Talibã muda nome do país para Emirado Islâmico do Afeganistão e lei Sharia entra em vigor

Jornalistas estão sendo procurados e cristãos já começaram a ser mortos por expressarem sua fé em país islâmico.

Fonte: Guiame, com informações de CNN e DWAtualizado: sexta-feira, 20 de agosto de 2021 às 13:46
Combatentes do Talibã patrulham o bairro de Wazir Akbar Khan, em Cabul, capital do Afeganistão, em 18 de agosto de 2021. (Foto: Rahmat Gul/AP)
Combatentes do Talibã patrulham o bairro de Wazir Akbar Khan, em Cabul, capital do Afeganistão, em 18 de agosto de 2021. (Foto: Rahmat Gul/AP)

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, anunciou nesta quinta-feira (19) que o Afeganistão passou a se chamar “Emirado Islâmico do Afeganistão”. O nome é o mesmo adotado quando o grupo extremista esteve no poder do país pela primeira vez, em 1996.

Mujahid é o mesmo que concedeu uma entrevista coletiva, na terça-feira (17) afirmando que o grupo teria atitudes mais “moderadas” desta vez. Mas, um dos principais comandantes do Talibã, Waheedullah Hashimi, já disparou que as leis no país serão semelhantes às do passado e não há possibilidade de democracia.

“Não haverá nada como um sistema democrático porque isso não tem nenhuma base no nosso país, nós não vamos discutir qual será o tipo de sistema político que vamos aplicar no Afeganistão porque isso é claro: a lei é Sharia, e é isso”, resumiu Hashimi.


Combatentes do Talibã patrulham as ruas em Cabul, capital do Afeganistão, em 19 de agosto. (Foto: Rahmat Gul/AP)

Jornalistas começam a ser procurados

Também nesta quinta-feira, Dia da Independência do Afeganistão, o grupo reagiu com violência aos primeiros sinais de resistência à sua tomada de poder. E, na sexta-feira, alguns jornalistas afegãos dizem que foram espancados e tiveram suas casas invadidas desde o retorno do Talibã.

De acordo com informações da Deutsche Welle (DW), os talibãs foram às residências de pelo menos três jornalistas da emissora. Eles mataram a tiros o parente de um jornalista que trabalhava para a DW e que era procurado pelos militantes. 

Um outro familiar do profissional ficou gravemente ferido e vários conseguiram fugir. A identidade do jornalista não foi revelada, mas atualmente ele mora e trabalha na Alemanha. 

Cristãos que têm Bíblia online no celular estão sendo mortos

De acordo com a rede de TV cristã SAT-7, os militantes talibãs estão revistando telefones e retirando crentes do transporte público para assassiná-los no local. A perseguição religiosa será mais intensa agora que o Talibã está no poder.

“É incrivelmente perigoso agora para os afegãos ter algo cristão em seus telefones. O Talibã tem espiões e informantes em todos os lugares”, disse o presidente do SAT-7 na América do Norte, Dr. Rex Rogers. Os cristãos estão isolados e com medo de serem descobertos.


Militantes talibãs estão revistando telefones e retirando crentes de transporte público para assassiná-los no local. (Foto: EFE/Stringer)

“Por ser muito perigoso buscar a companhia de outros cristãos, muitos crentes afegãos estão totalmente sozinhos, sem nenhum outro cristão com quem conversar”, relatou Rogers.

Agora, em meio a um ambiente de insegurança e terror, os crentes estão buscando encorajamento e esperança por meio de programações cristãs que ainda são transmitidas.

A força e a violência do Talibã

Os talibãs nunca estiveram tão fortes. Só nas últimas semanas, pilharam equipamento de guerra americano de alta tecnologia. Com exceção da província de Panjshir, ao norte de Cabul, notória por sua resistência permanente contra o Talibã, agora os extremistas controlam novamente quase todo o país. 

Ainda no sábado, o serviço secreto americano CIA estimava que a capital seria tomada nos próximos 30 a 90 dias – no fim das contas, não foram nem 24 horas. Mesmo analistas renomados de Washington ficaram sem palavras diante das ocorrências mais recentes. 


Principais lideranças do Talibã ao assumir o poder do Afeganistão, em 16 de agosto de 2021. (Foto: Imagem de TV Al Jazeera/AFP)

A imprensa do mundo inteiro mostra o resumo do que está acontecendo numa das nações mais conflituosas da história. Na entrevista improvisada à emissora Al Jazeera, um dos comandantes do Talibã chegou a mencionar que durante oito anos estivera preso e fora torturado pelos americanos na prisão de Guantánamo. Provavelmente, ele agora planeja sua vingança.

“Eles não querem paz”

O desespero dos afegãos é um sinal. As pessoas estão com medo do terror que já viram de perto. Se as tentativas de um acordo de paz não funcionaram antes da tomada do governo pelo Talibã, agora parece menos provável.

De acordo com a CNN, desde setembro os diálogos entre o governo afegão e o Talibã eram intensos. “O Talibã via Ghani e seu governo como fantoches dos EUA e a equipe de negociadores afegãos indicados em Cabul não fizeram nenhum progresso significativo”, conforme o veículo.

“A questão é que ninguém confia em nada que venha da boca do Talibã”, disse uma mulher em entrevista à CNN, que preservou sua identidade por motivos de segurança. 

“Eu duvido muito que o Talibã tenha mudado. Eles não têm os mesmos valores que o povo afegão. A democracia está fora de cogitação para eles. Estamos convencidos de que o Talibã está colocando uma fachada porque a comunidade internacional e as Nações Unidas estão observando-os de perto", disse ela.

“Estou tentando ver como posso deixar o país através de ONGs e agências humanitárias”, concluiu a mulher em fuga. 

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