Professor cristão que recusou usar pronome neutro para aluno retorna à prisão pela 3ª vez

O irlandês Enoch Burke voltou aos tribunais em meio a disputa sobre crenças religiosas e identidade de gênero que se arrasta de 2023.

Fonte: Guiame, com informações da BBCAtualizado: quinta-feira, 4 de dezembro de 2025 às 17:55
O professor Enoch Burke sendo levado pela polícia com as mãos acorrentadas. (Captura de tela/X/Enoch Burke)
O professor Enoch Burke sendo levado pela polícia com as mãos acorrentadas. (Captura de tela/X/Enoch Burke)

O professor Enoch Burke, conhecido por se recusar a adotar pronomes e nomes associados à identidade de gênero de um aluno, voltou a comparecer nesta semana aos Four Courts, onde seu caso foi novamente analisado pelo juiz Brian Cregan.

Burke é professor de alemão, história e política na Wilson's Hospital School, uma escola da Igreja da Irlanda no condado de Westmeath. 

Por ser evangélico, ele se recusou a se dirigir a um aluno em transição de gênero como “elu” em vez de “ele”, o que deu início a uma disputa entre o professor e a escola. Ele foi suspenso em um processo disciplinar, mas se recusou a deixar de ir à escola para trabalhar. 

Agora, Burke retorna aos tribunais em audiência marcada por tensões, acusações de abuso de autoridade e críticas à condução judicial do processo, que já se arrasta há três anos.

‘Mentiras e perseguições’

Logo no início da sessão, o juiz Cregan advertiu que qualquer membro da família Burke que se manifestasse seria imediatamente retirado do tribunal pela Garda Síochána, a polícia irlandesa.

A declaração gerou forte reação entre apoiadores de Burke, que consideram a postura excessivamente restritiva.

Durante a audiência, Burke reiterou acusações de que a decisão do juiz Cregan, datada de 18 de novembro, continha “mentiras” e afirmações que manchariam sua reputação – entre elas, a alegação de que ele seria uma presença “malévola” na escola, que estaria “perseguindo” professores e alunos, e que representaria um potencial perigo. Burke classificou as afirmações como “infundadas”.

O juiz rebateu dizendo que usou o termo stalking de forma “figurada e metafórica”, o que provocou ainda mais contestação por parte do professor e de sua família.

Burke também acusou o magistrado de omitir trechos essenciais de depoimentos e de utilizar seletivamente declarações da diretora da Wilson’s Hospital School para embasar sua sentença.

Ao ser confrontado, o juiz teria apenas respondido: “Siga em frente”.

Ao longo da sessão, Cregan ainda mencionou um artigo publicado na manhã do mesmo dia no Irish Independent, assinado pelo jornalista Shane Phelan, e fez perguntas a Burke sobre o conteúdo da reportagem – algo que os familiares classificaram como “estranho” e pouco habitual em um procedimento judicial.

Disputa sobre liberdade religiosa

Um dos pontos que mais geraram polêmica foi a interpretação do juiz sobre a liberdade religiosa.

Segundo familiares que acompanharam a sessão, Cregan afirmou três vezes que, se Burke tivesse “praticado sua fé cristã do lado de fora dos portões”, nada disso teria acontecido – uma leitura considerada pela família como uma “nova versão” da Constituição irlandesa.

Burke sustenta que sua objeção à ordem da escola – que exigia o uso de um novo nome e do pronome neutro they para um aluno – está fundamentada em sua convicção religiosa e em sua consciência, e que o Estado não poderia obrigá-lo a contrariá-las.

Decisões divergentes e possível recurso

A defesa do professor também destacou inconsistências no tratamento do caso nos tribunais superiores.

Em março de 2023, o Tribunal de Apelação afirmou que o processo não estava relacionado às crenças de Burke. Já em julho de 2025, o mesmo tribunal concluiu que a disciplina aplicada ao professor estava diretamente ligada à sua objeção baseada na fé cristã.

Segundo a família, essa contradição cria um cenário de “caos jurídico” e reforça a necessidade de recorrer à Suprema Corte.

Burke deve apresentar um pedido formal para que o caso seja analisado pela instância máxima.

“Sentença de vida”

Outro ponto polêmico surgiu quando o juiz Cregan afirmou que Burke não receberá liberação temporária para o Natal ou a Páscoa, o que levou familiares a classificarem a medida como “uma sentença de vida”.

A família insiste que o conflito não começou com Burke, mas com a exigência da direção da Wilson’s Hospital School para que ele adotasse o novo nome e os pronomes escolhidos pelo aluno.

Eles afirmam que o professor está sendo punido por se recusar a “negar sua fé cristã” e aderir ao que chamam de “ideologia transgênero”.

O caso, que tem repercussão nacional, continua a mobilizar debates sobre liberdade religiosa, direitos de pessoas trans e os limites da autoridade escolar e judicial na Irlanda.

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