroz supor que 'refugiados' modernos são contados pelo censo exatamente de onde nascem", afirmou.
"Ao invés de tentar aprender um cenário complexo como o Oriente Médio bíblico através de frases isoladas de jornal (ainda que do Vaticano), todo o cuidado é pouco ao lidar com tal tema. Para começar, porque o próprio Egito também fazia parte do Império Romano (um espanhol que fuja de seu país para a França dificilmente seria hoje chamado de 'refugiado')", destacou.
Morgenstern também explicou que Jesus e seus pais só poderiam ser classificados como refugiados "no sentido mais stricto e não-político (e muito menos moderno) do termo: a família de Jesus fugiu da Judéia, e portanto estava, de certa forma, 'refugiada".
Apesar disso, se fosse nos dias atuais, não seria o caso de enjaular, pois como José era da linhagem de Davi, de Belém, não teria problemas para entrar no país.