Enquanto comemora recorde de audiência, a novela Gênesis tem levantado questões bíblicas importantes e inspirado grandes reflexões, principalmente entre os cristãos. Segundo o arqueólogo Rodrigo Silva, é bom que certas perguntas sejam estimuladas, porque as distrações cotidianas tendem a adormecer as dúvidas das pessoas.
“Nada substitui a boa e santa Palavra de Deus, mas a produção da novela está ajudando as pessoas a se voltarem para o conteúdo bíblico. Isso é válido para estimular a reflexão teológica na sociedade, afinal o que é um teólogo senão um ser pensante refletindo sobre Deus?”, questionou em entrevista ao Guiame.
Entre as perguntas está a questão sobre o jardim do Éden. Será que existiu de verdade? É possível localizá-lo na geografia atual? Confira a opinião do arqueólogo.
O jardim do Éden existiu mesmo?
O livro de Gênesis narra fatos ou ficções a respeito desse lugar? Rodrigo Silva, que está atuando como consultor histórico para a Record, disse que “se a história do Éden não fosse verdadeira, então nada na Bíblia faria sentido, porque todo o contexto da salvação se baseia no pecado original que ocorreu num jardim chamado Éden”, declarou.
“A história de Adão parece um tanto estranha ao senso comum – pois não vemos no mundo real, nada que lembre o ambiente edênico que a Bíblia descreve. Mas, isso não quer dizer que não tenha existido de fato”, disse.
É o nome de uma região. Note que a Bíblia especifica que Deus plantou um jardim “no” Éden (Gn 2.8). “E o jardim também passou a se chamar Éden. Quer dizer que a região é maior do que o jardim. Tanto que a Bíblia diz que ‘no Éden existia um rio que irrigava o jardim’. A nascente desse rio não ficava dentro do jardim”, explica.
Rodrigo Silva publicou um vídeo, em seu canal no YouTube, onde dá detalhes sobre questões geográficas a respeito do Éden.
É possível localizar o jardim do Éden a partir das especificações bíblicas?
“Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste; e ali colocou o homem que formara.” (Gênesis 2.8)
“No Éden nascia um rio que irrigava o jardim, e depois se dividia em quatro. O nome do primeiro é Pisom. Ele percorre toda a terra de Havilá, onde existe ouro.” (Gênesis 2.10,11)
O segundo é Giom, que percorre toda a terra de Cuxe (vers. 13), o terceiro é o Tigre, que corre pelo lado leste da Assíria e o quarto é o rio Eufrates (vers. 14).
As pessoas que visitam os países Iraque e Síria, próximo aos rios Tigre e Eufrates se aproximam do local onde foi o jardim do Éden? O arqueólogo esclareceu que, na verdade, hoje em dia, não existe no antigo Oriente Médio um rio que se divide em quatro braços conforme as descrições bíblicas. “O outro problema é que a Bíblia fala de um dilúvio que destruiu toda a terra, isso quer dizer que não ficou nada da geografia pré-diluviana”, disse.
“Mas alguns ainda acham que o jardim do Éden ficava no golfo Pérsico, Turquia, Irã, Pérsia, Etiópia ou até Jerusalém”, acrescentou. “Mas não dá para saber. Alguns estudiosos imaginam que, mesmo com a configuração atual, provavelmente, o local dessa região do Éden estaria no que chamamos hoje de Oriente Médio ou Crescente Fértil”.
A região do Crescente Fértil compreende os atuais estados da Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, bem como partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã. “Sendo assim, não existe uma localização precisa do jardim”, esclarece.
Consequências do dilúvio
Rodrigo lembra que “podemos trabalhar com a ideia de que o dilúvio, como uma catástrofe global, causou a quebra da pangeia [única massa continental], tsunamis, grandes alagamentos e fissuras nas pedras”, o que impossibilitaria que a geografia continuasse a mesma, como na época do Éden.
Outro ponto a ser considerado é que as pessoas têm o costume de rebatizar assentamentos atuais com nomes antigos. “Sendo assim, eu posso entender que aqueles primeiros habitantes da Mesopotâmia, conscientes da condição de seus ancestrais, vindos de Noé, rebatizaram aqueles dois rios, Tigres e Eufrates, porque seus ancestrais contavam sobre eles na época do antigo Éden”, justificou.
“Depois do pecado, Deus apareceu ao povo de Israel, na montanha do Sinai e disse para Moisés fazer um santuário, para que Ele pudesse habitar no meio do povo. Quer dizer que o Éden era um santuário onde Deus habitava no meio do seu povo”, comparou.
O arqueólogo explica que, sem o Éden, Deus então fez um santuário provisório — o tabernáculo. “Depois esse santuário virou um Templo fixo, na cidade de Jerusalém. Talvez, por esse motivo é que muitos judeus entenderam que Jerusalém seria o ‘Éden espiritual’. Mas esse Templo já foi destruído duas vezes”, lembra.
“Deus enviou Jesus — novamente o santuário de Deus no meio do povo, e Jesus foi embora, mas Ele deixou o Espírito”, completou.
O novo santuário de Deus
“E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês.” (João 14.16,17)
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada.” (João 14.23)
Usando essas passagens bíblicas, o teólogo reforça a ideia de que “agora o santuário está dentro de cada pessoa que recebe a Cristo como Salvador.
“Ou seja, através do Espírito Santo, Cristo habita em mim. E quando Ele voltar nas nuvens do céu, com poder e glória, com a Nova Jerusalém, depois do milênio, nós estaremos de novo no jardim do Éden”, esclareceu.
O que faz do Éden um paraíso?
Segundo o arqueólogo, “não é a árvore do conhecimento do bem e do mal, não é a árvore que tem o fruto da vida eterna, nem o rio da água da vida. O que faz daquele lugar um paraíso é a presença constante do próprio Deus”, disse.
“Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus.” (Apocalipse 21.3)
“Quer saber, hoje, onde está o jardim do Éden? Olhe-se no espelho, porque se você entregou sua vida a Jesus e Ele está morando em seu coração, você passa a ser o jardim do Éden nesta terra. Provisório, é verdade, até que o paraíso definitivo venha com Cristo nas nuvens, e possamos para sempre viver com o nosso Senhor, no Éden restaurado”, concluiu.