Levar o Evangelho ao mundo muçulmano exige não apenas um chamado, mas também preparo. Em uma série de lives promovidas pela Igreja Batista do Povo, o Dr. Dagnaldo Pinheiro falou sobre sua experiência em missões no Oriente Médio por 10 anos.
“Uma das coisas mais importantes para o sucesso e a aceitação de um missionário em um ambiente transcultural é você falar a língua das pessoas, comer a comida das pessoas e andar com as pessoas”, destacou Pinheiro, que é diretor do ministério Al-Hayat Brasil.
Nascido no interior do Maranhão, Dagnaldo Pinheiro teve seu primeiro contato com informações sobre o campo missionário em uma conferência de missões em Minas Gerais, na década de 1990. Ali, um pastor da Índia falou sobre a quantidade de pessoas que morrem por minuto, sem ter ouvido o nome de Jesus — e isso o despertou.
“Naquela época o acesso à informação era muito limitado. O que a gente sabia era da importância de evangelizar os perdidos”, disse Pinheiro.
Decidido a pregar aos povos islâmicos, Dagnaldo foi ao Egito, onde teve seu primeiro contato com a língua árabe. “Tenho a tristeza de conhecer missionários, principalmente no mundo muçulmano, que estão há 10 ou 15 anos no campo sem falar a língua local”, constatou.
Atualmente, a maior parte da população egípcia professa a fé islâmica, apesar de uma minoria cristã significativa. No Egito, é considerado crime o “proselitismo”, ou seja, converter pessoas a outra religião.
Espião ou discípulo?
Ao chegar no país, Dagnaldo enfrentou diversos desafios, e o primeiro deles era identificar os momentos de risco.
“Há sempre uma tensão no ar. A pessoa com quem eu estou me aproximando está realmente interessada no Evangelho ou é um espião da polícia? Meu celular é monitorado, meus e-mails são visualizados?”, pontuou.
“Eu dava aula de inglês em uma escola e depois descobri que um dos meus alunos era espião da polícia. E ele era muito próximo de mim, ia à minha casa. Mas Deus foi tão bom que não me permitiu tentar convertê-lo, mas apenas responder aos questionamentos dele. Até que a irmã dele, que era uma cristã convertida secreta, me alertou dizendo que seu irmão era espião da polícia. Essa tensão é um desafio. Precisa de muito discernimento e oração, para que o Espírito Santo nos conduza.”
Dr. Dagnaldo Pinheiro. (Foto: Reprodução/Instagram/AD Prata Missão)
Muçulmanos fazem perguntas difíceis
Para Dagnaldo, outro desafio no campo missionário entre muçulmanos está em compartilhar a fé, especialmente pelos questionamentos.
“O islamismo no Egito é conhecido por estar pronto para defender a fé islâmica e atacar o cristianismo. É militante mesmo”, explica. “É muito comum encontrar crianças que aos 10 anos já memorizaram o Alcorão inteiro e fazem perguntas das mais difíceis. “
Cerca de seis meses após chegar em Cairo, no Egito, Dagnaldo conta que foi a uma famosa mesquita no centro da cidade. Depois da oração islâmica, ele se juntou a uma roda de jovens muçulmanos que estavam lendo o Alcorão — mas ele estava com o Novo Testamento em árabe.
“Meu árabe era suficiente apenas para dizer meu nome. Um rapaz me perguntou: o que é isso? Eu tentei explicar o Evangelho em árabe, ele não entendeu muito bem. Ele tentou falar comigo em inglês, que não era muito bom. A comunicação ficou sem possibilidade”, lembra.
Dagnaldo foi levado para a sala do imã, o sacerdote da mesquita, que estava com um grupo. Eles pensaram que o brasileiro queria se converter ao Islã, mas Dagnaldo descobriu que o imã falava inglês e português e logo explicou: “Tenho curiosidade em conhecer o Islã, mas na verdade, sou muito convicto em minha fé cristã.”
A reação do líder islâmico foi debochar do cristianismo e fazer uma série de perguntas: “Ele me dizia: ‘Você quer que eu acredite em um livro completamente corrompido e cheio de contradições? Você acredita mesmo que Jesus é Deus? Em algum momento Jesus disse ‘eu sou Deus’ ou ‘adorem a mim’? Se Jesus é mesmo Deus, quem ficou governando o universo nos três dias em que ele esteve morto? Se Jesus é um Deus ilimitado, como ele ficou durante 9 meses no ventre de Maria? Quer dizer que o ventre de Maria é maior que Deus?”
“Naquele momento, eu disse: ‘Eu não tenho as respostas para as perguntas que você me fez. Não significa que as respostas não existem, só significa que eu não as tenho neste momento. Vou atrás dessas respostas e volto para a gente conversar’”, contou.
Imagem ilustrativa. (Foto: Levi Meir Clancy/Unsplash)
Dagnaldo saiu de lá decido a estudar o islamismo a partir de uma perspectiva islâmica. Ele então se dedicou a aprender o idioma e passou a estudar Teologia Islâmica em uma universidade islâmica. “Eu não queria que um cristão me ensinasse sobre o Alcorão, eu queria saber dos muçulmanos”, disse.
Dois anos depois, Dagnaldo voltou àquela mesquita, preparado para responder as perguntas, mas o imã havia sido transferido para outro local. “E aí eu entendi que Deus não precisa de advogados para defender Sua causa. A busca pelo conhecimento não deve ser por um exibicionismo, mas para a glória Dele”, disse.
Ministério no Brasil
Depois de atuar como missionário no Egito, Dagnaldo foi deportado do país, após ser preso sob acusação de “proselitismo”. Hoje ele é diretor do ministério Al-Hayat Brasil, que é um braço do ministério internacional Al Hayat, que leva o Evangelho a muçulmanos principalmente por seu canal de TV, com programações voltadas aos árabes.
A Igreja Batista do Povo, sediada na Vila Mariana, em São Paulo, tem realizado uma série de lives sobre missões no mundo islâmico, em preparo para a Conferência Missionária, que será realizada entre 9 e 11 de setembro.
De acordo com o pastor Samuel Silva, que atua na Batista do Povo e é autor do livro “A Bíblia Aos Olhos do Islã”, é essencial que as igrejas brasileiras alcancem os islâmicos no país, principalmente entre os refugiados.
“Temos no Brasil refugiados de 27 nações onde é proibido pregar o Evangelho. Esses grupos estão entre os 8 segmentos menos alcançados”, disse ele em uma das lives. “Olhando esse cenário e a agenda do Islã para o Brasil e para o mundo, como única religião de Alá, decidimos atuar como Igreja para alcançar essas pessoas.”