Há muitas polêmicas girando em torno do que é o socialismo, principalmente, depois que alguns cristãos passaram a acreditar que “Jesus foi um revolucionário” e que o modelo bíblico aponta para esse sistema de governo durante a leitura de Atos 2. Será que esse sistema político-econômico se encaixa dentro dos princípios cristãos?
Segundo o pastor John Piper, doutor em Teologia, fundador do movimento Desiring God e autor de vários livros, o que foi relatado na época da Igreja Primitiva mostra que não houve uma imposição do governo da época, mas que as pessoas agiram voluntariamente.
“Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.” (Atos 2.44,45)
Sobre o socialismo
O termo socialismo pode se referir a teorias de organização econômica que advogam a administração e propriedade coletiva dos meios de produção e distribuição de bens. Basicamente, defende uma sociedade livre de desigualdades.
John Piper, no entanto, alerta que o socialismo pretende colocar essa teoria em prática “removendo a propriedade privada”, não por voluntariedade, mas à força.
O que aconteceu em Atos 2?
Conforme a Bíblia, as pessoas queriam se afastar daquela geração corrompida e aceitaram a mensagem dos discípulos. Muitos foram batizados e passaram a viver em comunhão, comendo e orando juntos. Essa comunidade experimentou o temor e o amor Deus.
Somente depois disso, é que passaram a ter tudo em comum, vendendo propriedades e bens e distribuindo a cada um conforme suas necessidades. Nota-se que não houve nenhum tipo de imposição política, mas as pessoas agiram por vontade própria. Além disso, o episódio ocorreu exclusivamente dentro da comunidade cristã.
“Não sou um especialista em ciência política ou economia, mas a primeira coisa que devo dizer é que, na igreja, ninguém deve passar fome, ficar sem um lugar para morar, ninguém deve ficar sem assistência médica, sem emprego, e assim por diante. Tudo isso deve acontecer através da ajuda voluntária de outros crentes, sem coerção”, disse Piper.
“Veja bem, ‘não roubarás’ não faz sentido onde ninguém tem o direito de possuir bens. A razão pela qual eu saliento que tudo isso se dava sem coerção, não forçado, é por causa de uma forte ênfase que Paulo coloca em dar aos pobres em 2 Coríntios 8-9, voluntariamente, não com tristeza ou por necessidade”, continuou.
“Como eu entendo o socialismo”
Piper enfatiza ainda “o socialismo como eu o entendo, se refere a um sistema econômico e social que, através de coerção legal, governamental ou militar — em outras palavras, você vai para a cadeia se não o fizer — estabelece a propriedade social em detrimento da propriedade privada”, esclareceu.
Para o pastor, a coerção é usada para estabelecer controle social. “O socialismo toma emprestados os objetivos compassivos do cristianismo em atender as necessidades das pessoas enquanto rejeita a expectativa cristã de que tal compaixão não seja coagida”, explicou. O socialismo, portanto, segundo Piper, atrai as pessoas pelos direitos que ele traz, mas elas se esquecem que os benefícios foram conseguidos por imposição.
“A coerção pode ou não sair pela culatra e resultar em maior pobreza, ou em uma uniformidade parda, ou pior: o abuso da coerção como vimos em Estados assassinos como a União Soviética e o Camboja”, enfatiza. “Há, sem dúvida, verdadeiras injustiças que criam mais dificuldades para o pobre sair da pobreza e facilitam que os ricos façam o que é ilícito e não sejam punidos”, lembra.
Impulsos do cristianismo
O pastor lembra das principais motivações dos cristãos – compaixão pelos desfavorecidos, justiça sob a lei sem levar em conta o status, liberdade para criar e produzir e possuir propriedade privada.
“Minha própria sensação é que a história, a razão e uma maior reflexão bíblica levam à conclusão de que liberdade e direitos de propriedade proporcionam um bem-estar de longo prazo”, relacionou.
“Não podemos deixar de dizer, finalmente, que todo sistema político e econômico eventualmente entrará em colapso, se houver impulsos morais insuficientes para restringir o egoísmo humano e encorajar a honestidade e as boas obras mesmo quando ninguém está vendo”, concluiu.