As raízes judaicas do cristianismo foram observadas por um estudioso formado na Universidade Hebraica, em Israel, que ensinou literatura bíblica por mais de trinta anos na Universidade Oral Roberts, nos Estados Unidos. A pesquisa do Dr. Brad H. Young foi transformada em uma nova tradução da Bíblia, chamada de Novo Testamento Bíblico da Herança Hebraica.
“Em vez de empregar a técnica de tradução padrão, simplesmente selecionando a palavra em inglês mais apropriada para o grego, fiz a pergunta: qual é o pensamento hebraico e as palavras que sustentam o texto grego?”, disse Young ao site Jerusalem Post.
Usando este método, a tradução resgata a linguagem e mentalidade hebraica por trás da igreja primitiva. “Os leitores agora saberão o que os ouvintes do primeiro século na antiga Israel teriam ouvido, porque a tradução traz à luz o ambiente judaico cultural, linguístico e espiritual de Jesus como um judeu”, explica Young.
De acordo com a pesquisadora Tricia Miller, que possui um PhD em Bíblia Hebraica e atualmente trabalha no departamento cristão do Comitê de Precisão em Relatórios do Oriente Médio na América (CAMERA, na sigla em inglês), muitos textos cristãos foram mal utilizados ao longo dos séculos para “incitar o antissemitismo”.
“Muitas vezes, as passagens bíblicas foram tiradas do contexto”, disse ela. “Traduções e comentários de grande influência às vezes omitem as dimensões judaicas dos textos antigos, deixando de fora a fé e as práticas judaicas que formaram o contexto para o crescimento do cristianismo na Judeia e Samaria do primeiro século”.
“Em contraste com outras traduções, esta nova versão enfatiza o crescimento do cristianismo na época e lugar onde a fé nasceu”, disse Miller.
Na tradução de Young, os textos cristãos que muitas vezes foram mal interpretados para promover o antissemitismo e a deslegitimação do Estado de Israel podem agora ser entendidos em seu contexto histórico preciso.
“A tradução de Young enfraquece o uso indevido antissemita das escrituras cristãs”, disse Miller. “Em uma época de crescente antissemitismo, sua tradução é uma conquista muito importante”.
Erros históricos
Um dos exemplos mencionados por Miller é que muitos acadêmicos ainda usam mal o termo “Palestina” ao situar a localização de Jesus no primeiro século. “A antiga Israel não era chamada de Palestina durante a vida de Jesus”, disse ela. “Os romanos introduziram o termo quando derrotaram a Revolta de Barcoquebas no segundo século, cerca de cem anos após a morte de Jesus.”
Os colonialistas romanos inventaram a palavra “Palestina” para insultar a população judia nativa com a memória de seus antigos inimigos, os filisteus, afirmou Miller.
“Muito depois de Jesus, os romanos substituíram o nome 'Judeia' - que obviamente não se refere apenas aos judeus, mas também foi o nome usado durante o ministério de Jesus”, explicou Miller.
A pesquisadora observa que a aplicação incorreta da terminologia romana tem repercussões políticas até hoje. “Ativistas anti-Israel estão explorando essa designação romana para alegar falsamente que Jesus não era um judeu, mas sim um 'palestino', uma designação que não teria significado para um judeu do primeiro século como Jesus”, disse Miller.
Por isso, ela acredita que a Bíblia da Herança Hebraica pode desfazer todos os argumentos “daqueles que agora tentam negar as origens espirituais e culturais de Jesus, em seus esforços para minar o apoio cristão ao Estado de Israel”.
O projeto de tradução da Bíblia ainda não foi concluído.