O Prêmio Templeton 2019 foi concedido nesta terça-feira (19) ao físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser que, mesmo sem acreditar em Deus, se dedica a mostrar que a ciência e a religião não são inimigas.
Professor de física e astronomia no Dartmouth College, em New Hampshire, Gleiser, de 60 anos, nasceu no Rio de Janeiro e vive nos Estados Unidos desde 1986. Mesmo sem acreditar em Deus, Gleiser reconhece que o conhecimento humano é limitado.
“O ateísmo é inconsistente com o método científico”, disse Gleiser à AFP. “O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual não tem provas. Mantenho a mente aberta porque entendo que o conhecimento humano é limitado”.
O prêmio é financiado pela Fundação John Templeton, uma organização filantrópica batizada em homenagem ao presbiteriano americano que começou a “buscar provas de atuação divina em todos os ramos da ciência”, segundo o jornal The Economist.
Ele é o primeiro latino-americano a ganhar o prêmio, criado em 1973, e vai receber 1,1 milhão de libras esterlinas, o equivalente a R$ 5,5 milhões — superando o Nobel. A cerimônia de premiação será em 29 de maio, em Nova York.
O físico se concentra em tornar assuntos complexos acessíveis. Autor de cinco livros de língua inglesa e centenas de artigos nos EUA e no Brasil, Gleiser também explora como a ciência e a religião tentam responder a perguntas sobre as origens da vida e do universo.
“A primeira coisa que você vê na Bíblia é uma história de criação”, ele observou. “Seja qual for a sua religião, todo mundo quer saber como o mundo teve início”.
Embora a ciência tenha sua metodologia para explicar a origem do mundo, o físico acredita que as explicações são limitadas. “A ciência pode dar respostas a certas questões, até certo ponto”, apontou Gleiser. “Devemos ter a humildade de aceitar que há mistério ao nosso redor”.
Arrogância científica
Gleiser acha que, muitas vezes, as pessoas que acreditam que o mundo foi criado por Deus encaram a ciência como “inimiga”, “porque elas têm uma visão muito antiquada sobre ciência e religião em que todos os cientistas tentam matar Deus”, observou. “A ciência não mata Deus”.
Para o físico, que cresceu em uma comunidade judaica no Rio, a religião não deve ser afastada da ciência.
“Quando você ouve cientistas muito famosos fazendo pronunciamentos como ‘a cosmologia explica a origem do universo’ e ‘não precisamos mais de Deus’, é um absurdo completo”, acrescentou. “Porque nós não explicamos a origem do universo”.