Na última terça-feira (3), o deputado federal Jean Wyllys afirmou que os "jovens negros evangélicos devem ser disputados por religiões afro-brasileiras como forma de combate à intolerância religiosa". A declaração considerada por diversos internautas (cristãos e não-cristãos) como controversa e contraditória foi dada pelo parlamentar durante uma audiência pública sobre o combate ao preconceito racial, realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
"É preciso proteger as religiões de matriz africana e seus adeptos e, para isso, essa proteção não tem que vir só por lei / de forma legislativa. Isso também tem que acontecer no aspecto cultural. Há muitos negros e negras hoje nas igrejas evangélicas. As igrejas evangélicas hoje nas periferias estão tomadas por pessoas negras. É fundamental que esta juventude negra evangélica seja trazida, interpelada, disputada, para que ela mesma defenda a tolerância religiosa e a pluralidade religiosa", disse.
"Não cabe só às pessoas que estão nas religiões de matriz africana, mas os negros e negras que estão nas igrejas evangélicas precisam ser trazidos e disputados para que a gente crie esse clima de tolerância e de proteção das religiões de matriz africana".
Legalização das drogas
Além da fala sobre questões religiosas, em seu discurso, Wyllys também voltou a se debruçar sobre assuntos que ele julga estarem relacionados ao tema da audiência, como aborto e legalização de drogas.
"Hoje, a guerra às drogas é uma guerra aos pobres e aos negros pobres, em especial. Com a desculpa de guerra às drogas, tem-se ocupado territórios, matado pessoas, inclusive pessoas que não têm envolvimento direto no tráfico de drogas ilícitas e nós temos superlotado as nossas prisões", afirmou.
Clique no vídeo abaixo para conferir:
Contextualização
Ao que tudo indica, o parlamentar que proferiu o discurso no vídeo acima pretende combater a intolerância religiosa com uma disputa entre religiões, sugerindo que os negros que integram a membresia de igrejas evangélicas "estariam no lugar errado" e também combater a criminalidade, legalizando o próprio crime.
De fato, o discurso traz algumas contradições, já que, pelo menos no Brasil, quem opta por se filiar a uma religião (seja ela o cristianismo ou candomblé), ainda o faz por livre e espontânea vontade. A ideia de "disputar jovens negros evangélicos" não parece ser uma solução plausível para combater a intolerância religiosa no Brasil ou em qualquer outro país.