Muito embora o Brasil seja um país com uma taxa aproximada de 40% da sua população composta por evangélicos, a discriminação religiosa contra esse segmento ainda é uma triste realidade em muitos aspectos, especialmente quando se trata de cargos de autoridade, onde há muita visibilidade.
A indicação do pastor André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), feita pelo presidente Jair Bolsonaro em agosto passado, serviu mais uma vez para revelar o preconceito religioso contra nós, evangélicos. Se trata de uma discriminação velada na maioria das vezes, e em outras explícitas.
Existe a discriminação praticada até por ditos evangélicos, ainda que de forma aparentemente não intencional. A senadora Eliziane Gama, por exemplo, que relatou a sabatina de Mendonça na CCJ do Senado, fez a seguinte observação em seu parecer (favorável) sobre o ex-ministro:
“Por se tratar do indicado um integrante do movimento protestante, recai sobre ele grandes responsabilidades e compromissos para com o Estado Laico e a democracia, temas que serão o centro da inquirição que faremos no dia de hoje."
Como assim, por se tratar de ser "integrante do movimento protestante"? Por acaso os demais ministros do STF não possuem, também, suas crenças, e não integram outros movimentos religiosos? É obvio que sim, até porque, mesmo quem não crê em Deus está exercendo "fé" para isso; a fé na crença do improvável, algo bem demonstrado pelo Dr. Norman Geisler em uma das suas obras.
Ou seja, não há qualquer justificativa para esse tipo de observação direcionada a um ministro evangélico, quanto a "grandes responsabilidades" para com o Estado laico, senão o único e exclusivo fato de se tratar de uma visão discriminatória e intelectualmente desonesta sobre o assunto, pois a responsabilidade de Mendonça é exatamente a mesma que a dos outros ministros.
Mas há também a discriminação por parte de figuras públicas, como é o caso do ex-candidato à presidência da República, João Amoêdo. Logo após à aprovação de Mendonça no Senado, o pastor destacou que o fato de um protestante chegar ao mais alto posto hierárquico do Judiciário brasileiro significa um grande passo para os evangélicos.
Obviamente, Mendonça se referiu a nada mais do que representatividade. Amoêdo, no entanto, usou a frase do ministro de forma distorcida, desmerecendo o fato de que é direito de um juiz, mesmo em um Estado laico, manifestar a sua crença e o seu orgulho por ela, o que é diferente de aplicá-la em suas sentenças.
"'Um passo para um homem, um salto para os evangélicos' - André Mendonça sobre sua indicação ao STF. Se o recém aprovado ministro considera sua entrada no STF um salto para os evangélicos, como cidadão só posso considerá-la um retrocesso para o Estado laico e para os brasileiros", afirmou Amoêdo.
Em outras palavras, os evangélicos não podem se sentir representados no STF, pois na visão discriminatória e intelectualmente pobre de Amoêdo, isto significa "retrocesso" e uma ameaça à laicidade do Estado. Pelo visto, só quem tem capacidade de representar a sociedade é ministro que já rasgou elogios e fez "consulta" com o médium João de Deus, preso atualmente por dezenas estupros.
Infelizmente o exemplo de discriminação envolvendo a indicação do pastor Mendonça ao STF não é o único. Poderíamos abordar vários, como os que envolveram o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que também é pastor evangélico e até hoje sofre preconceito por parte dos críticos, no mesmo sentido.
Protestantes ocupando cargos de autoridade no Brasil, portanto, ainda sofrem muita discriminação, infelizmente. Mas essa é uma realidade que vem mudando e a indicação do pastor Mendonça está aí para provar. Não importa o quanto os inimigos reclamem e tentem nos barrar, pois Deus é conosco e é Ele quem nos garante a vitória!
Por Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
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