
Toda semana um novo escândalo político, maior que o anterior, pauta o noticiário. E a cada novo escândalo, o anterior perde evidência. Vai-se criando uma cultura complacente. O alto clero do parlamento já se valeu de cabeças de gado, do milagre divino e até de sucessivos prêmios na loteria para explicar a dinheirama que lhe quadruplicou a fortuna pessoal. Caixa dois de campanha é comum. Financiamento de partidos, com subsídio de empreiteiras, tornou-se prática ordinária. Pontes, estradas, viadutos, passarelas e agora estádios, acabam custando até dez vezes mais do que o orçamento inicial. Construtoras “acertam” o preço das obras em licitações viciadas. As estradas permanecem esburacadas, o transporte público encontra-se sobrecarregado e os aeroportos, ultrapassados.
Para custear tanta corrupção, sobram leis, impostos, fiscais, taxas, sobretaxas e mais impostos. Parece não ter fim a sanha de esfolar empresários e trabalhadores. O salário dos parlamentares, somados aos benefícios, pagaria dezenas (em alguns municípios, centenas) de professores. Passou da conta o cinismo de filhos e filhas de corruptos, posando de patricinhas e mauricinhos.
No Brasil, os bancos chegam a se envergonhar dos lucros – inéditos no planeta.
Hospitais públicos sucateados não conseguem tratar os pacientes com um mínimo de dignidade. Anciãos morrem pelos corredores. Crianças agonizam em berçários neonatais. Doentes esperam meses por uma cirurgia que poderia lhes salvar. Falta remédio. Devido à escassez de saneamento básico, a dengue é endêmica em diversas capitais.
O ensino público declina.
O leque de desmandos que precisam ser consertados é amplo. Diante de tamanha desarrumação, corre-se o risco de não chegar a lugar nenhum. A pressão popular, entretanto, deve continuar. O povo deve permanecer nas ruas. Chegou a hora de outros setores se envolverem. Partidos que mantém algum idealismo, pastores, teólogos e crentes progressistas das igrejas católica e protestante – e de outras religiões -, terceiro setor que amarga o dia a dia dos pobres e outros movimentos sociais devem se engajar. Nas ruas, os jovens gritaram: O gigante acordou, o gigante acordou. Resta provar que este refrão é verdadeiro. Continuemos.
Soli Deo Gloria
- Ricardo Gondim