Após ser aprovada por ampla maioria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a proposta de emenda para incluir na Constituição Federal a criminalização da posse e porte de qualquer droga, inclusive para uso pessoal, começou a ser debatida no Plenário do Senado.
O debate em Plenário sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relacionada às drogas teve a primeira, das cinco sessões obrigatórias, antes da votação em primeiro turno.
Caso seja aprovada em primeiro turno pelo Plenário, a PEC ainda precisará passar por três sessões de discussão antes do segundo turno de votação.
O quórum necessário para a aprovação é de no mínimo três quintos da composição da Casa, o que equivale a 49 senadores. Se aprovada, a PEC será encaminhada para a Câmara dos Deputados.
Conforme o debate sobre o consumo da maconha se intensifica no Brasil, com julgamento no Supremo Tribunal Federal e votação da PEC no Senado, alguns especialistas alertam para os efeitos colaterais do seu consumo.
De acordo com um novo estudo publicado no Journal of the American Heart Association, o consumo diário de maconha pode acarretar complicações sérias para a saúde cardiovascular, mesmo em pessoas que demonstraram ter boa condição física.
Pesquisa nos EUA
Os pesquisadores compararam o impacto da maconha nos riscos de doença cardíaca coronária, enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) entre a população adulta em geral e aqueles que nunca fumaram tabaco.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF) analisaram dados do CDC de 434.104 entrevistados para investigar a associação entre o uso de cannabis e eventos cardiovasculares.
Dos entrevistados, aproximadamente 4% eram fumantes diários de maconha, 7,1% eram usuários não diários e 88,9% não haviam consumido maconha nos últimos 30 dias.
O estudo descobriu que os usuários diários de cannabis apresentaram um risco aumentado de 25% de sofrer um ataque cardíaco e um risco aumentado de 42% de acidente vascular cerebral.
Os pesquisadores afirmaram que o uso da maconha estava associado a "resultados cardiovasculares adversos, com uso mais frequente (mais dias por mês) associado a maiores chances de resultados adversos".
Alerta de especialistas no Brasil
Recentemente, duas entidades médicas brasileiras se posicionaram contra a liberação da maconha no país.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) emitiram uma nota conjunta, alertando sobre os perigos do consumo da droga.
“Trata-se de uma droga que causa dependência gravíssima, com importantíssimos danos físicos e mentais, inclusive precipitando quadros psicóticos (alguns não reversíveis) ou agravando sintomas e a evolução de padecentes de comorbidades mentais de qualquer natureza, dificultando seu tratamento, levando a prejuízos para toda a vida”, ressaltou a CFM e a ABP no documento.
‘Maconha não é inofensiva’
A Dra. Abra Jeffers, coautora do estudo e pesquisadora do Massachusetts General Hospital, compartilhou suas reações às descobertas do estudo com a Fox News Digital.
“As pessoas pensam que a maconha é inofensiva. Não é”, disse ela. “Descobrimos que usar maconha (principalmente fumando) é tão ruim quanto fumar cigarros de tabaco”.
“Embora tenhamos relatado os resultados do uso diário, qualquer uso aumenta o risco – com mais dias de uso por mês associados a um risco maior”.
Autora sênior do estudo, a professora de medicina na Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF), Salomeh Keyhani, escreveu no mesmo comunicado de imprensa que "o uso de cannabis está aumentando tanto em prevalência quanto em frequência, enquanto o tabagismo convencional está diminuindo".
A médica acrescentou: “O uso de cannabis por si só pode, com o tempo, tornar-se o fator de risco mais importante”.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, o Dr. Robert Page, que atua como presidente da American Heart Association, disse que o estudo é “único” na medida em que analisou os fumantes de cannabis separadamente dos usuários de tabaco.
“A cannabis não é um espectador inocente quando se trata de saúde cardiovascular”, afirmou.
Sinais de segurança
Ele enfatizou a importância dos “sinais de segurança” que surgiram do estudo, que inclui a necessidade de os pacientes serem “mais transparentes” sobre o uso de cannabis com seus médicos.
Isso é particularmente importante se um paciente tiver uma condição cardíaca subjacente ou tiver experimentado um evento cardiovascular durante o uso de cannabis sem relatar isso.
O que foi “assustador” neste estudo, disse Page, é que a maioria dos entrevistados era “razoavelmente saudável”.
A faixa etária de fumantes diários de maconha variava de 18 a 34 anos.
"Esses são os indivíduos que geralmente não vão ao seu médico de cuidados primários porque são jovens e acham que são invencíveis", disse ele. "E isso é o que me preocupa."
‘Efeitos colaterais’
Muitos dos pacientes de Page, que têm permissão para fumar maconha livremente no estado do Colorado, presumem que, por ser uma substância natural, "deve ser segura", afirmou ele.
"Isso está longe da verdade", disse ele à Fox News Digital. "Os canabinoides têm o que chamamos de efeitos psicotrópicos que afetam sua percepção ... e estado mental. E, assim como medicamentos prescritos que são psicotrópicos, eles têm efeitos colaterais."
E acrescentou: "Nós precisamos informar ao público que existe o potencial para esses tipos de eventos cardiovasculares e as pessoas precisam tomar uma decisão informada."
O médico expressou preocupação de que o hábito de fumar maconha possa repetir a história do consumo de cigarros, cujos perigos levaram "muito tempo para serem amplamente reconhecidos pela saúde pública".