Em Cuba, o povo demonstrou sua indignação contra o governo comunista, no domingo (11), indo às ruas para protestar sob gritos de “abaixo a ditadura”. Foi um dos maiores protestos na ilha nos últimos 60 anos.
De acordo com o Pew-Templeton (Projeto Religioso Global para o Futuro), os cristãos cubanos (cerca de 59% da população) enfrentam constante vigilância e infiltração do governo, embora a igreja esteja crescendo na ilha.
Em 2019, Cuba proibiu líderes evangélicos de viajarem a Washington, para falar sobre a situação dos direitos humanos durante a reunião ministerial do Departamento de Estado dos EUA sobre liberdade religiosa internacional.
Entre 2019 e 2020, o Departamento de Estado colocou Cuba em sua “lista especial de vigilância” de países que praticam ou toleram violações graves da liberdade religiosa.
Em um relatório de março de 2020, a Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional detalhou como as autoridades cubanas manipularam o sistema legal para “promover o assédio persistente” contra os líderes religiosos. O painel também expressou preocupação com a negação da liberdade religiosa para ativistas de direitos humanos e jornalistas.
O governo cubano emendou sua Constituição em 1992, declarando Cuba um estado laico em vez de um estado ateu, permitindo parcialmente as atividades religiosas.
Desde então, a porcentagem da população do país, que se identifica como cristã, cresceu. No entanto, o regime comunista de Cuba persegue os cristãos. Uma nova constituição foi adotada em 2019, que também lista o país como um estado laico.
Sobre os protestos
Os cubanos estão enfrentando uma intensa escassez de medicamentos e alimentos e essa situação ficou ainda pior depois da pandemia. Esse foi um dos motivos que inspirou o povo a sair pelas ruas.
As restrições a viagens internacionais e os bloqueios por conta da Covid-19, durante vários meses, causaram a maior crise econômica em Cuba.
Os protestos ocorreram nas cidades ao redor do país caribenho, incluindo San Antonio de los Baños, Palma Soriano e Havana. “É a maior manifestação popular de protesto ao governo que vivemos em Cuba, desde 1959, o ano em que Fidel Castro assumiu o poder”, disse a ativista cubana Carolina Barrero, ao New York Times.
Os slogans que as pessoas gritavam incluíam “Sim, nós podemos!” e “Liberdade”, relatou o Washington Post. Os vídeos também surgiram nas redes sociais.
Horas depois do início dos protestos, o presidente Miguel Díaz-Canel se dirigiu à nação em rede nacional, instando os apoiadores do governo a confrontar os manifestantes nas ruas. Ele também aproveitou para acusar os Estados Unidos de causar a crise em Cuba ao impor sanções.
Apoio dos americanos
Funcionários públicos da Flórida, onde vivem muitos migrantes e refugiados cubanos, apoiaram o protesto do povo cubano. “A Flórida apoia o povo de Cuba enquanto ele toma as ruas contra o regime tirânico de Havana”, escreveu o governador da Flórida, Ron DeSantis, no Twitter.
“A ditadura cubana reprimiu o povo cubano durante décadas e agora tenta silenciar aqueles que têm a coragem de se pronunciar contra suas políticas desastrosas”, disse o senador Marco Rubio, da Flórida, um cubano-americano.
Rubio também disse que solicitaria ao presidente Joe Biden e ao secretário de Estado Antony Blinken que “pedissem aos membros do exército cubano que não atirassem em seu povo”.
Segundo Selvia, uma das participantes do protesto, em San Antonio de los Baños, o movimento pede por mudanças no governo. “Isso é pela liberdade do povo, não podemos aguentar mais. Não temos medo. Queremos mudança, não queremos mais ditadura”, ela disse.
Alejandro, outro participante do protesto, em Pinar del Río, disse que viram o protesto em San Antonio e as pessoas começaram a sair às ruas também. “Este é o dia, não aguentamos mais”, disse o jovem. “Não há comida, não há remédio, não há liberdade. Eles não nos deixam viver. Já estamos cansados”, desabafou.
De acordo com a BBC News, em resposta aos protestantes, o presidente Diaz-Canel disse que “está pronto para tudo e que estará nas ruas combatendo”. Suas declarações foram transmitidas pela TV estatal.
“Não vamos admitir que nenhum contra-revolucionário, nenhum mercenário, nenhum vendido ao governo dos Estados Unidos, vendido ao império, recebendo dinheiro das agências, se deixando levar por todas as estratégias de subversão ideológica, desestabilize nosso país”, adicionou.
“Haverá uma resposta revolucionária”, ameaçou ele, conclamando os comunistas a enfrentar os protestos com “determinação, firmeza e coragem”. O apelo do presidente cubano provocou questionamentos entre opositores e nas redes sociais da ilha, que apontaram que ele estava “convocando uma guerra civil”.
As redes sociais da ilha têm servido nos últimos tempos para que os cubanos expressem seu mal-estar com relação ao governo e à situação no país. Os protestos em Cuba são muito incomuns e, quando ocorrem, são reprimidos.
Antes deste domingo, o maior protesto ocorrido em Cuba desde 1959 aconteceu em 1994 em frente ao Malecón em Havana, mas se limitou à capital e apenas algumas centenas de pessoas participaram. Desta vez foram milhares.