Já faz alguns anos que a Rússia passou a rotular as Testemunhas de Jeová como “extremistas”. Apesar de uma decisão judicial de juízes russos, em outubro de 2021, que parecia favorecer os religiosos presos, uma nova onda de sentenças causou preocupação entre os defensores dos direitos humanos.
Ficou claro que o governo russo continua com sua repressão anterior contra a denominação. Mais de 80 Testemunhas de Jeová estão agora confinadas na Rússia, algumas aguardando julgamento e outras presas após serem condenadas.
Presos por ler a Bíblia, orar, cantar e participar de cultos
“A USCIRF [Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional] esperava uma decisão da Suprema Corte Russa, proibindo o julgamento contra as Testemunhas de Jeová sinalizando assim uma mudança na política oficial em relação ao grupo”, disse Khizr Khan, um comissário da USCIRF ao Religion News Service.
Mas a decisão não aconteceu. Conforme o defensor da liberdade religiosa, a perseguição do governo russo às Testemunhas de Jeová ganhou impulso renovado na última semana.
Na quinta-feira (20), um tribunal de Seversk condenou Yevgeniy Korotun a 7 anos de prisão, uma Testemunha de Jeová que estava detida desde julho de 2020 e Andrey Kolesnichenko a 4 anos.
Andrey Kolesnichenko. (Foto: Cortesia das Testemunhas de Jeová)
Suas condenações ocorreram um dia depois que Aleksey Yershov, um membro do grupo religioso de 68 anos, foi condenado a permanecer por 3 anos em uma colônia penal.
Korotun, de acordo com as Testemunhas de Jeová, foi acusado com base em gravações ocultas dele conversando sobre a Bíblia. O grupo religioso disse que Kolesnichenko foi gravado por alguém que entregou a gravação às autoridades.
Yershov, também acusado com base em gravações, foi acusado de atividades “extremistas”, incluindo orar, cantar canções religiosas e participar de cultos.
Testemunhas de Jeová na mira do governo russo
“Esse é o maior número de Testemunhas de Jeová atrás das grades desde que a Suprema Corte da Rússia baniu como 'extremista' toda a organização das Testemunhas de Jeová no país”, disse Rachel Denber, vice-diretora da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch.
Em entrevista na quinta-feira, de Moscou, ela falou sobre dezenas de membros presos do grupo religioso. “O fato de que realmente existem pessoas atrás das grades por não fazerem nada além de adorar ou apoiar a adoração a Deus deveria ser impensável em nossos tempos”, ela destacou.
Na Rússia, a condenação por uma acusação envolvendo “lesão corporal grave” tem uma pena máxima de prisão de oito anos; sequestro tem no máximo cinco anos; e uma condenação por estupro leva a uma sentença de três a seis anos.
“O crescente ataque discriminatório contra as Testemunhas de Jeová está colocando um enorme fardo sobre um número crescente de famílias para se sustentarem sem a ajuda de seus maridos e pais, que muitas vezes eram a principal fonte de renda da família”, disse Jarrod Lopes, porta-voz do Testemunhas de Jeová, em um comunicado.
“Esperamos que, em breve, a perseguição insensível às Testemunhas de Jeová na Rússia termine para que as famílias não sejam mais desnecessariamente separadas de seus entes queridos, e que eles possam adorar livremente em seu país de origem, como fazem em mais de 200 outros países”, continuou Lopes.
“Uma grande bobagem”, disse Vladimir Putin
Em 2019, o presidente russo, Vladimir Putin, disse aos defensores dos direitos humanos que as afirmações de que as Testemunhas de Jeová foram classificadas como parte de uma organização destrutiva ou terrorista eram “uma grande bobagem”.
“As Testemunhas de Jeová também são cristãs. Não entendo muito bem por que eles são perseguidos. Isso deve ser analisado”, disse Putin. Porém, desde a época de sua afirmação, nada foi feito.
De acordo com a Portas Abertas, a aprovação da legislação antiterrorismo em 6 de julho de 2016 resultou em uma proibição total das Testemunhas de Jeová no início de 2017.
As restrições trazidas por essa legislação estão afetando cada vez mais os cristãos que não são da Igreja Ortodoxa Russa. Quaisquer conexões que os cristãos na Rússia tenham com igrejas e organizações no exterior estão sob vigilância e limitações crescentes.