A publicação de artigos científicos nas revistas Nature e Science é vista pelos pesquisadores do Brasil como um meio para obter visibilidade, que traz reconhecimento na academia e na mídia e pode facilitar a obtenção de financiamentos e a publicação de textos em outros periódicos de ciência. A pesquisa de doutorado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, realizada pela jornalista Germana Barata, também mostra as estratégias usadas pelos cientistas brasileiros para conseguir inserção nas duas publicações, como a participação em projetos internacionais.
Citação de instituições brasileiras aumentou
a partir da década de 80 do século XX
O estudo contém uma análise histórica da contribuição dos pesquisadores de instituições brasileiras nas revistas Nature e Science, dos Estados Unidos, entre 1936 e 2009. O levantamento aconteceu na base de dados International Science Index (ISI) e na própria coleção das revistas, consultada na biblioteca da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A participação brasileira cresceu ao longo dos anos, com maior aumento do número de citações a partir da década de 80 do século passado, devido a colaboração mais intensa em projetos de pesquisa internacionais. O doutorado teve orientação do professor Gildo Magalhães, do Departamento de História da FFLCH.
Ao todo foram 370 menções na Nature (1937 a 2009) e 254 na Science (de 1936 a 2009). As contribuições após 1990 representam 47% do total na Nature e 66,9% na Science. Nos primeiros anos, a maior participação brasileira acontecia nas áreas de Biologia e Física. A partir da década de 90 do século passado, considerando apenas os textos classificados como artigos, a principal contribuição acontece na parte de Genética, em especial Genômica e biologia molecular.
Ao longo do período analisado, a média de autores brasileiros por artigo permanece estável, variando de dois a três por artigo. No entanto, a partir do final dos anos 80 do século XX, aumenta enormemente o numero de co-autores de outros países, aponta a pesquisadora.
Em artigos mais recentes, é frequente a presença de pesquisadores do Brasil em artigos do tipo mega science, assinados por até centenas de pesquisadores, como em textos sobre genoma. Aproximadamente 70% das contribuições são dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, fato que reflete a tradição científica e o volume de investimentos em ciência e tecnologia realizados nessa região, conta Germana.
Impacto
De acordo com a pesquisadora, o interesse pela Amazônia, sobretudo na Science, leva a veiculação de uma grande produção de pesquisadores do Pará e Amazonas, nas áreas de mudanças climáticas, desmatamento e biodiversidade. O Distrito Federal também tem uma contribuição significativa, devido à Universidade de Brasília (UnB) e órgãos de pesquisa governamentais, aponta.
A jornalista também entrevistou 16 pesquisadores que tiveram artigos publicados, para verificar o impacto na carreira, nos meios acadêmicos e científicos e as estratégias usadas para publicação de trabalhos. A Science e a Nature rejeitam cerca 90% dos artigos enviados, sendo que 75% não chegam a ser avaliados por especialistas, ressalta. Estabelecer parcerias internacionais pode ajudar a facilitar a aprovação, bem como citar artigos anteriores publicados anteriormente nas duas revistas.
Os cientistas almejam a visibilidade que as publicações trazem, embora a pesquisa tenha mostrado que 30% dos artigos não chegam a ser citados em outros textos científicos. Publicar nesses periódicos significa obter o reconhecimento de seus colegas cientistas da Universidade e de sua área de atuação e na mídia em geral, o que passa a funcionar como um passaporte para integrarem uma elite científica internacional, observa Germana. Isso pode representar facilidades para obter financiamento de pesquisas, participação em comitês internacionais e aprovação de artigos em outros periódicos científicos.
Com relação ao conjunto da produção científica individual, a maioria dos pesquisadores entrevistados deu menos importância aos artigos da Science e Nature, pois em muitos casos a participação intelectual no texto é pequena. Há vários casos em que o cientista realizou apenas o procedimento, sem contribuir com a elaboração do artigo, destaca a pesquisadora. O maior atrativo é a visibilidade, mesmo que seja a publicação de uma revisão, comentário ou carta ao editor, que alguns colocam no currículo como artigos completos indexados em periódico internacional. (Agência USP de Notícias)
Mais informações: email germanabarata@usp.br