Luciano Subirá é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR e idealizador do ministério Orvalho, de ensino da Palavra de Deus que visa equipar o Corpo de Cristo para o desempenho do seu serviço.
Na última semana, Subirá esteve em São Paulo para o café de pastores do CPESP, no Salão Internacional Gospel, e concedeu entrevista ao GUIAME falando sobre o delicado cenário do relacionamento dos cristãos com a política e, principalmente, com candidatos cristãos.
GUIA-ME: O atual cenário político que vivemos parece revelar uma cristãofobia ou cristofobia. Quando algum líder cristão apoia algum candidato pode até o prejudicar levando esse fenômeno em consideração. Como explicar essa situação?
LS: Parte da responsabilidade é nossa como Igreja. Durante muito tempo a gente separou o ser cristão do ser cidadão, como se envolver-se com política fosse coisa do mundo e criamos uma cultura de não se misturar, pelo menos para uma grande maioria.
Estou pastoreando há mais de 20 anos e nunca tinha me posicionado com a atitude de declarar apoio a algum candidato. Creio que o cristão precisa se envolver com a política, mas como líder, quando alguém sinaliza pro lado da política partidária é complicado porque pessoas do rebanho podem ter outro partido e ideologia, então sempre me guardei.
Esse ano eu manifestei apoio a um candidato presidenciável porque todo mundo pergunta e eu não faria isso no púlpito, então fiz na rede social dizendo que ali não era o pastor, mas o cidadão falando. Eu fique surpreso com a reação. Eu me dei ao luxo de visitar as páginas pessoais das pessoas que criticaram e vi que eles eram de outros partidos, então eu não levei sério a consideração deles porque eles sentiram que eu estava indo contra o que eles apoiavam.
Acho que temos as duas coisas. A primeira é a falta de cultura que criamos. Por exemplo, as pessoas do meu rebanho não têm que torcer pro mesmo time que eu, mas a gente vive um momento sensível onde todos têm que usar bem a sua influência. Nós ainda não encontramos o ponto de equilíbrio. Não falar é prejudicial e para falar tem que haver um cuidado para fazer de forma respeitosa.
Eu ainda me assusto com essa pobreza de mentalidade que temos em relação à cidadania, a lutar pelo que se deve, como se fossem coisas que não temos que fazer. No passado, os cristãos construíram muitas das sociedades que fizeram diferença com os valores da Palavra.
GUIA-ME: Alguns cristãos evangélicos, quando declaram apoio a candidatos da mesma fé, parecem ter a ilusão de que tudo se resolve apenas em termos espirituais, deixando de lado o caráter, testemunho e vida política do candidato. Concorda? Como mudar essa mentalidade?
LS: Isso acontece muito e realmente é uma ilusão. Crente não tem que votar em crente, ele (candidato) tem que ser mais do que crente, crente é o mínimo que ele tem que ser. Pra alguns isso é o máximo, se for crente já está bom, mas, pra mim, esse é o mínimo.
Olho para candidatos que nunca fizeram nada por ninguém a vida inteira, mas de repente, têm chamado e vocação. Vejo que muita gente, quando vota em cristãos está perdendo o voto porque alguns deles não vão viver os valores cristãos lá e ainda vão difamar o evangelho. Temos que ter critério.
Além de não fantasiar, afinal se tivermos um presidente cristão, ele não vai ser um ditador cristão e criar a lei que todo mundo tem que ir no culto, todo mundo tem que converter. Não existe isso.
Parece que os cristãos imaginam que tem que ter algo que nos favoreça em detrimento dos demais, o que também não é correto. Jesus disse que Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos. Ou seja, alguns direitos são da humanidade no geral, não importa a fé que todos tenham. O governante que estiver lá também vai defender interesses de quem pensa de outra forma.
Queremos ver os valores da Palavra lá (governo) sim, mas se quem estiver também começar a misturar as coisas, vamos ter outro tipo de problema.
por Juliana Simioni
GUIAME.COM.BR