O crescente caos em que Mianmar está mergulhado desde o golpe militar de fevereiro levou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, declarar que teme que o país afunde em um conflito generalizado, como a Síria.
Bachelet alertou sobre possíveis crimes contra a humanidade cometidos contra a população pela junta militar que deu um golpe de estado.
"Há ecos claros de 2011 na Síria. Lá também vimos manifestações pacíficas reprimidas com força desnecessária e completamente desproporcional", afirmou Bachelet em um comunicado.
A alta comissária disse que "a repressão brutal e persistente do Estado contra seu próprio povo levou algumas pessoas a pegarem em armas, o que foi seguido de uma espiral de violência em todo país".
"Temo que a situação em Mianmar se dirija para um conflito generalizado. Os Estados não devem permitir que os erros fatais cometidos na Síria e em outros lugares se repitam", afirmou Bachelet.
Repressão e mortes de cristãos
De acordo com informações fornecidas exclusivamente por uma fonte do Guiame, igrejas e pastores têm sido vítimas das repressões violentas. “As igrejas são invadidas quando os militares desconfiam que aqueles que protestam nas ruas se escondem lá”, explica Aun*.
“Esta é a atualização de hoje na cidade de Tamu. O exército feriu pessoas violentamente; um rapaz baleado e ensanguetado estava sem obter ajuda”, disse, apresentando fotos que mostravam poças de sangue pelo chão e pessoas feridas.
Homem baleado durante uma repressão das forças de segurança às manifestações contra o golpe militar em Mianmar. (Foto: Reprodução / AFP)
Os civis estão sendo massacrados. “No dia 10 de abril, cerca de 100 pessoas foram mortas na cidade de Bago”, relatou.
Pastor em uma pequena vila, Aun diz que todos estão com muito medo pois tropas militares estão próximas do local. “Também temos medo, porque os militares estão em nossa cidade mais próximo de nós agora e podem chegar aqui a qualquer momento”, disse.
Outra preocupação é com a falta de alimentos. “Agora não temos nem 1 dólar. Por causa do golpe militar estamos sem dinheiro. Não tenho nada para alimentar meu filho”, preocupa-se o pastor, pai de uma criança de 2 anos.
Ele conta que há notícias de “um pastor que foi preso em 7 de abril e ainda não se sabe se os militares o liberaram ou não”.
“Por favor, ore por minha família, hoje em dia enfrentamos problemas financeiros. Então ore por nós”, apelou. “Podemos estar mortos a qualquer momento, mas confiamos em Deus”, declarou.
Golpe militar
Mianmar vive uma onda de protestos e de repressão violência contra manifestantes desde o golpe militar de 1º de fevereiro, que derrubou o governo eleito e prendeu o presidente do país, Win Myint, e a prêmio Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi.
Levantamento Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP) aponta que a repressão aos protestos já deixou mais 700 mortos em Mianmar, incluindo 50 crianças. Cerca de 3 mil pessoas foram presas.
Tropas militares nas ruas de Mianmar. (Foto: Reprodução / Mianmar)
Os generais que tomaram o poder reprimem cada vez mais o movimento pró-democracia, que levou milhares de birmaneses às ruas e deflagrou greves em diversos setores da economia.
"Os militares parecem determinados a intensificar sua impiedosa política de violência contra o povo birmanês, usando armas potentes e de modo indiscriminado", lamentou Bachelet.
A alta comissária da ONU afirmou que 23 pessoas foram condenadas à morte em julgamentos secretos, sendo quatro manifestantes, e os golpistas têm usado granadas de fragmentação, morteiros e ataques aéreos contra civis.
*Nome fictício por medida de segurança.