Na última terça-feira (19), o juiz José Antônio Coitinho, da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Porto Alegre, negou o pedido que exigia a interdição da peça teatral "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu".
A peça está está sendo apresentada durante o 24º Porto Alegre Em Cena, evento cultural realizado na capital gaúcha. No enredo, a atriz transexual Renata Carvalho apresenta um monólogo, no qual interpreta Jesus como estando na pele de um homem que decidiu se tornar mulher. O roteiro foi escrito pela dramaturga (que também é transexual) e hoje adota o nome artístico de Jo Clifford.
Segundo o juiz, "não seria preciso citar a lei" para garantir que a peça seja liberada.
"E, sem citar um único artigo de lei, vamos garantir a liberdade de expressão dos homens, das mulheres, da dramaturga transgênero e da travesti atriz, pelo mais simples e verdadeiro motivo: porque somos todos iguais", determinou o juiz na sua sentença.
O magistrado afirmou ainda no texto de sua decisão: "Não se pode censurar a peça sob argumento de que estamos em desacordo com seu conteúdo. A liberdade de expressão tem de ser garantida e não cerceada – pelo Judiciário. Censurar arte é censurar pensamento e censurar pensamento é impedir desenvolvimento humano".
O pedido para para que houvesse uma intervenção judicial sobre a peça foi movido pelo advogado Pedro Geraldo Cancian Lagomarcino Gomes contra a Prefeitura de Porto Alegre, que é a responsável pela promoção do festival, e contra a Pinacoteca Rubem Berta, onde a peça está sendo apresentada nos dias 21 e 22 de setembro, às 22h.
Banida
Em Jundiaí (SP), a peça teve um final bem diferente do ocorrido em Porto Alegre. Após uma ação de uma advogada da cidade, a apresentação do monólogo foi suspensa.
A ação da advogada alegou que a peça "vai contra à dignidade cristão, posto apresentar JESUS CRISTO como um transgênero, expondo ao ridículo os símbolos como a cruz e a religiosidade que ela representa".
Neste caso, o juiz Luiz Antonio de Campos Júnior aceitou o argumento da advogada para conceder a tutela de urgência, reconhecendo que não é correto expor figuras religiosas e sagradas ao ridículo e destacou que a peça é de “indiscutível mau gosto”.
“De fato, não se olvide da crença religiosa em nosso Estado, que tem JESUS CRISTO como o filho de DEUS, e em se permitindo uma peça em que este HOMEM SAGRADO seja encenado como um travesti, a toda evidência, caracteriza-se ofensa a um sem número de pessoas”, destacou o juiz.
Além das apresentações em Porto Alegre, a peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" também tem apresentações agendadas para os dias 27, 28 e 29 de setembro em São Paulo.