Para os cristãos que vivem em Mianmar — país que ocupa o 12º na Lista Mundial da Perseguição — os desafios são maiores a cada dia. Isso porque a guerra que acontece por lá é cada vez mais mortal.
Para os birmaneses, a perseguição começa na infância e os meninos são criados para se tornarem monges budistas. Além desse cenário que já torna a vida religiosa difícil, veio a guerra para estabelecer também limitações políticas e étnicas.
No dia 1º de fevereiro de 2021, os militares do Tatmadaw (forças armadas do país) deram um golpe em Mianmar e assumiram o controle, após uma eleição geral vencida por ampla margem pelo partido da líder Aung San Suu Kyi (NLD).
De acordo com a BBC News, ativistas da oposição formaram uma campanha incitando a desobediência civil, com greves e protestos em massa contra o golpe. Os militares usaram violência para dispersar os movimentos e a desobediência civil aumentou. Ou seja, o que era para ser apenas uma “revolta” atingiu o ponto de uma verdadeira guerra civil.
Forças Armadas de Mianmar, março de 2021. (Foto: Wikimedia Commons)
Qual o motivo da guerra em Mianmar?
Assim como em outros países, a guerra se resume por disputa de poder. Nessa disputa há ataques e muitas vítimas.
As milícias locais se autodenominam “Forças de Defesa do Povo”, atacando comboios militares e assassinando autoridades.
Quando o comandante-chefe militar Min Aung Hlaing assumiu o poder, ele recebeu condenação e sanções internacionais por seu suposto papel nos ataques dos militares às minorias étnicas.
Os militares ficam prometendo uma eleição “livre e justa” assim que o estado de emergência em Mianmar terminar. Enquanto isso, o povo sofre todas as consequências: falta de segurança, violência extrema, falta de alimentos, deslocamento interno e o caos total em todas as esferas da sociedade.
Protestos nas ruas de Mianmar. (Foto: Captura de tela/YouTube BBC News)
Crise humanitária do país
Enquanto as lideranças guerreiam entre si, o saldo é o pior possível. A ONG humanitária International Rescue Committee estima que os conflitos que se espalharam por todo o país, desde que os militares tomaram o poder, já deslocaram 220 mil pessoas em 2021.
Segundo a entidade, mais de 14 milhões de pessoas (mais de 25% da população do país) precisam de algum tipo de ajuda humanitária. Acredita-se que mais de 12 mil pessoas morreram desde fevereiro do ano passado.
Entre os mortos há muitos jovens, já que eles arriscam suas vidas para enfrentar os militares. Logo após o golpe, a maioria das mortes de civis ocorreu quando as forças de segurança reprimiram manifestações em todo o país.
Agora, no entanto, o número crescente de mortos é resultado do combate — já que os civis pegaram em armas. A chefe de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, disse em entrevista à BBC que a situação é “catastrófica”.
O clamor do povo
Em março de 2021, a religiosa Ann Rose Nu Tawng, chegou a se ajoelhar diante da polícia para interceder pelo povo e proteger os manifestantes após o golpe militar.
Ela começou a apontar para a situação das pessoas mais vulneráveis. “As crianças não podem ir à escola. Educação, saúde, vida social, econômica e de subsistência — tudo retrocedeu”, ela explicou.
Ela ainda revelou que algumas mulheres entraram em desespero e abortaram porque não poderiam sustentar os filhos devido à pobreza. Por outro lado, Rose elogiou os manifestantes por lutarem pela democracia e pelo bem do país.
“Fazem isso para libertar este país do regime militar. Eu os elogio, tenho orgulho deles e os respeito”, disse conforme a BBC News.
A Igreja tem clamado pela paz em Mianmar. (Foto: Portas Abertas)
Como fica a situação dos cristãos?
Mianmar ou Birmânia é um país do Sul da Ásia que alimenta um nacionalismo religioso muito forte, além da paranoia ditatorial. A ênfase para o povo birmanês, em questão de fé, está no budismo, e isso acaba impulsionando a perseguição aos cristãos.
Quem se converte do budismo para o cristianismo é considerado traidor do sistema de crença em que conheceram desde que nasceram. Uma comunidade que pretende permanecer budista torna impossível a vida das famílias cristãs. Um exemplo disso, é negar água para quem acredita em Jesus.
Para as igrejas também não é nada fácil sobreviver num país assim. Há relatos de templos cristãos que foram atacados por monges que construíram santuários budistas em seu interior. Em áreas rurais os cristãos são atacados por budistas extremistas quando são flagrados em atividades evangelísticas.
Então, bem antes da guerra, os cristãos já enfrentavam grandes batalhas e já eram totalmente vulneráveis à perseguição por grupos insurgentes e pelo exército. Em média, mais de 100 mil cristãos no Norte vivem em campos de deslocados internos, onde são privados de acesso a alimentos e cuidados de saúde.
A pandemia por Covid-19 também acarretou em desafios adicionais, uma vez que muitos cristãos não receberam ajuda governamental. Com a guerra civil, a situação se tornou ainda pior.