A crescente direita religiosa na Bolívia, entre católicos e protestantes, vê a saída do ex-presidente Evo Morales como um primeiro passo na transformação do país.
“A glória é de Deus”, declarou o pastor Luis Aruquipa Carlo, líder do Conselho Nacional Cristão em La Paz, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
Aruquipa conta que, nas horas que antecederam o voo de Morales ao México, o esquerdista recebeu um decreto divino: “Faraó, deixe a Bolívia em paz!”
“Acredito que, assim como Deus libertou Israel do faraó do Egito, Ele libertou a Bolívia do faraó Evo”, disse Aruquipa. “A era de Evo está chegando ao fim. E a era de Cristo está nascendo”.
O pastor se tornou uma voz ativa durante a queda de Morales em novembro passado, incentivando os cristãos a orar e protestar.
“[Sob Morales] estávamos nos transformando em uma nação atrasada — as pessoas queriam legalizar o aborto, legalizar o casamento gay, queriam legalizar os satanistas”, afirmou Aruquipa.
Irene Squillaci, uma pastora da cidade de Santa Cruz de la Sierra, também viu um apoio “sobrenatural” à queda de Morales.
“Eu vejo isso como uma batalha entre o bem e o mal”, disse Squillaci sobre a luta entre os opositores e seguidores de Morales. Ela acrescentou que espera que a Bolívia elegerá “um aliado dos princípios em que acreditamos”.
Conservadorismo na Bolívia
Um dos prováveis aliados é Luis Fernando Camacho, um ativista católico que liderou a acusação contra Morales após as disputadas eleições de outubro e invadiu o palácio presidencial da Bolívia com uma Bíblia debaixo do braço para comemorar sua queda.
“Deus voltou ao palácio”, escreveu Camacho, que também é de Santa Cruz, no Facebook . “Para aqueles que não acreditaram nessa luta, digo que Deus existe e agora vai governar a Bolívia para todos os bolivianos!”
Camacho faz parte da maioria católica da Bolívia, que forma cerca de 77% da população. Cerca de 16% são protestantes.
Mesmo sendo evangélico, Aruquipa sugeriu que poderia apoiar Camacho, o chamando de “companheiro de fé”.
“É como Jesus disse: 'Se estes se calarem, as pedras clamarão’. Acredito que ele tenha sido usado como uma pedra para elevar a igreja”, disse o pastor sobre Camacho.
Na última sexta-feira (24), Jeanine Áñez, que é evangélica, anunciou que também concorreria à presidência da Bolívia. Ela tomou posse como presidente interina do país com uma Bíblia e declarou a jornalistas: “A Bíblia volta ao Palácio”.
Embora suas agendas conservadoras se sobreponham a questões como o aborto, não é claro até que ponto as igrejas evangélicas e católicas da Bolívia podem apoiá-la.
Mas durante uma assembleia pública em El Alto, em novembro passado, o pastor Aruquipa foi otimista sobre o momento de transição na Bolívia. “Hoje nasce uma nova República, com novos valores e princípios cristãos e bíblicos”, disse.
“Quando os justos oram, Deus responderá”, disse ele a uma multidão de manifestantes. “Deus precisa de vocês, Deus precisa de nós para transformar a Bolívia. Amém!”