Na última quarta-feira (6), Tiago saiu de São Paulo, onde terminou de fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e seguiu para Londrina, no Paraná. Ele enfrentará outro vestibular na cidade paranaense nesta sexta (8).
O jovem, de 18 anos, está tentando vários processos seletivos para obter vaga no curso de educação física.
A maratona de vestibulares de Tiago seria como a de tantos outros estudantes, se não fosse por um porém: ele cumpre medidas socioeducativas na Fundação Casa, a antiga Febem paulista.
Tiago e outros 12 mil detentos fizeram, nas tardes de terça e quarta-feira (dias 5 e 6), o Enem voltado para presidiários e jovens infratores em todo o país. Ele era interno da Fundação Casa até pouco tempo e atualmente está em regime de liberdade assistida.
Paraná
Desde que saiu da unidade Osasco da fundação, o jovem vive na casa de um parente no Paraná. E, como se inscreveu para o exame quando ainda era interno, teve que voltar para São Paulo só para fazer a prova do Enem.
Tiago quer estudar na UFPR (Universidade Federal do Paraná), mas também tentará uma vaga pelo ProUni (Programa Universidade Para Todos) em universidades particulares. Para as duas alternativas, o Enem é importante ou é a única porta de ingresso.
O adolescente foi detido por tráfico de drogas, mas não gosta de falar nisso. Prefere falar sobre o futuro, em que se vê obtendo o diploma universitário em educação física:
''Sempre gostei de academia, de exercício físico. Quero me formar e trabalhar como personal trainer''.
Exceção
É comum os vestibulandos se sentirem pressionados com o desempenho nas provas. Apesar de sofrer o estresse, Tiago demonstra confiança:
''Me preparei o ano inteiro com apostilas de vestibular. A prova foi bem simples, espero passar em alguma faculdade''.
Infelizmente, Tiago é uma exceção. Segundo a gerente escolar da Fundação Casa, Neuza Ewerton Flores, são poucos os jovens infratores que querem prosseguir com os estudos.
Ainda mais raros são aqueles que conseguem uma bolsa do ProUni: uma média de dois ou três por ano. Apesar desses problemas, ela vê um crescimento no número de inscritos no Enem:
''Este ano, tivemos uma surpresa com o número de inscritos, cerca de 200. Foram menos do que a gente quer, mas muitos em relação ao que a gente esperava''.
Algumas unidades da Fundação Casa oferecem curso pré-vestibular. Neuza afirma que o cenário educacional da instituição deve ter melhorias em breve, mas não faz projeções.
Problemas
Como noticiou o R7, cerca de 200 detentos deixaram de fazer o Enem nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul 27 deles só da Fundação Casa. Faltaram cadernos de prova e fiscais.
O problema aconteceu no primeiro dia de aplicação do Enem nos presídios, na terça-feira (5). No caso da antiga Febem, as provas não foram enviadas para unidades em Franca, Guarulhos, Peruíbe, Ribeirão Preto, Arujá e na capital do Estado.
No município de São Paulo, jovens infratores de pelo menos duas unidades da instituição ficaram sem o exame - em Parada de Taipas (zona norte) e na unidade feminina Chiquinha Gonzaga, localizada na Mooca (zona leste).
Neuza informa que, como o problema ocorreu em cima da hora, não foi possível transferir boa parte dos internos para unidades que receberam os cadernos de exames. A transferência só pode ser feita com ordem judicial, o que demanda tempo.
Houve problema de extravio nas fichas de inscrição dos adolescentes, que foram preenchidas em papel e por isso devem ter se perdido, afirma o MEC.
Uma nova versão do Enem para detentos será aplicada nos dias 13 e 14 de janeiro, de acordo com o ministério. No segundo dia de aplicação do Enem, na última quarta-feira (6), não ocorreram problemas.