Nas últimas horas, viralizou nas redes sociais um vídeo publicado pela loja Ri Happy, onde é defendida a ideia de que "brincadeira não tem gênero". A peça faz parte de uma série denominada "Deixa Brincar", apresentada pela personagem "Menina Mofo", criada por um homem barbado chamado Ricardo Cubba.
Para quem está há 18 anos lutando contra a ideologia de gênero, como eu, não há dificuldade alguma em interpretar esse tipo de conteúdo, começando pelo título da série que, na prática, ecoa a visão defendida pelo influenciador Luke Vidal.
Na gravação há uma série de mensagens implícitas, além das explícitas. A Menina Mofo, por exemplo, faz a seguinte pergunta para Vidal: “Como você lida com as escolhas dos seus filhos?”. A ideia aqui vai além das brincadeiras, apesar do assunto central ser esse, o brincar, o "X" da questão está nas "escolhas".
Com isso, Vidal responde, com destaque meu: “Os pais precisam entender que a gente não tem que escolher o que o nosso filho quer brincar ou não. A criança tem que ser livre para poder escolher sua brincadeira. Eu acho que a brincadeira não tem que ter gênero.”
Como observei antes, o tema central aqui, aos olhos do público leigo, pode parecer que é a brincadeira; o fato dos pais interferirem ou não na escolha dos filhos sobre brinquedos e brincar. Contudo, é muito mais do que isso.
A mensagem real é que as definições biológicas dos sexos não devem servir de guia para os pais na hora de orientar os filhos sobre as suas brincadeiras.
Isso, porque, quando Vidal diz que "brincadeira não tem que ter gênero", algo obviamente endossado pela Ri Happy, ele está se baseando na visão de que crianças podem se achar pertencentes a um gênero diferente do seu sexo biológico, por isso devem “ser livres” para escolher como, e com o quê, brincar, sem a interferência dos pais.
O que temos nesse vídeo da Ri Happy, portanto, é nada mais do que a reprodução das narrativas da ideologia de gênero trazidas para o mundo das brincadeiras, a fim de que, sutilmente, os pais sejam induzidos a achar que não devem atuar como agentes na orientação dos seus filhos.
Uma resposta à Ri Happy
Lamento que uma das maiores, senão a maior varejista de brinquedos do Brasil, se curve ao ativismo ideológico sexual. Tenho certeza que a Ri Happy não se tornou gigante por militar na agenda de gênero, mas sim por oferecer às famílias produtos que refletem a real natureza sexual humana, pela qual nascemos macho ou fêmea e, portanto, socialmente menino e menina, homem ou mulher.
Diferentemente do que o conteúdo produzido pela Ri Happy afirma, toda criança deve ser orientada pelos pais, em tudo, inclusive nas brincadeiras/brinquedos, porque é exatamente isso que serve de referência simbólica e comportamental para elas, em termos de experiência em sociedade e na relação com outras crianças.
É a partir dessa vivência, primeiramente com os pais, que as crianças extraem a formam o seu universo imaginário, levado ao mundo infantil através das brincadeiras, normalmente por imitação. Por isso é comum vermos brincadeiras de "papai e mamãe", heróis e monstros, profissões, aventuras, entre outras que, em essência, são percepções infantis do mundo real.
Orientar não é interferir na formação do imaginário infantil. Não é o mesmo que impor certos gostos e preferências que, naturalmente, vão se definindo por conta própria durante o desenvolvimento.
A orientação que os pais devem fazer é mostrar que o mundo é, sim, constituído por definições, inclusive biológicas, pelas quais nós, humanos, nos baseamos culturalmente para distinguir o que são brincadeiras típicas de meninos e meninas. A criança, por si só, embora biologicamente inclinada a agir conforme o próprio sexo, também precisa receber dos pais esse referencial.
Portanto, os pais podem, sim, atuar em certa medida nas brincadeiras dos filhos, sendo exemplos para eles, a fim de que sigam a vida com base em seus modelos. O que o ativismo de gênero quer, por outro lado, é justamente que os pais sejam ausentes como condutores dos filhos, porque é aí onde eles entram com suas as narrativas.
Concluo fazendo um apelo aos pais, para que não se deixem levar por conteúdos como esse da Ri Happy, e para que filtrem os locais que valem a pena receber o nosso dinheiro. Eu, Marisa Lobo, não financio empresas que promovem a ideologia de gênero. Se você concorda comigo, faça a sua parte.
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Quanto tempo de qualidade você tem passado com os seus filhos?