Em seu artigo mais recente, publicado ontem (12) pelo jornal Gazeta do Povo, o colunista Franklin Ferreira, que também é pastor e professor de teologia, alerta para a forma como a Igreja tem sido tratada em tempos de pandemia. No Brasil, segundo ele, Igreja e Estado sempre se relacionaram de forma saudável, ao que chama de “laicidade colaborativa”.
Essa colaboração, no entanto, parece não estar funcionando tão bem durante o período que exige restrições para o combate da Covid-19. “Do ponto de vista jurídico, o fechamento de igrejas é inconstitucional, pois a liberdade religiosa é assegurada pela Constituição”, defendeu.
Para o pastor, o Supremo Tribunal Federal (STF), não respeitou esse princípio fundamental de liberdade religiosa e de culto, e resolveu relativizar um artigo que é cláusula pétrea da Constituição Federal.
Para Franklin Ferreira a Igreja pode colaborar com o Estado durante a pandemia. (Foto: Reprodução Facebook)
A Igreja em tempos de pandemia
Judicialmente, ficou decidido que o Estado pode, em razão da pandemia de Covid-19, restringir o culto — mas nunca proibi-lo. “Deve haver limites às limitações. Proibir a liberdade de culto é a negação da preservação do conteúdo e do núcleo essencial da primeira das liberdades”, comentou.
Franklin destacou que “a pandemia não pode ser elevada à categoria de poder constituinte originário” e citou a luta de líderes cristãos para garantir que eventos religiosos sejam classificados como um tipo de serviço essencial em nosso país.
Ao apontar para alguns conceitos sobre o que realmente é a igreja, o pastor alerta para alguns perigos atuais. Se as pessoas somente falarem que “a igreja somos nós” e que é possível ser crente sozinho, corremos o risco de perder a liberdade de culto sob determinadas circunstâncias.
“Esquecem ou ignoram que, de acordo com a Escritura Sagrada, a igreja, que faz parte do Reino de Deus, é o conjunto de fiéis a Cristo reunidos, chamados de: santuário de Deus, povo de Deus, templo do Espírito Santo, eleitos de Deus e corpo de Cristo”, lembrou.
Ele resume o assunto dizendo que “a comunhão com o Senhor também é a comunhão com os irmãos”. Citando os reformadores, Franklin reforça que “a igreja cristã é definida como a comunidade de fiéis que se unem para ouvir a Palavra e receber os Sacramentos, e estas são as marcas características da verdadeira igreja”, disse.
“A crise de saúde que passamos, e que deveria ser encarada como um tempo de deserto e lamento, obrigou muitas igrejas a se reconfigurar", apontou e lamentou a falta de reflexão bíblica sobre o que é, de fato, igreja, comunhão, pregação e culto.
Conflitos entre Igreja e Estado
“Diversas igrejas no país têm contribuído para amenizar o sofrimento das pessoas por meio do fornecimento de cestas básicas, itens de higiene, roupas, pagamento de contas e cuidado pastoral”, lembrou.
“Parece que o governador de São Paulo não levou isso em conta. Antes, João Doria transformou as igrejas em um problema a ser resolvido com uma ordem, mandando fechá-las”, disparou citando um dos estados onde a Igreja enfrenta essa crise. “Na organização da sociedade brasileira, o Estado pode esperar não apenas que a igreja coopere para o bem comum, como também pode chamá-la como parceira para tal”, continuou.
O pastor lembra que, ao mesmo tempo em que as igrejas devem permanecer fechadas, foi permitido o retorno dos jogos de futebol no estado de São Paulo. “Estranhas prioridades governamentais, para uma população que enfrenta o ‘vale da sombra da morte’”, ressaltou.
“Os cristãos, na verdade, são tratados como crianças inconsequentes, que precisam ter sua liberdade de culto suspensa por serem crianças desobedientes e imprudentes. E, assim, o STF entregou todos os cristãos do país ao arbítrio de governadores e prefeitos, abrindo sinistro precedente para a fé cristã no país”, denunciou.
Ele observa que, durante o julgamento, o que se viu foram os ministros do STF definindo o que é a fé cristã e os limites do exercício religioso nesta pandemia. “Para o STF, a igreja deve se portar como uma mera ONG. Portanto, o que agora está em jogo é se a igreja cristã tem poder para definir sua prática de fé, mesmo na pandemia, ou se o Estado tem o direito de definir pelos cristãos como as igrejas devem proceder”, concluiu.