Pessoas famintas estão recolhendo bitucas de cigarro para vender e conseguir algum dinheiro na Coreia do Norte, que ocupa o 1° lugar de países que mais perseguem cristãos.
De acordo com relatos de norte-coreanos – que não tiveram os nomes divulgados por motivos de segurança – à Radio Free Asia, os moradores estão coletando pontas de cigarros em grandes eventos públicos e vendendo a fabricantes de roupas e cigarros.
No dia 16 de fevereiro, o país comunista comemorou o Dia da Estrela Brilhante, o aniversário de nascimento de Kim Jong Il, o falecido pai e antecessor do líder Kim Jong Un.
Na data, os moradores de todas as cidades têm o costume de levar flores nas estátuas do falecido líder, e podem passar horas na fila na praça da cidade, esperando sua vez.
Um residente da província de Pyongan do Norte, contou: “A cerimônia das flores em Chongju terminou ao meio-dia. Depois do evento, muitas mulheres foram buscar bitucas de cigarro na rua e em frente à estátua, onde milhares de pessoas se reuniram para dar flores”.
Ele explicou que os homens na fila ficam entediados durante a espera, fumam e jogam as pontas de cigarro no chão. Segundo o morador, a maioria das pessoas que recolheram as bitucas após o evento foram mulheres.
Outra moradora disse que presenciou uma cena semelhante no condado de Ryongchon, durante a colocação de coroas de flores no Dia da Estrela Brilhante em um monumento local, chamado Torre da Vida Eterna.
“Você pode conseguir dinheiro por bitucas de cigarro com filtro se as levar a pessoas que fazem roupas de inverno”, comentou ela.
“Mas, se você levar para quem faz cigarro, você consegue vender por um preço um pouco mais alto. Assim, alguns agricultores sobrevivem recolhendo beatas de cigarro nas estações e nos mercados”.
A norte-coreana explicou que um quilo de pontas de cigarro com filtro vale cerca de 1,13 dólares. Com o valor, é possível comprar três quilos de milho no mercado.
“Sabemos que podemos encontrar muitas pontas de cigarro em eventos políticos como o Dia da Estrela Brilhante. Alguns agricultores optam por recolher bitucas de cigarro em vez de participar no evento em si”, revelou.
Crise alimentar
Após um inverno rigoroso no ano passado, a Coreia do Norte vem enfrentando uma crise alimentar, conforme a Missão Portas Abertas.
A crise se desenrola desde que o governo fechou as fronteiras há mais de três anos em resposta à pandemia e, desde então, há fome, repressões brutais e nenhuma chance de escapar dessa terrível situação.
‘Sem garantia de alimento para trabalhadores’
A Portas Abertas explica que o trabalho de agricultura na Coreia do Norte costuma ser muito difícil, com jornadas longas de trabalho duro e, com frequência, de estômago vazio.
Os agricultores enfrentam a falta de pessoas para trabalhar no campo, ainda mais sem a garantia do alimento durante o período de trabalho.
Para amenizar a crise, o governo prometeu importar arroz, mas isso não alimenta a esperança do povo: “Cristãos norte-coreanos revelaram que a comida importada é distribuída primeiro entre os altos oficiais do governo e depois para os soldados”.
“Quer dizer que apenas uma pequena parte vai para as pessoas comuns. Por isso, a fome é permanente em todo o país”, conta um parceiro da Portas Abertas conhecido como Simon (nome fictício por motivos de segurança).
Generosidade de cristãos em meio à crise
Mesmo em meio à crise alimentar e a terrível situação dos norte-coreanos, o amor cristão se faz presente.
“Há testemunhos inspiradores de cristãos norte-coreanos que estão ajudando os vizinhos. Eles compartilham alimentos, remédios e outros itens de necessidade básica, mesmo que a comida não seja suficiente para eles próprios”, contou Simon.
“Os cristãos secretos estão praticando o amor de Deus nos bastidores e agradecem as orações e encorajamento da igreja livre. Toda a glória a Deus que tem alimentado os seus filhos nesse terrível período de fome”, concluiu.