Desde que o confeiteiro Jack Phillips seguiu suas crenças religiosas e se recusou a fazer um bolo que seria usado para celebrar um casamento gay, ele perdeu 40% dos negócios de sua confeitaria e teve que demitir metade da equipe.
Isso o levou às lágrimas às vezes, como aconteceu do lado de fora do prédio da Suprema Corte dos Estados Unidos depois da audiência do caso "Masterpiece Cakeshop vs. Comissão de Direitos Civis do Colorado", realizada na última terça-feira (5).
"Houve muitas lágrimas e muitos dias difíceis para nós. Eu tive que deixar de criar a arte para bolos de casamento que eu amo. Eu enfrentei ameaças de morte e assédio", disse o padeiro de Longwood, Colorado, às agências de notícias reunidas do lado de fora do Tribunal.
Mas o casal homossexual ao qual ele recusou a encomenda do bolo insistiu que caso fossem derrotados nesta causa, isso poderia "abrir as portas para a discriminação e poderia prejudicar até as pessoas que não são homossexuais".
"Se um empresário pode escolher a quem ele serve com base em suas convicções, um proprietário de hotel se recusaria a alugar um quarto para um casal inter-racial porque sua fé acreditava que pessoas de cores diferentes não deveriam se misturar?", perguntou David Mullins, um dos dois parceiros que encomendou o bolo e posteriormente entrou com o processo contra Phillips.
Mullins também disse que ele e seu parceiro ficaram profundamente feridos pela recusa de Phillips em fazer o bolo de seu casamento naquele dia, em 2012 e fez com que ele e seu "noivo" se sentissem como cidadãos de segunda classe.
"Estávamos mortificados e humilhados", lembrou Mullins. "E o mais rápido possível saímos dali".
Phillips, no entanto, sente que não fez nada de errado e recorreu a cada instância, até a Suprema Corte dos Estados Unidos, porque ele não acredita que o governo deve ter o direito de ordenar que os americanos apoiem algo em contradição direta à sua consciência.
"É difícil acreditar que o governo está me forçando a escolher entre prover o sustento de minha família e meus funcionários e violar meu relacionamento com Deus", disse Phillips. "Isso não é liberdade. Isso não é tolerância".
Fora do prédio da Suprema Corte, havia muitas pessoas representando ambos os lados desta questão, porque ambos os lados sentem que há muito em jogo e se identificam com os posicionamentos.
Tony Perkins, do Conselho de Pesquisa em Família, disse que a liberdade de expressão e de crença dos cidadãos está seriamente ameaçada se um padeiro cristão como Phillips pode ser forçado a emitir uma mensagem contra a qual sua consciência se opõe.
"Este caso não é sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Trata-se de lidar com as ramificações da decisão do tribunal há alguns anos que colocam em risco a capacidade dos cidadãos de terem verdadeiramente suas liberdades asseguradas pela Primeira Emenda", disse Perkins à CBN News.
No outro lado da praça, Jennifer See, esposa e mãe de pessoas transexuais, disse que o confeiteiro Phillips é simplesmente preconceituoso.
"Se ele faz bolos para casamento, que diferença faz para quem ele está servindo? Ele não está lá para julgar esses casamentos. Ele está lá para fazer os bolos", disse ela.
"Não podemos retroceder no caminho que vivemos. Esta é uma tentativa de corroer nosso modo de vida", disse Jamie Grant, lésbica e integrante oficial do grupo "Parents & Friends of Lesbians & Gays" ("Pais & Amigos de Lésbicas e Gays").
"Isso não é sobre infantilidades e um bolo. Isso não é bobagem. Isto é sobre a vida e a morte para as pessoas em nossa comunidade", disse Grant à CBN News.
"Estamos basicamente repetindo o que fizemos no passado. Negamos direitos aos negros, ao povo muçulmano, ao povo polonês, a todos esses grupos diferentes que foram discriminados", acrescentou.
Mas o deputado republicano dos EUA, Steve King, R-Iowa, disse que o tribunal está atacando a própria essência da Primeira Emenda se ele for contra Phillips e sua confeitaria.
"O fato do governo obrigar as pessoas, em primeiro lugar, a violarem sua consciência e, em seguida, realizar qualquer tipo de ação que viole sua consciência, é completamente insustentável neste país", disse King.
Os juízes na audiência de uma hora e meia pareciam divididos sobre as ramificações do caso: suas perguntas sugeriam que não queriam prejudicar os direitos civis, mas tampouco queriam pôr em perigo os direitos da Primeira Emenda.
O que remonta tanto suspense sobre este caso é o voto de balança. O juiz Anthony Kennedy tem muitas vezes optado pelos direitos dos homossexuais, mas também já tomou decisões muitas vezes pelos direitos de liberdade de expressão. Então, o caso, de acordo com os observadores do tribunal, realmente está incerto.
"Ele escreveu muitas decisões sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e se viu como o defensor disso", disse Matt Sharp, advogado da Alliance Defending Freedom.
"Ele foi um dos grandes defensores da liberdade de expressão e escreveu algumas das melhores opiniões lá fora. E é sobre isso que se trata este caso: é proteger o direito à liberdade de expressão para profissionais criativos e tantos outros", continuou ele.
"Então, tudo o que ele realmente tem a fazer é seguir esse precedente. Siga essa idéia de que o governo não pode compelir o discurso e essa deve ser uma decisão clara para Jack", acrescentou.
A Suprema Corte geralmente leva meses antes de emitir uma decisão, especialmente em casos cruciais como esse.