Embora a Coreia do Norte seja considerada uma nação irreligiosa, a religiosidade se tornou parte de sua cultura. Seus cidadãos são forçados a adorar Kim Il-sung (o fundador do país e seu eterno presidente), seu falecido filho, Kim Jong-il, e seu neto, Kim Jong-un, atual Líder Supremo do país.
As escolas norte-coreanas são induzidas a “endeusar” ambos os líderes falecidos, pai e filho. Quase todas as músicas, artes e esculturas do país exaltam Kim Il-sung e Kim Jong-il.
“A adoração não é sutil”, disse o autor Ron Boyd Macmillan no livro Fé Que Perdura. “Você pode ver um bando de crianças em idade escolar colocando oferendas aos pés das enormes estátuas douradas dessas figuras, no centro de todas as cidades”.
Enquanto visitou a Coreia do Norte em 1979, o jornalista Bradley Martin notou que há ainda a crença generalizada de que Kim Il-sung “criou o mundo” e de que Kim Jong-il poderia “controlar o tempo”.
Os cristãos são considerados inimigos do Estado por acreditarem em uma autoridade superior à da família Kim. Eles mantêm sua fé completamente em segredo — se descobertos, eles são enviados para um campo de trabalho forçado, assim como faziam os nazistas.
Em meio a 25 milhões de habitantes da Coreia do Norte, a organização Portas Abertas estima que existam cerca de 300.000 cristãos.
Início do cristianismo
Como o Evangelho chegou em um país tão restrito? Através da disposição do missionário galês Robert Jermain Thomas. Em meados do século XIX, nenhum estrangeiro era autorizado a entrar no reino eremita; portanto, ele esperou seu tempo na China.
Em 1866, Thomas se juntou a um navio da marinha mercante norte-americana, General Sherman, que se dirigia a Pyongyang, capital da Coreia do Norte. O missionário levou o maior número de cópias da Bíblia que pôde, com a intenção de encontrar estudiosos que falavam chinês.
Mas ele nunca cumpriu sua missão. Depois de passar o Portão Keupsa sem permissão dos coreanos, o navio foi atacado e todos os tripulantes foram mortos, incluindo Thomas.
De alguma forma, as cópias das Escrituras em língua chinesa conseguiram chegar à costa. As páginas foram encontradas anos mais tarde por um norte-coreano local, que teve a ideia de usar as folhas para pintar as paredes de sua casa. No entanto, a mensagem das páginas se espalhou. Em quinze anos, Pyongyang se tornou um forte centro cristão com cem igrejas.
Hoje, existem apenas quatro igrejas em Pyongyang, e os desertores relatam que elas servem como “peças de teatro”. em uma tentativa de demonstrar a liberdade religiosa para o mundo exterior. Os cristãos são forçados a se reunir em segredo absoluto, muitas vezes em grupos de não mais do que dois ou três.
No entanto, isso não impediu a igreja de crescer. Atualmente, a Portas Abertas realizam o tráfico de Bíblias ilegais para a Coreia do Norte e fornecem alimentos para manter 60 mil fieis. “Igrejas estão sendo plantadas nos banheiros das prisões. A luz de Cristo continua brilhando nos corações de 300 mil irmãos e irmãs, mesmo no lugar mais escuro da terra”, diz a organização.