O líder de um grupo de vigilância que acompanha a perseguição aos cristãos na China expressou sua preocupação sobre a possibilidade de a situação piorar, afirmando que já está vendo semelhanças com as estratégias descritas no "manual" do Partido Comunista Chinês (PCC) nos Estados Unidos.
Bob Fu, presidente da organização não governamental ChinaAid, com sede nos EUA, disse que enxerga as mesmas táticas do PCC, usadas para reprimir as igrejas, sendo feitas nas nações ocidentais.
“As semelhanças são muito, muito marcantes entre o modo comunista chinês de perseguição e o modo esquerdista americano de restrição e até discriminação”, disse Fu à Fox News Digital.
Fu expressou sua preocupação em relação às atitudes "ditatoriais" cada vez mais evidentes na esquerda dos Estados Unidos, tanto cultural quanto politicamente, incluindo a censura do discurso, a promoção da cultura “woke” (em português, "acordada") e a falta de tolerância com a dissidência. Ele também destacou a suposta utilização política das agências federais de aplicação da lei como uma escalada preocupante dessas tendências.
"É muito chocante e horrível ver a transformação da sociedade americana evoluindo a partir de sua base constitucional", disse Fu.
Conversão e luta pelo cristianismo
Fu revelou que era um líder estudantil em sua universidade durante os protestos na Praça da Paz Celestial em 1989 e se converteu ao cristianismo décadas atrás na igreja clandestina chinesa. Em seu livro de 2013, intitulado "God's Double Agent" (Agente Duplo de Deus, em tradução livre), ele relatou que ele e sua esposa foram presos em Pequim por liderar igrejas domésticas, que são congregações cristãs que não se registraram nas igrejas protestantes ou católicas oficiais da China.
Bob Fu e sua esposa Heidi foram presos em Pequim por seu trabalho na igreja cristã clandestina na China. (Foto: ChinaAid)
Após escaparem da China em 1996, o casal se tornou refugiado nos Estados Unidos no ano seguinte. Em 2002, Fu fundou a ChinaAid com o objetivo de fornecer uma voz para aqueles irmãos e irmãs perseguidos sem voz na China" bem como "ajuda legal e humanitária para aqueles que são perseguidos, presos e torturados".
Após se naturalizar cidadão americano e frequentar o Seminário Teológico de Westminster na Filadélfia, Fu afirmou que algumas das táticas usadas para reprimir as igrejas durante a pandemia, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países ocidentais, parecem ter sido diretamente inspiradas no "manual comunista chinês".
"Eles só têm uma cartilha", disse ele. “Eu vi o governador da Califórnia basicamente prescrever e ordenar que a igreja fechasse e dizer não apenas quando eles podem adorar, mas como [fazê-lo], o que o PCC está usando contra as igrejas chinesas."
Fu apontou o caso do ex-prefeito democrata de Los Angeles, Eric Garcetti, que em um determinado momento ameaçou cortar os serviços públicos de residências e empresas que desafiavam as restrições da Califórnia relacionadas à Covid-19.
"Adivinha só? Essa é exatamente a mesma tática, palavra por palavra, que o Partido Comunista lançou ao longo dos anos contra as igrejas", afirmou Fu.
Táticas comunistas no Canadá
O líder cristão também destacou o tratamento dos pastores no Canadá nos últimos anos como um exemplo particularmente flagrante de táticas semelhantes às usadas na China sendo empregadas para reprimir as igrejas em uma democracia ocidental. Ele acrescentou que o país tem se envolvido em "perseguição passiva e ativa" contra as igrejas.
"Na frente da câmera, a polícia invadia uma igreja durante o culto de domingo, expulsava todos os crentes e basicamente empurrava o pastor para longe do prédio da igreja e depois fechava toda a igreja", disse Fu sobre o Canadá. "Então, isso está acontecendo agora. Acho que a igreja no Ocidente deve estar preparada para que algo assim aconteça e talvez aconteça mais."
Durante a pandemia, as igrejas em todo o Canadá enfrentaram uma série de restrições, incluindo pastores presos, instalações trancadas, multas pesadas e interferência contínua de funcionários do governo.
Após o pastor Tim Stephens de Calgary, Alberta, ser preso pela segunda vez em 2021, quando a polícia supostamente encontrou sua igreja reunida do lado de fora, o senador americano Josh Hawley, R-Mo, escreveu uma carta pedindo que a Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA considerasse adicionar o Canadá à sua lista de observação.
O pastor Derek Reimer, de Calgary, continua preso na quarta-feira, após ter sido preso duas vezes nas últimas semanas por protestar contra a realização de uma hora da história de drag queen para crianças em bibliotecas públicas.
Mais recentemente, ele foi acusado de supostamente violar uma ordem de liberação que o proibia de se comunicar com pessoas LGBTQ autoidentificadas ou de estar a menos de 200 metros de eventos envolvendo a comunidade LGBTQ.
Outro líder cristão de Calgary, o pastor Artur Pawlowski foi preso repetidas vezes por manter sua igreja aberta durante a pandemia. Ele disse à Fox News Digital na semana passada que as prisões de Reimer indicam que as autoridades são anticristãs e estão começando a impor sua ideologia usando as mesmas táticas que usaram para impor os protocolos Covid-19.
Mídia e comunismo
"Há tantas coisas sem precedentes que realmente partem meu coração", disse Fu. "Sinto que a América está caindo em um estilo de governo comunista chinês. A propaganda da mídia é exatamente a mesma da China comunista, onde nasci e fui educado na tendência."
Grande parte da grande mídia dos EUA, afirmou ele, tornou-se "o porta-voz de um partido, uma ideologia, distorcendo e até mentindo e usando todos os seus supostos relatórios para promover uma ideologia".
Fu disse que a repressão ao discurso cristão pelas big techs [grandes empresas de tecnologia] nos EUA é também uma tendência que ele testemunhou na China, onde postagens de sua organização foram apagadas do Facebook.
Relatório denuncia censura
Após a implementação de suas “Medidas Administrativas para Informações e Serviços Religiosos na Internet” em 2022, a censura chinesa de conteúdo cristão online – incluindo até mesmo em bate-papos em grupo – atingiu um nível “sem precedentes”, de acordo com o relatório mais recente da ChinaAid.
Segundo Fu, a perseguição cristã na China atingiu um nível sem precedentes desde a Revolução Cultural. Relatórios da sua organização apontam que cristãos chineses estão sendo frequentemente detidos e submetidos à tortura, enquanto o governo está usando a prática cristã comum de dízimos e ofertas para fabricar acusações de fraude, com o objetivo de "sufocar financeiramente" as igrejas domésticas.
De acordo com o relatório, diversos pastores e presbíteros de igrejas domésticas foram detidos e podem enfrentar anos de prisão, além disso, os cidadãos religiosos da província de Henan, na China, são obrigados a se registrar no novo aplicativo governamental chamado "Smart Religion" para participar de cerimônias religiosas.
O relatório mostra ainda que, embora o governo chinês continue exigindo fidelidade exclusiva ao Partido Comunista, nos últimos anos tem enfatizado a importância da lealdade ao presidente chinês Xi Jinping. Fu acrescenta que à medida que o Partido Comunista Chinês "exporta suas táticas repressivas" ao redor do mundo, alguns políticos ocidentais adotaram a mesma mentalidade.
"Há um grande espírito de semelhanças contra a igreja de Deus", disse ele. "De repente, prefeitos e governadores se tornam pequenos imperadores. Eles acham que seu poder está acima da autoridade de Deus e da igreja. Eles querem ser os administradores da igreja, querem dizer a você quando e como adorar."