A Rede Sustentabilidade, partido em fase de consolidação no Brasil, publicou uma nota sobre o plebiscito para a Reforma Política.
A Rede está ganhando notoriedade e voz através da ex-senadora Marina Silva, uma das engajadas na criação e consolidação do partido no país.
Confira na íntegra a nota publicada no Facebook:

As ruas dizem claramente: não será mais assim, não pode continuar sendo assim.
E dizem mais: queremos nos reconhecer nas decisões e nas ações de caráter público, não queremos ser expectadores. É nosso direito compartilhar o poder nas nossas diferenças, angústias, necessidades e expectativas.
Infelizmente, o governo e o sistema político tentam enquadrar essa energia nova e exigente dentro dos rituais da sua própria lógica, em cujo centro está o cálculo para as futuras eleições, não para as futuras gerações. Mas serão frustradas quaisquer medidas que pretendam instaurar processos sob controle dos governantes e do establishment político, que acostumou-se a agir, acima de tudo, em nome de sua própria sobrevivência.
Em suas inúmeras palavras de ordem e demandas, as mobilizações denunciaram o incontestável distanciamento entre as expectativas da sociedade e o que fazem as instituições políticas. Não se trata apenas de uma pauta de reivindicações. Tratá-las dessa maneira é aprofundar ainda mais o fosso dessa separação.
Não dá para que toda a efervescência das ruas caiba em cinco perguntas que a Presidente da República encaminhou ao Congresso como sugestão para realização de um plebiscito. Não podemos nos conformar com medidas pró-forma, habilmente arquitetadas para não mudar, ou pior, mudar para maquiar a continuidade do mesmo controle sobre o sistema decisório.
A reforma de que falamos é uma guinada histórica. Ela não pode ser tratada como a construção de uma cidade cenográfica, vazia por trás das fachadas imponentes. Como dizia o cartaz nas mãos de uma jovem manifestante brasileira: “são tantas coisas que nem cabe”. Ou a faixa esticada em Barcelona, durante as manifestações de 2011: “nossos sonhos não cabem nas suas urnas”. A reforma não pode ser essa ideia de um plebiscito amputado, que pode fazer com que a montanha de energia que vem das ruas acabe parindo um rato. É impensável jogar fora o tesouro de possibilidades que temos para dar um salto histórico na organização do Estado e no rumo de nosso desenvolvimento.
A Rede Sustentabilidade, que nasce numa realidade tão rica, defende a imperiosa necessidade de democratizar radicalmente a democracia, por meio de um novo ordenamento jurídico, econômico e social que sirva de base para um país verdadeiramente sustentável e justo.
Há uma agenda capaz de dar consequência às vozes múltiplas das ruas. Essa agenda passa necessariamente por ampla consulta à sociedade que incorpore estratégias de escuta presencial, como conferências e audiências públicas e também participação virtual, com todo o potencial que a internet oferece de diálogo e articulação de pessoas, redes e movimentos. E que esse processo deságue num espaço novo de reforma política que promova a integração das atuais instâncias de representação política com a participação popular, para identificar e consagrar novas regras para a convergência do sistema representativo com formas inovadoras e efetivas de democracia direta.
Só uma alternativa que incorpore – sem tergiversar – a voz que ecoou nas ruas pode representar avanço nessa direção, possibilitando o surgimento de temas novos, fora do controle desse sistema político que queremos reformar. Temas como as candidaturas independentes, para quebrar o monopólio dos partidos políticos sobre a política institucional; o fim da reeleição para os cargos do Executivo; a limitação a dois mandatos no mesmo cargo legislativo; e o fim do foro privilegiado. São essas, entre tantas outras, as ideias que poderiam surgir de um diálogo aberto e amplo com a sociedade.
Chegou a hora da participação de verdade, não do velho jogo de aparências.
É preciso autocrítica sincera e um ajuste de contas proporcional ao déficit de democracia que nos levou a esse momento.