Guerras atuais: Iêmen enfrenta guerra civil há 8 anos com níveis alarmantes de sofrimento

Guerra, deslocamento, fome e doenças fazem parte do dia a dia dos iemenitas, que vivem uma das piores crises humanitárias do mundo.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: quinta-feira, 31 de março de 2022 às 13:55
Guerra no Iêmen atingiu níveis alarmantes de violência contra civis. (Foto: Captura de tela/Vídeo BBC News)
Guerra no Iêmen atingiu níveis alarmantes de violência contra civis. (Foto: Captura de tela/Vídeo BBC News)

Você já parou para pensar em quantas guerras acontecem no mundo, neste exato momento? A realidade não se resume aos noticiários diários. Há muitos outros conflitos além da invasão russa à Ucrânia.

A guerra no Iêmen acontece há 8 anos e chega a um dos períodos mais violentos desde 2014. Só no mês de fevereiro, segundo a BBC News, ocorreram mais de 700 ataques aéreos.

De um lado, estão as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas por uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita. Do outro, está a milícia rebelde houthi, de xiitas, apoiada pelo Irã, que controla a capital Sanaa, e partes do oeste do país.

Quem sabe o que está acontecendo entre o povo iemenita? O que as pessoas recebem de informação se restringe aos interesses de governos e aos olhos da imprensa secular. Mas, aos olhos de Deus, tudo é levado em conta.

Qual o motivo da guerra no Iêmen?

Disputa de poder. O conflito tem suas raízes no fracasso de um processo político que deveria trazer estabilidade ao Iêmen após a Revolução Iemenita de 2011 — que foi parte da Primavera Árabe.

Essa revolução forçou o presidente autoritário de longa data, Ali Abdullah Saleh, a entregar o poder a seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi. Como presidente, Hadi lutou contra diversos problemas, incluindo ataques de jihadistas, um movimento separatista no sul, a lealdade contínua do pessoal de segurança a Saleh, além de corrupção, desemprego e insegurança alimentar.

O movimento Houthi — conhecido formalmente como Ansar Allah (Partidários de Deus) — aproveitou-se da fraqueza do novo presidente

Eles defendem a minoria muçulmana xiita Zaidi do Iêmen, que combateram uma série de rebeliões contra Saleh durante a década anterior, tomaram o controle de sua região central do norte da província de Saada, no início de 2014, e começaram a avançar para o sul. 

Desiludidos com o governo, muitos iemenitas comuns — incluindo sunitas — os apoiaram e no final de 2014 os rebeldes começaram a tomar a capital, Sanaa.

Muitos países se envolveram nesse conflito interno, entre eles, a Arábia Saudita e outros oito países árabes, principalmente sunitas e apoiados pelos Estados Unidos, Reino Unido e França, com a intenção de ajudar a restaurar o governo de Hadi. 

Por isso, esses países fizeram ataques aéreos contra os membros do movimento Houthi, mas eles tiveram o apoio do Irã.


Iêmen teve mais de 700 ataques aéreos só no mês de fevereiro. (Foto: Captura de tela/Vídeo BBC News)

Movimento Houthi e questões religiosas

As milícias xiitas [Houths] que invadiram e assumiram o controle de Sanaa, capital do Iêmen, representam seus dirigentes Hussein Badreddine al-Houthi e seus irmãos.

O grupo terrorista segue uma corrente do islamismo xiita conhecida como zaidismo. Os zaidistas formam um terço da população e governaram o Iêmen do Norte, seguindo um sistema conhecido como imanato, durante quase mil anos, até 1962.

O movimento possui um slogan que é praticamente modelado pelo Irã: “Alá é maior, morte à América, morte a Israel, maldição sobre os judeus e vitória ao islã”. 

Essas palavras acabaram se tornando um sinal de protesto público contra a ditadura do presidente Ali Abdullah Saleh. As pessoas gritavam o slogan para protestar contra suas políticas. 

Crimes de guerra e crise humanitária

Entre protestos e conflitos que culminaram numa guerra sem fim, ambos os lados são acusados ​​de crimes de guerra. Mas eles negam. 

A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Iêmen como a pior situação humanitária do mundo, resultando em níveis chocantes de sofrimento. O país já era um dos mais pobres entre os países árabes e teve a situação agravada após a guerra civil. 

O conflito já gerou 233 mil mortes, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Mais de 10 mil crianças morreram como consequência direta dos combates.

Quatro milhões de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas e mais de 20,7 milhões (71% da população do país) precisam de alguma forma de assistência humanitária ou proteção para sua sobrevivência.

A ONU alerta que a falta de recursos pode agravar a fome para 13 milhões de iemenitas. Estima-se que 2,3 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda, incluindo 400 mil que correm o risco de morrer sem tratamento.

O povo no Iêmen está mais vulnerável do que nunca, sofrendo com o conflito e o aprofundamento da crise econômica que levou milhões à miséria. Os preços dos alimentos mais do que dobraram em grande parte do país. Vale lembrar que a pandemia também passou por lá

Analistas esperavam que a guerra durasse poucas semanas, mas ela já se arrasta há oito anos, e nos últimos anos houve um escalonamento da violência.


Áreas residenciais são atacadas, matando até mesmo os socorristas. (Foto: Captura de tela/Vídeo BBC News)

Como vivem os cristãos no Iêmen

Não bastasse os horrores da guerra, o Iêmen é o 5º país na Lista Mundial da Perseguição 2022. Isso significa que é um dos piores lugares do mundo para um cristão viver. 

Pode-se dizer que é praticamente impossível para um seguidor de Cristo, encontrar paz no Iêmen. Todos os iemenitas são considerados muçulmanos pelo Estado e deixar o islã é expressamente proibido. 

Manter a fé em secreto é a única forma de evitar a perseguição. Os principais fatores para esse cenário de intolerância religiosa são a opressão islâmica, paranoia ditatorial e crime organizado.

Deixar o islã é considerado um crime no Iêmen e os "fora-da-lei" podem pagar com a própria vida pela desobediência e desrespeito à Constituição. Mas, não são apenas as autoridades que perseguem os cristãos, há também os grupos extremistas islâmicos que agem com total violência.

As tribos podem matar ou banir qualquer membro que se converta ao cristianismo. Mesmo assim, parece que os cristãos iemenitas não pensam em desistir de sua fé. 

“Nós, cristãos, carregamos uma esperança que nos ajuda com a certeza de que o amanhã será melhor e, pela vontade de nosso Senhor, passaremos por isso e por todas as ansiedades e medos que nos cercam”, disse Nasser, um cristão perseguido que vive na Península Arábica.

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