Neste mundo de aflição, só existe uma maneira de se viver com o ponto cego da democracia e da tolerância. Aceitando que as ideias governem sobre você e o mundo ou aceitando que o mundo é miserável e imperfeito mesmo. A segunda opção é a opção cristã porque realista.
O alvo principal das ideias é a criatura divina. O gênero, uma ideia diabólica, veio com tudo. “Não se nasce mulher” (O segundo sexo, Simone de Beauvoir).
Se o homem vivesse sozinho ou só ele e a esposa tudo seria como o Paraíso, sem privilégios, dominação, empoderamento, filhos, cunhados ou sogra (o). Viveriam nus e sem qualquer desejo e vergonha, comendo dos frutos das árvores, das folhas e das plantas, se abrigando na mata como dois animais selvagens e felizes. Só que não fariam sexo porque não haveria necessidade de procriar. A felicidade seria os dois numa só carne e num só espírito, num nó de três dobras que nunca se romperia (hoje ele se rompe muito facilmente).
A ideia de virilidade, branquitude e patriarcado come solta. Feministas jacobinas jogam toda a força contra o que tem por trás destes palavriados. Não é por nada. É ou são: marido que espanca a esposa; piadas de negro e de mulher; salários inferiores; mulher que nasce ou envelhece como homem, e vice-versa; pai ou a mãe que violenta filho; religiosos que embolsam dízimo ou violam confissão; a cor branca dominadora (a tal da “branquitude”); polícia que inventa flagrante e abusa de autoridade; políticos que corrompem todo o sistema. Os exemplos poderiam se multiplicar.
Como lidar com estas contradições?
Citando o exemplo do patriarcado que não dá à mulher nem mesmo um mero habeas corpus ou que lhe retira a consciência (é o que pensa o feminismo), será que o amor para além da procriação e o companheirismo conjugal sem possessão não bastariam para uma vida a dois em paz e harmonia se o “amar a esposa como Cristo amou a igreja” fosse realmente obedecido? Só que ideias chamaram o contrário disso de virilidade e privilégio e, em vez de se tentar encontrar o justo, o foco é destruir a masculinidade (não só a tóxica) e o gênero dado.
Arrumaram defeitos em tudo e, depois de muito tentar e tentar, ajustar aqui e ali, arrumaram a solução, que é zerar tudo, desconstruir tudo. A desordem, o niilismo e o nada são novas idolatrias. Estas parecem ser uma última tentativa da razão anticristã, num cinismo de doer o coração e a alma descente.
Jesus fez-se cordeiro para cumprir o roteiro divino inevitável. Poderia relutar, mas não o fez. Agonizou pela Via Dolorosa já crente no fim fatal e aceitou tudo caladinho; o conservadorismo não consegue aguentar os ataques ideológicos às instituições; o falso cristianismo e seu falso amor e sua falsa piedade foram cedendo cada vez mais numa democracia de ponto cego onde poucos, com exceção dos nascidos do Espírito Santo, conseguem ver o meio-termo e querem o meio-termo.
O inimigo das ideias é um só: o cristianismo. A ordem, a moralidade, os sexos, a natureza, a crença, a política, a família, a hierarquia, os valores, os dogmas, a economia, as trocas, o capitalismo, o direito, as instituições, toda a base social vem dele. Logo, não é por nada que agora procuram o Espírito dele. Atacam o enviado pelo Pai, o Espírito Santo, que agoniza e um dia deixará a sós aqueles que se recusam o meio-termo, o ponto cego, indispensável para a convivência e para a eternidade.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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