Exclusivo: “Estamos em perigo”, diz pastor de Mianmar sobre massacre militar no país

Pastor birmanês fala ao Guiame com exclusividade sobre situação da igreja durante golpe militar.

Fonte: Guiame, Adriana BernardoAtualizado: segunda-feira, 29 de março de 2021 às 14:50
O prédio da igreja, inclinado após uma tempestade; Pr. Joseph, esposa e filha. (Foto: Reprodução / Pr. Joseph)
O prédio da igreja, inclinado após uma tempestade; Pr. Joseph, esposa e filha. (Foto: Reprodução / Pr. Joseph)

Os conflitos políticos em Mianmar após o golpe militar para a tomada de poder em fevereiro está gerando violência e morte no país. As ações afetam dramaticamente as igrejas, que estão isoladas e proibidas de realizar cultos, além de muitas delas sofrerem invasões, como a ocorrida em 28 de fevereiro, quando a Igreja Batista Kachin (KBC) em Lashio, estado de Shan, teve seus portões arrancados.

Em entrevista exclusiva ao Guiame, o Pr. Joseph*, de 28 anos, declarou sua tristeza com o que está acontecendo em Mianmar, onde mais de 160 pessoas morreram, no domingo (28), em meio a protestos contra o atual governo.

“É muito triste ouvir a atualização de hoje sobre o que está acontecendo em Mianmar, as pessoas estão morrendo. Mais de 160 morreram em meu país hoje por tiros”, lamentou o pastor birmanês.

Mianmar é a antiga Birmânia, um país do Sul da Ásia que alimenta um nacionalismo religioso muito forte. A ênfase para o povo birmanês, em questão de fé, está no budismo, e isso acaba impulsionando a perseguição aos cristãos.

O pastor explica que Mianmar é formado por 7 estados e 7 divisões, “alguns onde é fácil pregar o Evangelho, mas na maioria dos lugares é muito difícil de pregar o Evangelho porque as pessoas são budistas”.

A entrevista foi feita em dois dias, com respostas do pastor em 'conta-gotas', devido à dificuldade com os sinais de internet no país, que têm sido cortados frequentemente pelas forças que dominam Mianmar. Os riscos, segundo o pastor, são grandes para aqueles que tentam se comunicar.

“Apaguei uma foto que tinha sobre a crise política. A razão é que nossa milícia prendeu pessoas que tinham essa foto”, explicou ele, quando perguntado sobre o panorama político no país.

Cultos secretos

As igrejas não têm sido poupadas, o que dificulta a realização dos cultos. “Os militares não nos permitem fazer cultos agora”, informa Joseph, dizendo que as atividades da igreja estão acontecendo secretamente. “Eu não posso ir a qualquer lugar, mas continuamos fiéis a Deus e prestando cultos secretamente”.

Joseph nasceu em Myanmar em 1993, e conta que aos 13 anos entregou sua vida a Jesus. Atualmente ele pastoreia um pequeno grupo de pessoas, exatamente 31 membros, em uma vila afastada.

“Como eu estava pastoreando em uma pequena vila que fica longe da cidade, ainda podemos ter culto, mas certamente não estamos seguros, corremos perigo”, diz.

“Eu oro a Deus e espero que possamos ter cultos livres muito em breve”, diz Joseph que é pastor há três anos, e agora trabalha para reconstruir sua igreja, que sofreu danos devido a fortes tempestades. Os membros se uniram para fazer tijolos para construir a igreja, atualmente feita de madeira e que inclinou após uma forte tempestade.

Pr. Joseph e membros da igreja amassam barro para fazer os tijolos. (Foto: Reprodução / Pr. Joseph)

Casado e pai de uma menina, Joseph agradece às orações da Igreja brasileira por Mianmar: “Quero deixar uma palavra de agradecimento àqueles que no Brasil sempre oram por Mianmar. Por favor, continuem orando por nós para que possamos servir livremente ao Senhor. Obrigado mais uma vez por orar por nós”.

“Eu quero que todos no Brasil sejam fiéis nas dificuldades porque Jesus virá um dia e nos recompensará”, finalizou o pastor birmanês.

Tijolos prontos para a obra na igreja. (Foto: Reprodução / Pr. Joseph)

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