Pastores não estão imunes ao aumento das taxas de suicídio. As exigências da liderança, competição eclesiástica, solidão ministerial, ausência de amigos, cobrança por performance bem-sucedida, o alto custo que um ministério de sucesso pode produzir, podem cobrar altos dividendos. Como resultado muitos sofrem com estresse, ansiedade, depressão e pressão alta.
Além disso, a maioria se alimenta errado. Come depois dos cultos, comida pesada, não se exercita e tem dificuldade em procurar ajuda psicológica por causa da sua pretensa “espiritualidade” ou orgulho que o impede de admitir seu estado.
Chuck Hannaford, psicólogo clínico que presta consultoria para a Convenção Batista do Sul, disse acreditar que a taxa de suicídios de pastores aumentou durante seus 30 anos de prática. E afirma que o número continuará aumentando.
Sem sombra de dúvida, ser pastor é um “trabalho perigoso”. Especialmente em certos círculos evangélicos, onde há uma orientação teológica mais rígida. Ali, pastores tratam sua depressão ou seus processos de negativos como problemas estritamente espirituais.
Um grande grupo de pastores é extremamente duro consigo mesmo. Muitas vezes, se julgam e cobram pelos pecados de omissão e comissão, pelo insucesso ou por buscar o sucesso, pelas falhas ou pelo orgulho de achar que não erra, por ser um total desconhecido ou por ser vítima da própria relevância e viver como se não precisasse de ninguém. Fracassam em levar em consideração os efeitos da Queda no mundo: A Queda perturbou tudo, incluindo o cérebro pastoral.
Mesmo pastores que são modelos para seu rebanho, geralmente vivem totalmente isolados pela vida ministerial. Postados em um pedestal inacessível, que não lhes deixa falar honestamente com os outros ou confessar que precisam de ajuda. Escutam a todos, mas não têm quem os escute.
Alguns acham que nunca ficaram doentes ou sofreram de problemas psicológicos. Esquecem de olhar para o Velho Testamento que revela o quanto alguns profetas sofreram. Elias fugiu e pediu para morrer. Davi fala de suas angústias. Salomão escreveu Eclesiastes para revelar sua desilusão com a vida. Jó é exemplo de paciência sofredora. Parte do problema é que a igreja separou os cuidados com o corpo, a alma e o espírito.
Ter alguém com quem conversar e se abrir é vital, já que a maioria dos pastores acha que não pode contar suas dificuldades aos seus membros. O medo de perder autoridade, ser descoberto, ou acusado de não ser espiritual, à desinformação, preconceito e de não ser um bom modelo ou de ser inadequadamente transparentes impede de buscar ajuda.
Um texto bíblico me ajuda a lidar com a cobrança e expectativas tanto minhas como do povo ao qual lidero por quase cinquenta anos. Paulo escreveu em 1 Coríntios 4:1-4:
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós (PRESSÕES DA IGREJA) ou por tribunal humano (PRESSÕES DO MUNDO); nem eu tampouco julgo a mim mesmo (PRESSÕES PESSOAIS). Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.”
Deus não exige que eu seja um sucesso, que eu construa mil igrejas, que eu tenha programa de rádio e TV, que eu seja famoso, escreva muitos livros e batize milhares de pessoas. A única coisa é que eu seja achado FIEL.
“Disse-lhe o Senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 19.23).
Por Silmar Coelho, pastor da Igreja Metodista Wesleyana, doutor em teologia, líder, terapeuta familiar, apaixonado pela igreja, por sua família e pela vida.
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