O Reino Unido vive assustadores episódios de esfaqueamento ao ar livre, com dezenas de pessoas, especialmente adolescentes, sendo atacadas enquanto caminham nas ruas.
Os incidentes têm se tornado tão recorrentes que celebridades, como o ator Idris Elba, fazem campanha “Não pare o seu futuro” (DSYF, sigla em inglês) pelo fim dessa grave violência juvenil, praticada por membros de gangues.
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As estatísticas mostram a gravidade da situação. Segundo a Premier Christianity, há duas semanas, Darrien Williams, de 16 anos, foi assassinado a facadas em Bristol. No ano passado, 42 vidas de jovens foram perdidas desnecessariamente devido a esfaqueamentos, entre elas Elianne Andam, de 15 anos, foi atacada em setembro a caminho da escola.
Há uma probabilidade duas vezes maior de adolescentes serem fatalmente esfaqueados agora do que há uma década.
Manchetes de jornais
Crescendo em Abbey Wood, no sul de Londres, a evangelista Karen Saunders, do Centro Missionário da Church Army em Greenwich, conta que testemunhou em primeira mão o atrativo das gangues e o impacto dos crimes com facas:
“Mal passa um dia sem outro esfaqueamento estampar as manchetes – e não apenas em áreas urbanas como Abbey Wood; o flagelo do crime com facas se estende por todo o Reino Unido, de Bristol a Brighton; Bodmin a Birmingham”.
Essa triste realidade está mobilizando vozes em torno da questão. Idris Elba tem gravado mensagens para pedir o fim do crime com facas, resultando no anúncio recente do governo do Reino Unido de que a venda de facas zumbis (facas ornamentadas inspiradas em filmes e séries de TV de zumbis, geralmente com fio serrilhado) será proibida a partir de setembro de 2024.
“É um passo na direção certa, mas, para ser sincera, não sei se resolverá o problema. Na área onde trabalho e moro, facas são comuns, carregadas por crianças a partir dos oito anos de idade. Muitas são obtidas ilegalmente; algumas simplesmente pegam uma faca da cozinha porque sentem a necessidade de estar armadas, de poder se defender, e em alguns casos, simplesmente para parecerem descoladas”, diz Karen Saunders.
“Mas carregar uma faca não é seguro e não é um mecanismo de defesa; na verdade, você tem 70% mais probabilidade de se tornar vítima de sua própria arma. Isso significa que se você for a infeliz vítima de um ataque, carregar uma faca o tornará mais vulnerável e não menos”, alerta a evangelista.
Oração e Bíblia
Karen relata que, como evangelista pioneira do Exército da Igreja, ela visita escolas e centros juvenis para oferecer apoio emocional e prático àqueles cujas vidas são afetadas por gangues, drogas e crimes com facas. Ela está envolvida com cerca de 200 a 300 jovens por semana, oferecendo a eles uma alternativa, um estilo de vida diferente.
“A vida em Abbey Wood é difícil para eles. Eles veem como é fácil ganhar dinheiro com o crime e é difícil convencê-los de que o caminho que Cristo oferece é superior; que possuir relógios e carros caros é um pequeno substituto para o amor de Deus. Mas é isso que eu faço. Esse é o desafio que enfrento todos os dias”, diz a evangelista.
Segundo Karen, seu trabalho está focado em visitar as escolas para compartilhar o poder de Jesus com os grupos de jovens, além de demonstrar o comportamento cristão a eles.
“Em alguns casos, sou a única adulta constante nas suas vidas, preenchendo uma lacuna que outras agências, como os serviços sociais, não têm recursos para preencher”, explica.
“Às vezes, é difícil compartilhar minha experiência nas escolas porque elas são multirreligiosas, mas para aquelas sem um forte vínculo religioso, posso oferecer o poder da oração, além de apoio adicional através dos grupos que conduzo toda semana. Nestes grupos, nós lemos a Bíblia juntos e oramos; construindo resiliência e autoestima através da palavra do Senhor”, diz a evangelista.
Vislumbres de esperança
Karen conta que recentemente um jovem disse que sabe que não irá traficar drogas nem carregar uma faca durante o resto da vida porque “Jesus tem um caminho diferente para mim”.
“São esses momentos que fazem meu trabalho valer a pena, onde posso ver como viver o Evangelho faz a diferença no dia a dia”, alegra-se a evangelista.
Ela relata que em Eltham, um de seus colegas, Nick Russell, viu quatro jovens estabelecerem um relacionamento pessoal com Deus e desistirem de carregar facas.
O seu trabalho relacional com os jovens, baseado no amor e no cuidado pelos jovens, combate a sua profunda desconfiança, a baixa autoestima crônica, o medo, a raiva e a agressão, e permite que eles confiem em sua própria capacidade de ter sucesso no mercado de trabalho, na educação e formação profissional.
Nada substitui o amor de Deus
“Nosso objetivo é levar esses jovens à fé e afastá-los de uma vida de crime antes mesmo de chegarem a esse ponto”, diz Karen.
E continua: “É difícil quando os jovens têm familiares que já estão envolvidos em atividades ilegais, mas isso me inspira ainda mais. Toda semana reservo um tempo para construir relacionamentos, ler a Bíblia e orar com os jovens que encontro, mostrando a eles que existe outro caminho”.
Karen lembra as palavras de Paulo em 1 Coríntios 13:13 sobre a fé, a esperança e o amor, sendo o amor o maior de todos. E diz: “É esse amor que carrego comigo todos os dias; isso me inspira a fazer o trabalho que faço”.
“A fé dá esperança aos jovens, sabendo que Deus está sempre com eles. Quando os jovens da minha região abandonam a educação, é fácil para eles caírem no crime, mas com a ajuda do Exército da Igreja esse não tem de ser o resultado”, esclarece.
“Recentemente, conduzimos um projeto para treiná-los em mecânica de motores, aprendendo um ofício que poderia levar a oportunidades de emprego e a uma vida cheia de propósito, apoiada pelo amor de Deus e pela comunidade cristã mais ampla”, exemplifica.
Um problema mais amplo
Karen diz que é fácil ver o crime com faca como um problema urbano, mas basta olhar as notícias para perceber que ele está em toda parte.
“O [jornal] The Telegraph informou recentemente que o crime com facas está aumentando principalmente nas áreas rurais, por isso, embora o meu trabalho esteja centrado em Abbey Wood, há necessidade de pessoas como Nick e eu em todo o Reino Unido”, justifica.
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“Este é provavelmente o maior problema que nosso país enfrenta hoje. Como cristãos, devemos olhar para a área que nos rodeia – rural ou urbana – e encontrar dentro de nós o poder para chegar aos jovens e oferecer a eles o nosso amor e esperança, e um caminho frutífero que não envolva crime”, diz.
Ela diz que tanto escolas quanto grupos de jovens e igrejas têm algo para dar, algo para contribuir e algo pelo que orar.
“O poder de Deus está dentro de todos nós, e a capacidade de compartilhar esse poder é o dom mais importante que temos para compartilhar.”