
Essa distinção precisa ser mantida principalmente dentro do “arraial denominacional,” onde as Igrejas se unem voluntariamente em torno de algo fundamentalmente inegociável (normalmente resumido em um estatuto) e precisam ser aceitas irmanamente quanto ao que for distintivo em cada congregação local e pertencente à liberdade de cada uma. Ou seja, nos unimos em torno do alvo, e aceitamos a limitação de não impor aos outros o que julgamos certo, ou um melhor caminho. Todavia, tantas vezes, inconscientemente acredito, em assuntos mais flexíveis devido à inexistência de uma clara normatização bíblica, a única resposta que se ouve é a velha inclusão, irrefletida, da tradição dogmatizada e canonizada: “sempre foi assim e por isso deve permanecer como está”.
Isso se aplica a música congregacional. Muitas Igrejas estão com dificuldades no momento de adoração porque o amor que se demonstra no equilíbrio (Rm 14) há muito foi soterrado, às vezes com a própria pá do pastor. Os novos desmerecem a história e o conteúdo da hinódia antiga e a julga como ultrapassada, arcaica, obsoleta, parada e chata. Os velhos, avessos a qualquer mudança de marco, confundido maturação com mundanismo, levantam as mãos contra qualquer mudança ou acréscimo na liturgia do culto ao Senhor. Alguns não se tranquilizam com a simples moldura que a Bíblia apresenta sobre o assunto, querem escolher todas as cores “autorizadas ao uso” e aquelas que não se encaixam no tema. Já alguns outros têm os limites tão extensos que mais parecem um “buraco negro”, onde tudo é permitido desde que seja cristão.
O erro está de ambos os lados. Os mais novos precisam demonstrar amor e condescendência com os mais velhos que, por causa da associação ou falta de reflexão, se atrapalham em seus pensamentos no momento da adoração cantada quando a música é marcada, por exemplo, pela batida do “cajon”. Por outro lado, os velhos precisam se expor ao ensino quanto ao que é prescritivamente bíblico e o que se pode fazer ou não por causa da liberdade. Então surgem os pastores, homens dados por Deus para equipar os cristãos a vencerem a mazela da “infância espiritual permanente (Ef 4).” Digo isso porque a fraco precisa se dispor a aprender com o objetivo de se tornar forte. Não devem se esconder de confrontos sadios sob a máscara de fraqueza, sem a predisposição de aprender a ser forte, aceitando “raquitismo” como prêmio! Mas quando os pastores não fazem isso, as congregações não aprendem a conviver com o diferente sem apresentar ou julgamento ou desprezo pelos outros (Rm 14.3).
Certa vez estava em uma reunião de pastores e o assunto do estudo era o “louvor na sala do Trono.” A exposição de Apocalipse como modelo de louvor foi maravilhosa, feita por um homem muito piedoso, até que finalmente chegou o momento da aplicação. E o pregador compartilhou o processo de escolha das músicas do culto de sua própria congregação. Ele descreveu extraordinariamente o alvo, mas esqueceu o limite. Tropeçou no buraco da ausência do equilíbrio. Ele explicou com voz confiante: “tendo o tema da pregação, escolhemos as músicas de somente quatro fontes: HCC; Salmos e Hinos; Livro de Coros e Voz e Melodia!” Essa aplicação não procedia do ensino. Quando se coloca como regra geral algo fora da “regra final de fé e prática” se comete desequilíbrio bíblico.
Esquecendo de ser bíblico com o que não é bíblico, como é o caso das fontes da hinódia das Igrejas Bíblicas, se estabelece um desdobramento pessoal do entendimento bíblico e confunde-o com uma prescrição bíblica clara. Isso não é ser bíblico! Nada contra os hinários, nós os usamos. Muito menos com a maneira como esse irmão e sua congregação escolhem seus cânticos. Mas essa é a única maneira correta? O quê os torna melhores em si? O velho é bom porque é velho e o novo é ruim porque é novo? Ou é o inverso? O velho é ruim porque é velho e o novo é bom porque é novo? Por amor ao equilíbrio, permitam que os velhos cantem, em voz grave, todo o peso do canto atualmente antigo, ao mesmo tempo em que se alegram porque a geração mais nova está aprendendo a compor e cantar afinada com Bíblia.
Os “salmos, hinos e cânticos espirituais” (Ef 5:18-21; Cl 3:16) dos quais o Apóstolo falou remetem a isso; equilíbrio. Nesse caso entre o que já era aceito para os judeus (salmos), o que fazia jus à nova revelação sobrevinda por Jesus Cristo (hinos), e a progressão da percepção gentia quanto à sua condição por causa da graça (cânticos espirituais). Conseguem perceber o equilíbrio? Nada se perde! O que é velho e bom continua sendo usado. E o novo dever ser redimido ao contrário de perdido. E tudo deve ser usado para incutir a verdade de Deus nos corações e nos encher de Seu Espírito. A Bíblia não estabelece, em lugar nenhum, um padrão litúrgico rígido e muito menos a impossibilidade de uma grande instrumentalização, incluindo a percussão. Ser bíblico deve nos permitir diferenciar os gostos pessoais e percepções particulares da verdade com a clara revelação de Deus e Sua vontade. Mais uma vez o equilibrado conselho de Paulo sobre a dieta permanece: “O que come não despreze o que não come; e o que não come, não
julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.” (Rm 14.3). Os que usam percussão não desprezem os que não usam; e os que não usam não julguem os que usam. Existe um caminho diferente para o “diferente”; o amor que se demonstra no equilíbrio e aceitação.
Então equilibrem todas as cores musicais possíveis, porque todas foram dadas por Deus para convergirem em glória ao Seu Nome, benefício ao Seu povo e expansão do Seu Reino. Afinal esse é o propósito da música (I Sm 18:7; 21:11; 29:5) . Mesclem cânticos contemplativos (lentos) e afirmativos (animados), tons menores e maiores, equilibrem a escala cromática com a pentatônica, usem o stacato e o moderato, cantem a capela e usem todos os instrumentos possíveis, toquem só o piano e usem a percussão, contrabalancem a dissonância e o previsível, o Hinário para o Culto Cristão com os bons cânticos espirituais modernos, Castelo Forte com Acima de Todos. Por amor ao equilíbrio; sejamos bíblicos com o que não é bíblico!
- Tiago C. Albuquerque
fonte: canteasescrituras.com