Desde que havia se convertido, o jovem norte-coreano Young-Sik vinha mantendo segredo sobre sua fé em Jesus. Afinal, ser cristão ou até mesmo amigo de um cristão e não delatá-lo pode ser considerado um crime, que pode chegar a ser punido com tortura ou execução na Coreia do Norte.
Certa vez, o rapaz chegou a suplicar em oração, perguntando a Deus até quando ele teria que viver daquela forma, escondendo sobre sua fé.
"Oh, doce Jesus, quanto tempo ainda vou precisar viver assim?", suplicou ele.
Young-Sik não fazia ideia de que alguém tinha ouvido a oração que ele apenas sussurrou para não ser descoberto. O jovem sabia que bastava um movimento errado para expor sua fé cristã. Isso poderia significar uma sentença de prisão perpétua em um dos campos de prisioneiros que ele ouviu sobre toda a sua vida ou até a morte.
Mas alguém ouviu a oração de Young-Sik. Byung-Chul, um senhor mais velho que também trabalhava no campo, não podia acreditar no que estava ouvindo.
“Este jovem orou a Jesus? Seria ele ser um crente secreto?”, se questionou aquele senhor.
Devagar e silenciosamente, Byung-Chul se aproximou de Young-Sik, certificando-se de que ninguém estava por perto para ouvir. Quando ele estava ao lado do jovem, gentilmente segurou o pulso de Young-Sik e fez o sinal de uma cruz na palma de sua mão, esperando que o rapaz reconhecesse o símbolo invisível. Mas Young-Sik não entendeu.
Byung-Chul, então decidiu esperar por outra oportunidade para se revelar como um "irmão em Cristo".
O momento chegou mais cedo do que o esperado. No dia seguinte, Young-sik saiu novamente ao mesmo campo para procurar comida. Byung-Chul o viu novamente e caminhou por perto, cantarolando uma melodia de um velho hino cristão. Young-Sik lembra-se claramente daquele dia.
"No começo, eu estava tão assustado!", disse o rapaz. “Olhei ao redor do campo para garantir que ninguém estivesse lá. Então, ouvi um hino que aprendi anos atrás. Eu olhei para o rosto de Byung-Chul e ele estava tão esperançoso. Eu pude perceber que ele estava cantarolando a melodia propositalmente perto de mim, para eu perceber esse sinal dele”.
Eles tinham que ter cuidado, certificando-se de que não havia ninguém por perto. Cautelosamente, cada homem sussurrou alguns detalhes de suas origens por alguns breves momentos.
"A alegria que experimentei foi incrível", disse Young-Sik. “Foi um momento espiritual para nós. Eu havia encontrado um companheiro espiritual neste lugar infernal. Agora havia esperança”.
O homem mais velho convidou seu novo irmão em Cristo para a próxima reunião da igreja subterrânea na remota vila. Aquela era a primeira vez que Young-Sik se reunia com outros crentes em anos de convertido.
"Foi uma experiência tão maravilhosa que provou o quão fiel Jesus é", diz ele. "A ansiedade e a depressão se foram e orações esperançosas estavam em meus lábios."
Servir o povo de Deus incondicionalmente
Young-Sik tem lembranças vívidas de como a vida era infeliz antes de conhecer Byung-Chul. O governo norte-coreano o enviou a essa área remota sem sua família (sem motivo aparente conhecido por ele). Ele estava sozinho, isolado.
Ele se lembra de como os dias pareciam se arrastar, cada um começando com uma busca inútil em campos áridos por algo para comer; até mesmo pedaços de grãos eram difíceis de encontrar. Se ele tivesse sorte, encontraria alguns grãos de milho ou vegetais como pepinos. Procurar comida durante o dia poderia levar horas. Depois, havia o dia de trabalho regular que todos os norte-coreanos são forçados a executar.
Os invernos foram os piores. O solo congelado e as temperaturas de -6°C apenas reforçavam sua solidão. Ele também viu o que o frio trouxe para aqueles ainda menos afortunados que ele. Quase todas as manhãs, ele saía para ver os kotjebis (crianças de rua sem-teto) a alguns quarteirões de distância de onde ele morava e lhes dar alguma atenção e talvez compartilhar alguma comida com eles.
Young-Sik logo descobriu que Byung-Chul também tinha um coração voltado para servir aos outros. Ele estava cuidando de várias famílias na vila. Aquele senhor tinha habilidades médicas e costumava usa-las para ajudar outras famílias gratuitamente.
Discipulando crentes secretos
Por décadas, Byung-Chul desempenhou um papel de líder espiritual para muitos. A igreja subterrânea nesta vila remota cresceu, graças ao seu trabalho evangelístico, diz Young-Sik. Ele serviu ao Senhor, servindo aos outros neste lugar desolado. Mesmo quando teve a inesperada oportunidade de sair, Byung-Chull ficou.
"Um dia, um alto funcionário visitou a casa de Byung-chul", diz Young-Sik. “Ele pediu seu conselho médico sobre a doença de alguém de uma posição superior. Byung-chul achou que essa era uma oportunidade especial de Deus. Ele rapidamente orou para si mesmo, foi com o guarda e tratou cuidadosamente o homem. Quando ele estava bem, o homem ofereceu a Byung-Chul a oportunidade de se mudar para um centro da cidade e aumentar seu nível de identidade. ”
Mas, em vez disso, Byung-Chul transmitiu o favor a uma das crianças de rua que Young-Sik estava cuidando e ajudando a sobreviver. Algumas semanas depois, a criança foi enviada a uma cidade grande, para ter uma educação muito melhor e uma vida melhor.
"Byung-Chul estava muito convencido de sua própria vocação", diz Young-Sik. "Ele nunca teria deixado a vila e os irmãos que ele cuidou."
Enquanto ele e Young-Sik continuavam a se encontrar, os dois homens fortaleceram sua amizade e relacionamento com Deus. E, como o apóstolo Paulo treinou o jovem Timóteo, Byung-Chul discipulou e treinou Young-Sik para um dia tomar seu lugar como líder espiritual da vila.
Esse dia chegou recentemente. Byung-Chul faleceu pacificamente. Antes de sua morte, ele orou, abençoando Young-Sik, um momento que o jovem nunca esquecerá. Para ele, aquele foi o momento em que ele percebeu que Deus havia orquestrado seus passos desde o primeiro dia para levar Seu evangelho às pessoas que precisavam ouvir sobre Jesus.
“Quando ele me abençoou como o novo líder, esse foi outro momento alegre e espiritualmente significativo”, diz Young-Sik. "Mas não é apenas pelo papel que me foi dado; é também o meu chamado. Eu sei que servirei ao Senhor até minha morte nesta vila. Foi aqui que Deus me colocou, não o governo. Byung-Chul sempre dizia: 'Se eu moro aqui, morarei aqui. Se eu morrer, vou morrer aqui. "
Hoje, Young-Sik relembra o dia em que conheceu Byung-Chul. Como em campos áridos, Deus usou uma oração quase inaudível e dois homens fiéis para cultivar e multiplicar uma colheita que ele nunca poderia ter imaginado. Uma igreja secreta que ele nunca imaginou poder vir de circunstâncias aparentemente abandonadas por Deus.
Como um de nossos membros da equipe de campo do Portas Abertas, Young-Sik diz: "A vida cristã na Coreia do Norte está além da imaginação de todos, mas todos oramos para que Deus seja fiel".