As autoridades de Hong Kong retiraram na quarta-feira um projeto de extradição impopular que provocou meses de protestos caóticos, que desde então se transformaram em uma campanha para uma maior mudança democrática. Os protestos foram marcados por momentos de violência, mas também por manifestações que envolviam louvores entoados e clamores de cristãos por avivamento em Hong Kong.
"Agora anuncio formalmente a retirada do projeto de lei", disse o secretário de Segurança John Lee à legislatura da cidade. Os legisladores pró-democracia imediatamente tentaram interrogá-lo, mas ele se recusou a responder e o presidente da assembléia disse que as regras não permitiam o debate.
A tão esperada desistência da lei foi ofuscada pelo drama em torno da libertação de uma prisão de Hong Kong do suspeito de assassinato, no centro da controvérsia do caso de extradição.
Chan Tong-kai, que completou uma sentença separada por lavagem de dinheiro, disse a repórteres após a sua libertação que ele queria se entregar às autoridades de Taiwan, onde ele tentou matar sua namorada grávida, Poon Hiu-wing.
O governo de Taiwan anunciou na última terça-feira (22), que estava disposto a enviar uma delegação para levar Chan de volta à ilha autônoma para julgamento, mas Hong Kong rejeitou a oferta, dizendo que o suspeito deveria ter permissão para voar desacompanhado para Taiwan para se entregar.
A controvérsia está enraizada na falta de vontade de Hong Kong, uma região chinesa semi-autônoma, de reconhecer a legitimidade dos órgãos legais de Taiwan, que as autoridades comunistas de Pequim consideram uma "província separatista".
A China recusou qualquer contato com a administração do presidente eleito diretamente de Taiwan, Tsai Ing-wen, por sua recusa em endossar a alegação de Pequim de que a ilha é um território chinês aguardando anexação. Isso parece ter levado Hong Kong a rejeitar a cooperação com Taiwan, devido à insistência de Taipei em um acordo de "assistência jurídica mútua" com Hong Kong, que exigiria que suas instituições negociassem entre si em bases iguais.
Argumentação
A líder de Hong Kong, Carrie Lam, citou repetidamente o caso de Chan como justificativa das emendas propostas à legislação de extradição, dizendo que ele não poderia ser enviado à ilha autônoma, porque não havia um acordo de extradição em vigor.
Mas a proposta alimentou os temores generalizados de que os moradores de Hong Kong, que mantêm seus próprios tribunais independentes desde que voltou do regime britânico para o chinês em 1997, corram o risco de serem enviados para o sistema judicial controlado pelo Partido Comunista da China continental. Lam foi forçada a anunciar no mês passado que desistiria da lei diante de uma oposição feroz.
Os protestos eclodiram no início de junho e atingiram a maior crise política da cidade em décadas, expandindo-se para demandas por sufrágio universal e uma investigação sobre alegações de abusos policiais, mais recentemente incluindo a pulverização de uma mesquita e espectadores com água tingida em azul de alta pressão.
Em meio ao caos político em curso e à violência nas ruas, o futuro de Lam como a escolha de Pequim para liderar Hong Kong tem sido repetidamente questionado.
O jornal Financial Times informou que Pequim pode estar planejando substituir Lam por um executivo-chefe interino já em março, mas está adiando para não parecer ceder às demandas da oposição.