Fuzileiro naval relata 'milagre divino' em resgate que salvou 17 mil no Afeganistão

Chad Robichaux relata como foi a missão de resgate de afegãos civis após a retirada das tropas americanas do país.

Fonte: Guiame, com informações do Christian PostAtualizado: quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023 às 16:49
O ex-fuzileiro naval Chad Robichaux e uma pequena equipe de homens resgataram milhares no Afeganistão. (Foto: Mighty Oaks/Chad Robichaux)
O ex-fuzileiro naval Chad Robichaux e uma pequena equipe de homens resgataram milhares no Afeganistão. (Foto: Mighty Oaks/Chad Robichaux)

Aziz atuou como intérprete para o fuzileiro naval aposentado Chad Robichaux, da Força de Reconhecimento, durante suas oito missões no Afeganistão, salvando várias vezes a vida de Robichaux.

Após o anúncio do presidente Joe Biden de que os EUA se retirariam do Afeganistão em 2021, Robichaux estava decidido a pagar sua dívida e resgatar o homem que considerava parte de sua família.

Em seu novo livro, “Saving Aziz: How the Mission to Help One Became a Calling to Rescue Millions from the Taliban” (Salvando Aziz: como a missão de ajudar alguém se tornou um chamado para resgatar milhões do Talibã, em tradução livre), Robichaux relata a operação para resgatar Aziz.

A missão para resgatar o intérprete acabou resultando na evacuação de 17.000 cidadãos americanos vulneráveis, aliados afegãos, órfãos e cristãos perseguidos, que haviam ficado presos na Ásia Central após a retirada dos Estados Unidos.

Em entrevista ao The Christian Post, Robichaux disse que tinha várias preocupações como estrategista após retirada militar completa do Afeganistão.

O veterano de guerra afirmou ter encontrado uma "falha" na retirada da presença dos Estados Unidos de um "lugar mais estratégico do globo entre Iraque, Irã, Rússia e China". Ele ressaltou que os EUA mantêm tropas estacionadas no Japão, Alemanha e Coreia do Sul, muito mais do que as tropas ainda no Afeganistão, para " manter o mundo seguro e nos manter fora das guerras".

Uma das maiores preocupações de Robichaux era que Aziz e sua família fossem deixados para trás e se tornassem alvo do Talibã.

Aziz tentou sair do Afeganistão por meio de um processo de imigração especial por seis anos, sem sucesso, de acordo com Robichaux, devido a um sistema "defeituoso".

Sentindo-se responsável por tirar Aziz dali, o fuzileiro naval aposentado montou uma equipe de 12 homens com vasta experiência em operações especiais e que não precisavam de muitos recursos para atuar.

Chamada de campanha "Saving Our Allies", a missão de resgate foi lançada por meio da Mighty Oaks Foundation de Robichaux, uma organização que ele fundou para ajudar veteranos de combate que lutam contra traumas.

Obedecer ao chamado

A equipe era formada por fuzileiros navais de reconhecimento, SEALs da Marinha, Boinas Verdes e membros da unidade paramilitar da CIA.

"E um dos caras disse: 'Ei, que bom que você vai salvar Aziz e sua família'", lembrou Robichaux. "'Mas e essas outras crianças? E os outros americanos e intérpretes e suas famílias?'"

A equipe sentiu que Deus os chamava para algo maior, para fazer algo por "pessoas que não podiam se ajudar". Depois de obedecer ao chamado de Deus, Robichaux disse que o que testemunhou após um acontecimento que ele só poderia descrever como um "milagre divino".

"Não só conseguimos Aziz e sua esposa e filhos, como também 17.000 pessoas", continuou Robichaux.

Os EUA abandonaram a Base da Força Aérea de Bagram no processo de retirada e removeram os militares antes de evacuar civis, aliados americanos e bilhões de dólares em equipamentos, segundo relatou ao The Christian Post.

Crise e desespero

Após a retirada das tropas americanas restantes, em agosto de 2021, o Talibã retomou o Afeganistão, criando uma grande crise de evacuação.

"Se você estivesse no chão e visse o caos lá, as pessoas estavam sendo pisoteadas até a morte porque 100.000 pessoas estão tentando invadir o aeroporto e sair", disse Robichaux.

Algumas delas ficaram tão desesperadas que jogaram seus bebês por cima de um muro de 2 metros de altura na tentativa de deixá-los em um lugar seguro, sem saber que no topo do muro havia mais de 6 metros de arame farpado. Joe, um dos amigos de Robichaux, contou seis bebês pendurados no arame da parede que sangraram até a morte.

Se Robichaux e sua equipe entrassem naquele ambiente, eles sabiam que precisariam sair do aeroporto controlado pelos militares para resgatar pessoas.

Suporte e salvamento

O suporte na operação de resgate foi facilitado pelos líderes militares, que autorizaram uma equipe da ONG a pousar um avião e realizar evacuações. Além disso, os Emirados Árabes Unidos permitiram que Robichaux e sua equipe levassem pessoas sem documentação para um centro humanitário em Abu Dhabi.

Os Emirados Árabes Unidos também deram ao grupo um avião C-17 para transportar as pessoas. E então, o comentarista conservador Glenn Beck, um amigo de Robichaux, levantou US$ 21 milhões no rádio para ajudar os veteranos afegãos com aviões fretados.

Todos esses eventos aconteceram em três dias, segundo Robichaux, e são a razão do sucesso da operação.

Com apenas três pessoas na equipe de 12 homens saindo do aeroporto de cada vez para evacuar as pessoas, o grupo salvou 12.000 pessoas nos primeiros 10 dias da operação, levando-as para o centro humanitário em Abu Dhabi.

Apesar do ataque terrorista fora do aeroporto de Cabul, que resultou na morte de 13 militares americanos, Robichaux e sua equipe permaneceram no solo por mais dois meses para resgatar pessoas. Operando a partir de um lugar chamado Mazar-i-Sharif, o grupo conseguiu transportar outras 5.000 pessoas, segundo contou ao The Christian Post.

A equipe ficou para ajudar as pessoas presas no vale de Panjshir que precisavam chegar ao Tajiquistão, mas não conseguiam viajar devido ao terreno montanhoso e às perigosas corredeiras do rio.

Outra dificuldade eram os militares russos e chineses que protegiam a fronteira, além da presença do Talibã.

"A melhor maneira de continuarmos a servir era ajudando a fornecer informações vitais do outro lado da fronteira", disse Robichaux. "Nós dirigimos cerca de 12 horas até a fronteira e passamos 10 dias no rio, e fizemos cerca de 144 quilômetros de reconhecimento de fronteira."

Qualquer informação que o grupo obtivesse ao fazer o reconhecimento, eles repassavam às ONGs que tentavam evacuar as pessoas e aos comandos que ajudavam a transportar os civis.

Anos após a retirada do Afeganistão, com o Talibã banindo as mulheres das universidades e restabelecendo as leis que exigem que elas usem coberturas faciais completas, Robichaux acha importante compartilhar a "verdade" sobre o que aconteceu e o que sua equipe fez para recuperar as pessoas.

"Deus nos chama para sermos obedientes", disse ele. "E eu acho que é uma ótima história para desafiar as pessoas a fazerem a coisa certa quando a coisa certa precisa ser feita."

"Portanto, é muito importante divulgarmos essa mensagem, compartilhar o livro com as pessoas porque, de uma perspectiva de segurança global, nunca podemos permitir que esse tipo de coisa aconteça novamente."

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