Dois navios de guerra iranianos atracaram no Rio de Janeiro, no domingo (26), depois que o Brasil concedeu permissão, apesar da pressão dos EUA para impedi-los.
Conforme o Jerusalem Post, Israel também havia alertado o governo brasileiro sobre o perigo de permitir a entrada de navios de guerra no país, citando que a presença deles no Sul do Oceano Atlântico era um “desenvolvimento lamentável”.
“Ainda não é tarde demais para ordenar que os navios deixem o porto”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores, três dias antes, através de um comunicado.
Sobre os navios de guerra iranianos
Os navios Iris Makran e Iris Dena fazem parte da marinha iraniana que trabalha com a frota da Guarda Revolucionária Islâmica — uma organização terrorista — de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.
“Os navios são dois dos melhores exemplares da Marinha do Irã. O Iris Makran é um porta-helicópteros que faz parte da marinha iraniana desde janeiro de 2021. A embarcação militar tem 228 metros de comprimento e 42 metros de largura”, especificou o professor e cientista político, Heni Ozi Cukier, em seu Instagram.
Segundo Cukier, a segunda embarcação é da classe de fragatas leves, construída e projetada pelo próprio Irã. “A embarcação está equipada com torpedos, canhões navais e mísseis de cruzeiro antinavio”, especificou.
O governo Biden emitiu sanções específicas contra os navios, bem como sua localização geográfica na América Latina. O presidente mencionou que isso os coloca a apenas um continente de distância da costa dos EUA.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse na quarta-feira, dia 1, que o governo Biden visa garantir que o Irã não seja capaz de adquirir uma posição, para não tirar vantagem de outros neste hemisfério.
Em entrevista coletiva em 15 de fevereiro, a embaixadora dos Estados Unidos, Elizabeth Bagley, pediu ao Brasil que não permitisse a atracação dos navios. A decisão do governo brasileiro causou várias polêmicas, de acordo com notícias da Jovem Pan News.
‘O regime iraniano é uma entidade terrorista’
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil — Itamaraty — se pronunciou sobre a atracação dos navios iranianos: “O Brasil não deve conceder nenhum prêmio a um Estado maligno, responsável por inúmeras violações de direitos humanos contra seus próprios cidadãos, executando ataques terroristas em todo o mundo e proliferação de armas para organizações terroristas em todo o Oriente Médio”.
“O regime iraniano executou dezenas de ataques terroristas contra navios, colocando em perigo a liberdade de navegação marítima. Dois dos ataques ocorreram nas últimas semanas”, afirmou ainda.
E reforçou: “Este é o momento de seguir os passos dados pela União Europeia, EUA, Canadá, Austrália, Japão e muitos outros países, e destacar o regime iraniano como o que realmente é: uma entidade terrorista”.
Informações desconectadas
De acordo com a Reuters, o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cedeu à pressão dos EUA e recusou o pedido do Irã para que os navios atracassem no país, no final de janeiro. Na ocasião, Lula estava em Washington para um encontro com Biden.
No entanto, com o fim da viagem, os navios foram liberados para atracar. O vice-almirante Carlos Eduardo Horta Arentz, subchefe do Estado-Maior da Marinha do Brasil, autorizou a atracação dos navios no Rio de Janeiro, entre 26 de fevereiro e 4 de março, segundo nota publicada no dia 23 de fevereiro, no Diário Oficial da União.
A Embaixada dos EUA em Brasília não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. A Marinha do Brasil, por sua vez, autoriza uma embarcação estrangeira a atracar no país, somente após autorização do Itamaraty, que leva em consideração o pedido e a logística da embaixada solicitante.
A presença dos navios de guerra iranianos na costa brasileira continua a incomodar os EUA, que buscam estreitar os laços com o governo Lula, que assumiu em 1º de janeiro.
‘Esses navios não devem atracar em lugar nenhum’
Ainda de acordo com o Jerusalem Post, no passado, esses navios iranianos facilitavam o comércio ilegal e atividades terroristas. Além disso, foram sancionados pelos Estados Unidos.
“O Brasil é uma nação soberana, mas acreditamos firmemente que esses navios não devem atracar em lugar nenhum”, disse Elizabeth Bagley.
A diplomacia com o Irã foi um dos destaques das tentativas de Lula de fortalecer a posição internacional do Brasil durante seus mandatos presidenciais anteriores.
Ele viajou para Teerã para se encontrar com o então presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2010, quando ele buscava intermediar um acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos.
Navio de guerra do Irã atracado no Rio de Janeiro. (Foto: Captura de tela/YouTube The Watchman with Erick Stakelbeck)
Críticas ao Brasil
O senador Ted Cruz, membro dos comitês de Relações Exteriores e de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, reagiu criticando o presidente Lula, a quem chamou de “chavista alinhado contra os EUA”, conforme a Folha de S.Paulo.
Cruz defendeu que sejam aplicadas as leis americanas contra o terrorismo: “O governo Biden é obrigado a impor sanções relevantes e reavaliar a cooperação do Brasil com os esforços antiterroristas dos EUA”.
Além disso, ele disse ainda que o Brasil precisa “ser reexaminado”, para que eles saibam se o país realmente está “mantendo medidas antiterroristas eficazes em seus portos. Se o governo não fizer, o Congresso deve obrigá-lo a fazê-lo”, ele resumiu.
O professor Cukier alertou que essa não é a primeira vez que o Brasil ignora pedidos de países aliados: “Recentemente, o país recusou o pedido de Berlin para o envio de munições que seriam utilizadas em tanques na Ucrânia. Em resposta, a Alemanha vetou a exportação de 28 blindados guaranis do exército brasileiro para as Filipinas”.
“Aliar-se com países autoritários como Irã e Rússia é um perigo para a imagem do Brasil no exterior, podendo gerar repercussões sérias para a economia do país e, consequentemente, para os brasileiros”, concluiu.