Para o teólogo Albert Mohler, presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, a cirurgia vista como um “divisor de águas” para a medicina moderna — que transplantou um coração de porco para um humano — é mais ameaçadora do que promissora quando vista sob um olhar bíblico.
“Estamos falando de xenotransplante, ou seja, o transplante de uma espécie para outra. Estamos falando de algo que é realmente ameaçador, mesmo que pareça promissor”, alertou.
“A parte ameaçadora vem do fato de que quando você está falando sobre espécies diferentes, você está falando sobre diferentes genomas, diferentes estruturas genéticas”, apontou.
Sobre o transplante do coração de porco
A cirurgia experimental que ocorreu no dia 7 de janeiro, nos Estados Unidos, que salvou a vida de David Bennett, 57, no Centro Médico da Universidade de Maryland, até agora foi considerada como bem sucedida, embora o paciente esteja em observação.
Dr. Bartley Griffith e o paciente, David Benett, que recebeu um transplante de coração de porco. (Foto: Divulgação/University of Maryland)
Os médicos deram a ele o coração de porco “geneticamente modificado”. Esse é justamente o detalhe que preocupa o pastor Mohler. A mudança genética colaborou para que o corpo de Bennet não rejeitasse o novo órgão.
“Até o mundo secular reconhece o perigo de transmitir traços geneticamente alterados”, ele escreveu.
“O ser humano foi feito à imagem de Deus”
Conforme reforça o pastor: “O ser humano não é apenas um mamífero mais desenvolvido do que o porco, o ser humano foi feito à imagem de Deus”, escreveu em seu blog.
Para Mohler, se essas diferenças não são levadas em conta e se são superadas até nas questões éticas, apenas para que as pessoas tenham órgãos de porcos “realmente é um divisor de águas”, mas não é positivo como muitos acreditam ser.
Por outro lado, é diferente a visão das pessoas que estão à frente dessa batalha há anos, tentando resolver a questão da escassez de órgãos para salvar milhares de vidas, que aguardam em enormes filas, para realização de um transplante.
Como no caso do Dr. Muhammad Mohiuddin, diretor científico do programa de transplante de animais para humanos da Universidade de Maryland. “Se isso funcionar, haverá um suprimento infinito desses órgãos para pacientes que estão sofrendo”, ele disse.
Dr. Muhammad Mohiuddin. (Foto: Captura de tela/University of Maryland School of Medicine)
O líder batista adverte contra a ciência médica que está colocando em perigo o genoma humano. “Não há uma proibição bíblica clara contra a ideia de usar tecidos ou órgãos animais”, disse ao exortar, ao mesmo tempo, que pelo entendimento bíblico, não é correto colocar o genoma humano em risco.
“Isso prejudicaria as gerações futuras”, disse ainda. “Oramos para que o Sr. Bennett fique bem, mas também oramos para que nossa sociedade pense sobre isso tudo e sobre o que está em jogo. “Precisamos pensar sobre o que ‘pode’ ser feito e o que ‘deve’ ser feito. São duas questões muito diferentes”, ele resumiu.
E a proteção aos animais?
Quando se fala em xenotransplante, há mais questões éticas em jogo. Além dos riscos para o paciente, existe também a questão do genoma humano, a dúvida sobre estar violando o projeto de Deus e também tem a questão dos animais.
A cirurgia feita em Bennet com o coração de porco reacendeu o debate sobre o uso de animais para transplantes humanos. A prática é severamente criticada por grupos de direitos dos animais.
De acordo com uma reportagem da BBC News, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), condenou o transplante de coração de porco de Bennett como “antiético, perigoso e um tremendo desperdício de recursos”.
“Os animais não são galpões de ferramentas para serem invadidos, mas seres complexos e inteligentes”, disse a PETA. Os ativistas dizem que é errado modificar os genes dos animais para torná-los mais parecidos com os humanos.
Momento da cirurgia para o transplante de coração de porco. (Foto: Divulgação/University of Maryland)
Cientistas alteraram 10 genes no porco cujo coração foi usado para o transplante de Bennett para que não fosse rejeitado por seu corpo. O porco teve seu coração removido na manhã da operação.
Um porta-voz do Animal Aid, um grupo de direitos dos animais com sede no Reino Unido, disse que se opõe à modificação de genes animais ou xenotransplantes “em qualquer circunstância”.
“Os animais têm o direito de viver suas vidas, sem serem geneticamente manipulados com toda a dor e trauma que isso acarreta, apenas para serem mortos e seus órgãos extraídos”, disse a organização.
Alguns ativistas estão preocupados com os efeitos desconhecidos a longo prazo por conta da modificação genética realizada para os procedimentos.