O segundo livro da Bíblia, Êxodo, pode ser dividido em três partes: (1) 1-18 Deus liberta o povo da escravidão, (2) 19-24 Deus faz aliança com o povo, (3) 25-40 Deus vem habitar com o seu povo numa tenda. Bem no centro do livro está o cap. 19.3-6, momento que Deus reafirma seu amor pelo seu povo e seu chamado para abençoar as nações. Podemos entender esse texto fazendo três perguntas: 1. O que Deus fez pelo seu povo? v.4; 2. Quem é o povo de Deus? v.5; 3. Qual é a missão desse povo? v.6.
Deus primeiro fala o que ele fez e o porquê. Em duas palavras, libertação e relacionamento. Deus libertou Israel das algemas do Egito da mesma forma que nos libertou da escravidão do Faraó opressor que havia dentro de nosso coração, o pecado. E tudo isso com um propósito, "chegarmos até ele". Deus nos quer debaixo de suas asas, colado em seu colo, acolhidos por seus braços de amor.
Após demonstrar seu poder e amor, Deus reafirma a identidade e propósito de seu povo diante da humanidade com três títulos: propriedade exclusiva, reino de sacerdotes e nação santa.
1. TESOURO PESSOAL DE UM REI. Quando era criança lembro que minha mãe guardava uma caixa de jóias escondida no guarda-roupa. Brincos, colares, anéis, pulseiras e um monte de coisas bem caras, era sua propriedade exclusiva que ninguém tocava. Essa tradição não é nada nova, os faraós do Egito já tinham esse costume - que parece ter sido adotado apenas pelas mulheres atualmente. O mais interessante é que Deus utiliza exatamente essa expressão "propriedade exclusiva" para referir-se ao seu povo, isto é, dentre todas as nações Deus escolhe Israel como seu tesouro pessoal. Mas esse tesouro tem um propósito, não é para ficar escondido no baú. Deus diz qual é o papel de seu povo no mundo com mais dois títulos:
2. REINO DE SACERDOTES. Duas coisas configuravam o sacerdote no Antigo Testamento: 1. Alguém separado em santidade e intimidade com Deus, 2. Alguém que mediava a presença e a benção de Deus para os outros. Havia alguém que exclusivamente desempenhava esse papel anualmente, o Sumo Sacerdote, porém, a vontade original de Deus sempre foi que todo o seu povo tivesse acesso direto consigo e mediasse bênçãos para toda a terra. Essa era a missão de todo o povo de Israel perante as nações da Terra. Confira essa identidade missional nos Salmos 67 e 96.
3. NAÇÃO SANTA. Além de serem sacerdotes para o mundo, a vida de Israel deveria ser notadamente diferente dos outros povos. Deus escolheu uma nação específica no centro do mundo para servir como uma vitrine em exposição para as nações. Elas deveriam ver o povo de Deus, e ao vê-lo, buscar o Deus desse povo. O estilo de vida do povo de Deus deveria atrair todas as nações da terra para a adoração. Uma nação separada e diferente, sim, mas com o propósito de unir, não dividir.
Uma pergunta que poderia vir na cabeça do povo seria: "como seremos essa nação de contraste? Poderia ser mais específico, Deus?" Ele foi. O que vem depois de Êxodo 19? Exatamente os 10 mandamentos. Esse é o modelo de sociedade que Deus ama. É a Legislação de Israel. Sendo assim, santo não é alguém "perfeito, mas que se viu livre das algemas do pecado para poder viver o estilo de vida planejado por Deus. Enquanto o povo de Deus (1) adorar a Deus com exclusividade, (2) não compará-lo aos demais deuses, (3) honrar o seu nome, (4) lembrar-se do senhorio dele sobre o tempo e a criação, (5) honrar os pais, (6), valorizar a vida, (7) valorizar a sexualidade em aliança, (8) valorizar seus bens e do próximo, (9) valorizar a verdade e sua palavra e (10) ter domínio sobre suas cobiças, certamente fará a diferença e atrairá as nações para cultuar a Deus.
Mas como o povo conseguirá cumprir essa Lei? Não conseguirá a menos que o próprio Deus habite com eles. Por isso, na terceira parte do livro de Êxodo Deus dá a Moises instruções para construir uma grande Tenda. Ali será o lugar de culto, oração e sacrifícios do povo. Israel não conseguirá ser benção sem a Lei de Deus, mas jamais conseguirá cumprir a Lei sem sua presença capacitadora. Infelizmente, Israel falhou em sua missão de ser luz para o mundo, por isso Deus em Jesus, realiza um novo Êxodo e reforma o velho Israel.
Jesus é o novo Moises que liberta o seu povo através da Páscoa, mas em vez de aspergir o sangue de um cordeiro nos umbrais das portas, ele derrama seu próprio sangue inocente nas arestas de uma cruz.
Jesus é o novo Moises porque sobe num monte e reinterpreta a Lei de Deus para santificar o seu povo. Alem disso, o povo de Israel foi liberto do Egito após a morte do primogênito de Faraó, Jesus conseguiu a nossa libertação por ter entregado a si mesmo à morte, pois ele é o Unigênito de Deus.
Para que o povo cumprisse a Lei, Deus mandou construir uma Tenda para habitar com eles, mas só Jesus cumpre totalmente esse antigo anseio divino porque ele é o Deus conosco.
Após Israel sair do Egito Deus fez o milagre de abrir o Mar Vermelho pelo cajado de Moises, da mesma forma Jesus, após morrer e permanecer dois dias na sepultura, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia pelo poder miraculoso do braço de Deus.
Jesus foi tentado como Israel no deserto e teve fome por quarenta dias, simbolizando os 40 anos, mas não reclamou. Ele é o Deus que liberta. Ele é o maná que cai do céu, ele acalma tempestades e em vez de abrir o mar, anda sobre as águas; ele também cruzou o Jordão e restaurou o povo de Israel com 12 apóstolos, simbolizando as 12 tribos.
É por esta razão que encontramos a mesma identidade missional de Êxodo nas palavras do apóstolo Pedro em 1 Pedro 2.9-10. Para Pedro, a Igreja herda o chamado do "velho" Israel de ser benção para as nações não porque é um outro povo "plano B", mas porque é o mesmo Israel de Deus, renovado, reformado e restaurado. Isso mesmo, a Igreja é o novo Israel pronto para levar as bênçãos divinas para os confins da terra sendo sacerdotes reais, vivendo como um povo santo.
Leia a Bíblia com esses olhos. Nós somos o tesouro particular de Deus, o novo reino de sacerdotes e o povo santo. E somos tudo isso por causa da missão de Deus que é resgatar pessoas das trevas para a luz. Em sintonia com Deus, a Igreja também é um povo em missão, pois Israel nunca foi um fim em si mesmo, mas o meio que Deus usou para restaurar todos os povos do mundo.
Exatamente como no Êxodo, a Igreja só está sendo bem sucedida nessa missão porque Jesus fez uma aliança conosco, nos libertou do império da escravidão e armou sua Tenda dentro de nós derramando seu Espírito (Atos 2), para obedecermos a sua Lei e proclamarmos estas boas notícias ao mundo inteiro.