Organizações cristãs na Europa são listadas como ‘extremistas’ por não defender aborto

Um documento do Parlamento Europeu se refere a cristãos e conservadores como “antidemocráticos” e “enganadores de mulheres e jovens”.

Fonte: Guiame, com informações de Evangelical FocusAtualizado: quinta-feira, 15 de julho de 2021 às 15:42
Manifestantes protestam contra lei que limitou o direito ao aborto na Polônia. (Foto: AFP/Wojtek Radwanski)
Manifestantes protestam contra lei que limitou o direito ao aborto na Polônia. (Foto: AFP/Wojtek Radwanski)

Um documento publicado por uma coalizão pró-aborto, de membros do Parlamento na Europa, apontou as organizações cristãs como “extremistas religiosas” e disse que elas são “inimigas dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres” no continente.

Lembrando que os termos “direitos sexuais e reprodutivos” se referem ao aborto e são usados para amenizar a violência do ato que é considerado como “assassinato de vidas inocentes” pelos defensores pró-vida.

O relatório intitulado “A ponta do iceberg” de 108 páginas, foi produzido pelo Fórum Parlamentar Europeu para os Direitos Sexuais e Reprodutivos (EPF) para “pintar um quadro transnacional do sistema de financiamento clandestino que apóia a deliberação dos atores anti-gênero, estratégia para retroceder os direitos humanos na Europa”. 

O movimento “anti-gênero” apontado no relatório se refere aos grupos defensores pró-vida e pró-família, ou seja, pessoas que defendem crenças bíblicas sobre o casamento entre homem e mulher e constituição familiar de acordo com os preceitos divinos.

O documento foi publicado apenas dois dias depois de uma lista negra semelhante na Argentina. Os grupos-alvo incluem o Movimento Político Cristão Europeu e a ADF (Alliance Defending Freedom), uma associação que atua em nome dos cristãos perseguidos.

Aborto como um ‘direito humano’

A publicação do documento aconteceu em 15 de junho, uma semana antes de o Parlamento Europeu votar o polêmico relatório Matic, que promove o aborto como um “direito humano” em toda a União Europeia.

O documento identifica 54 “atores anti-gênero operando na Europa” e enfatiza especificamente como “extremistas religiosos de mentes semelhantes” que ajudaram “na ascensão do ultraconservadorismo”, desde 2009.

França, Itália, Alemanha, Espanha e Polônia são identificados como os países europeus onde as organizações pró-vida e pró-família têm maior apoio e solidez financeira, mas o documento também tenta provar ligações de grupos conservadores europeus com grandes doadores dos Estados Unidos. 

Católicos e ‘comunidades protestantes minoritárias’

O documento dedica uma seção para falar sobre o “dinheiro obscuro da direita cristã dos Estados Unidos” e também fala sobre uma “chuva de rublos do Oriente” (referindo-se à influência ortodoxa da Rússia).

O documento, escrito por Neil Datta, secretário da organização em Bruxelas, diz que os atores estatais na Europa “enganam as mulheres” e “doutrinam os jovens” para “limitar os direitos das mulheres e o público LGBT”.

Redes católicas, grupos ortodoxos orientais e “comunidades protestantes minoritárias” são apresentadas como a base religiosa que alimenta a mobilização anti-gênero na Europa.

Organizações cristãs na lista negra

Entre as organizações apresentadas no polêmico documento como uma ameaça aos direitos das mulheres na Europa está o Movimento Político Cristão Europeu (ECPM), uma plataforma que reúne deputados do Parlamento Europeu e partidos cristãos convictos. 

Em uma entrevista em 2018, o Diretor Geral da ECPM, Auke Minnema, disse: "Os cristãos devem estar na política por causa de impacto, não por poder". Em resposta ao Evangelical Focus, o ECPM disse que “não reagiria a este relatório”.

Além disso, a ADF na Europa é frequentemente citada como um ator importante na área de advocacia legal. Reagindo ao relatório, Adina Portaru, Conselheira Sênior na Europa, disse ao Evangelical Focus. “Enquanto apoiamos o debate aberto e a discussão sobre os tópicos relacionados ao nosso trabalho, o Fórum Parlamentar Europeu para os Direitos Sexuais e Reprodutivos (EPF) tem procurado encerrar conversas sobre direitos humanos por meio de uma campanha de difamação direcionada”.

Adina Portaru acrescentou: “ADF International é uma organização de direitos humanos que protege as liberdades fundamentais e promove a dignidade inerente a todas as pessoas. Defendemos as minorias religiosas perseguidas em todo o mundo e apoiamos o direito à vida”, disse.

“Nossa campanha 'Vanishing Girls' no sudeste da Ásia, por exemplo, defende as meninas contra a discriminação baseada no sexo, tanto antes quanto depois do nascimento”, continuou. 

“Todo o nosso trabalho para os clientes é pro bono [gratuito]. Recebemos recursos de doadores privados que acreditam na nossa visão”, resumiu. 

Outros grupos com uma visão de mundo bíblica mencionados na lista negra do EPF incluem o Christen Unie (um partido político com 5 cadeiras no parlamento holandês) e a Organização Evangelística Billy Graham.

O EPF publicou este documento em junho, o conhecido mês da conscientização LGBT, admitindo em um comunicado de imprensa que estava sendo tornado público antes do “primeiro Relatório do Parlamento Europeu”, especificamente dedicado a toda a gama de saúde e direitos sexuais e reprodutivos em quase 10 anos.

O relatório Matic foi aprovado pelo Parlamento Europeu em 23 de Junho, para promover o “aborto gratuito e legal” sem barreiras.

Entre as duas dezenas de grandes organizações listadas como doadoras do EPF estão: a Organização Mundial da Saúde, o Fundo de População das Nações Unidas, a Comissão Europeia, a Federação Internacional de Planejamento Familiar e as Fundações de Sociedade Aberta.

Vale citar que os “atores anti-gênero” na Europa, os conservadores, padres, pastores evangélicos, igrejas e organizações cristãs foram citados como “antidemocráticos”.

 

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