O professor Enoch Burke, conhecido por se recusar a adotar pronomes e nomes associados à identidade de gênero de um aluno, voltou a comparecer nesta semana aos Four Courts, onde seu caso foi novamente analisado pelo juiz Brian Cregan.
Burke é professor de alemão, história e política na Wilson's Hospital School, uma escola da Igreja da Irlanda no condado de Westmeath.
Por ser evangélico, ele se recusou a se dirigir a um aluno em transição de gênero como “elu” em vez de “ele”, o que deu início a uma disputa entre o professor e a escola. Ele foi suspenso em um processo disciplinar, mas se recusou a deixar de ir à escola para trabalhar.
Agora, Burke retorna aos tribunais em audiência marcada por tensões, acusações de abuso de autoridade e críticas à condução judicial do processo, que já se arrasta há três anos.
‘Mentiras e perseguições’
Logo no início da sessão, o juiz Cregan advertiu que qualquer membro da família Burke que se manifestasse seria imediatamente retirado do tribunal pela Garda Síochána, a polícia irlandesa.
A declaração gerou forte reação entre apoiadores de Burke, que consideram a postura excessivamente restritiva.
BREAKING: Judge jails Enoch Burke for Christmas with effective life sentence
— Enoch Burke (@EnochBurke) December 3, 2025
This is a dark and shameful day in Ireland. Enoch Burke is an exemplary teacher and a man of integrity. His only “crime” is that he refuses to endorse transgenderism and bow to a satanic ideology.… pic.twitter.com/x3m260lODa
Durante a audiência, Burke reiterou acusações de que a decisão do juiz Cregan, datada de 18 de novembro, continha “mentiras” e afirmações que manchariam sua reputação – entre elas, a alegação de que ele seria uma presença “malévola” na escola, que estaria “perseguindo” professores e alunos, e que representaria um potencial perigo. Burke classificou as afirmações como “infundadas”.
O juiz rebateu dizendo que usou o termo stalking de forma “figurada e metafórica”, o que provocou ainda mais contestação por parte do professor e de sua família.
Burke também acusou o magistrado de omitir trechos essenciais de depoimentos e de utilizar seletivamente declarações da diretora da Wilson’s Hospital School para embasar sua sentença.
Ao ser confrontado, o juiz teria apenas respondido: “Siga em frente”.
Ao longo da sessão, Cregan ainda mencionou um artigo publicado na manhã do mesmo dia no Irish Independent, assinado pelo jornalista Shane Phelan, e fez perguntas a Burke sobre o conteúdo da reportagem – algo que os familiares classificaram como “estranho” e pouco habitual em um procedimento judicial.
Disputa sobre liberdade religiosa
Um dos pontos que mais geraram polêmica foi a interpretação do juiz sobre a liberdade religiosa.
Segundo familiares que acompanharam a sessão, Cregan afirmou três vezes que, se Burke tivesse “praticado sua fé cristã do lado de fora dos portões”, nada disso teria acontecido – uma leitura considerada pela família como uma “nova versão” da Constituição irlandesa.
Burke sustenta que sua objeção à ordem da escola – que exigia o uso de um novo nome e do pronome neutro they para um aluno – está fundamentada em sua convicção religiosa e em sua consciência, e que o Estado não poderia obrigá-lo a contrariá-las.
Decisões divergentes e possível recurso
A defesa do professor também destacou inconsistências no tratamento do caso nos tribunais superiores.
Em março de 2023, o Tribunal de Apelação afirmou que o processo não estava relacionado às crenças de Burke. Já em julho de 2025, o mesmo tribunal concluiu que a disciplina aplicada ao professor estava diretamente ligada à sua objeção baseada na fé cristã.
Segundo a família, essa contradição cria um cenário de “caos jurídico” e reforça a necessidade de recorrer à Suprema Corte.
Burke deve apresentar um pedido formal para que o caso seja analisado pela instância máxima.
“Sentença de vida”
Outro ponto polêmico surgiu quando o juiz Cregan afirmou que Burke não receberá liberação temporária para o Natal ou a Páscoa, o que levou familiares a classificarem a medida como “uma sentença de vida”.
A família insiste que o conflito não começou com Burke, mas com a exigência da direção da Wilson’s Hospital School para que ele adotasse o novo nome e os pronomes escolhidos pelo aluno.
Eles afirmam que o professor está sendo punido por se recusar a “negar sua fé cristã” e aderir ao que chamam de “ideologia transgênero”.
O caso, que tem repercussão nacional, continua a mobilizar debates sobre liberdade religiosa, direitos de pessoas trans e os limites da autoridade escolar e judicial na Irlanda.
