“Onde está o menino que matou o gigante?...” É uma pergunta em meio a outras similares de uma antiga música da Banda Gerd, lembra?
Alguma coisa aconteceu de muito errado com a noiva de Cristo. As últimas décadas só fizeram piorar comportamentos e atitudes. Em linhas gerais, a comunidade dos santos é cada vez mais parecida do que diferente do retrato social, cultural e filosófico vigente.
Sorrateiramente no começo e descaradamente hoje, práticas pra lá de prejudiciais entraram e entram sem nenhuma cerimônia na chamada agenda gospel. Dialogar com a cultura e saber interagir com o que ela tem de bom, é uma coisa, outra coisa bem diferente é ser engolido vivo pela cultura e tudo o que isso represente, seja bom, seja mal.
Exemplos ruins não faltam. A reverência no momento da leitura Bíblica, no sentar e levantar, na boa oração logo ao entrar no templo, foi substituída por irreverência. O zelo e o cuidado espirituais com a própria vida cedeu lugar para um relativismo cínico. O legalismo ruim descambou para um liberalismo ainda pior, deixando a míngua itens como equilíbrio e temperança. Enfim, piratear, imitar, fingir, prejudicar, camuflar e disfarçar, fingir ser o que não é, já são comportamentos corriqueiros e tranquilos para muitos cristãos da pós-modernidade.
Como chegamos neste quadro? Onde foi parar o temor, o respeito, a devoção, a piedade, a santificação? Onde? Vou arriscar uma resposta através de uma palavra: prosperidade. Isso mesmo, uma coisa boa se não for bem administrada pode virar uma coisa ruim.
A “classe média gospel brasileira”, seja lá qual for o critério para ser membro desta “classe”, pois é só uma opinião, não tenho dados estatísticos nem científicos para definir tal classe, a não ser os dados dos institutos de pesquisas que classificam por TV, computador, geladeira, máquina de lavar, micro ondas, enfim, de acordo com o que tem na casa cada família é classificada...
Voltando ao assunto, a “classe média gospel brasileira” ficou desvairada com todos os bens e entretenimentos sem fim que passou a ter acesso. Se empanturrou com um pouco de tudo. De vez em quando tem uma azia, enfrenta um vômito, passa mal. Mas pouco reage, parece embriagada e hipnotizada por suas pequenas e passageiras conquistas.
Tal cenário causa uma espécie de amnésia da alma, que é a perda da memória total ou parcial. No caso da alma, o centro da nossa vontade, emoção, desejo, esperança e fé, por hora o que vejo é uma amnésia parcial, porém perigosa. É parcial porque semana após semana os templos estão cheios. É perigosa porque semana após semana o que se confirma é um contingente de seguidores conformados e confortáveis com a frouxidão, o descaso, a indiferença, a desobediência, todos crendo que tudo está bom como está.
E na minha humilde opinião, não está bom. Fomos gerados na fé para bem mais que estatutos, regras, proibições, aparências. Tudo isso, se limitado a frieza da letra, só faz levar o indivíduo e suas práticas bem longe de Jesus, o Senhor e Mestre dos relacionamentos profundos, das mudanças radicais, do amor incondicional.
Embriagar-se com nossas prosperidades é como idolatrar nossas conquistas, esquecendo-se dAquele que nos deu vida, saúde, inteligência, dons, oportunidades e caminhos para prosperarmos, ou seja, esquecendo-se do Único capaz de colocar-nos em caminhos de vida que nos levem a prosperar.
Walter Brueggemann tem um pensamento que sintetiza brilhantemente este meu texto: “Moisés sabe que a prosperidade produz amnésia”. Quantas vezes aquele povo do deserto testemunhou e foi alvo das prosperidades dadas pelo próprio Deus? E quantas vezes, quando no desfrute da prosperidade imerecida, esqueceram o Deus doador?
Reconhecer o que temos e somos com gratidão a Deus, em todos os nossos caminhos, é mais que necessário, é fundamental para não sermos vencidos pela soberba, pelo orgulho besta e por nossa indomável carne. Lembre-se de nunca esquecer enquanto é tempo, antes que venham os anos nos quais não teremos mais contentamento.
Paz!
- Edmilson Mendes
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