Hanukkah, Festa da Dedicação ou Festa das Luzes celebra a vitória da luz sobre as trevas, literal e simbolicamente. Trata-se da vitória do povo judeu contra seus dominadores gregos, uma batalha de valores morais e espirituais contra a opressão profana, o materialismo e a degeneração moral, além da luta pela liberdade de culto.
Hanukkah é uma festa menor comparada às demais, em especial, às três grandes da Torá (Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos), porém, possui uma história realmente inspiradora. O cenário é o da terra de Israel no século II a.C. e, por isso, não consta na Torá. Sua história também não é contada no Velho Testamento protestante, mas está relatada nos primeiro e segundo livros de Macabeus, constantes da versão Septuaginta e que compõem o cânon católico e ortodoxo.
“Quem é como Tu, ó Senhor?”
No ano 168 a.C., o rei greco-sírio, Antíoco Epifânio IV, invadiu Jerusalém e tomou o Templo, erguendo lá uma estátua de Zeus. Ele chegou a oferecer sangue de porco, um animal impuro pela Torá, no altar do sacrifício, uma completa afronta à fé judaica. A perseguição foi crescente a ponto de se proibir a observância do Shabbat, as leis alimentares e até a circuncisão, algo observado desde o patriarca Abraão. Muitos judeus se recusaram a ceder à profanação imposta pelos selêucidas e morreram como mártires pela fé, conforme o segundo livro dos Macabeus.
O pesadelo vivido pelos judeus dessa época começa a ter uma virada quando entra em cena um sacerdote chamado Mattityahu. Quando capangas de Antíoco chegaram a seu vilarejo de Modiin, ergueram um altar e exigiram que ele oferecesse sacrifícios aos deuses gregos. Mattityahu se recusou e declarou que permaneceria fiel à aliança estabelecida por Deus com seus patriarcas. Ele, seus filhos e amigos acabaram por matar alguns oficiais sírios, perseguindo o restante. Ciente de que sofreria violenta retaliação por Antíoco, fugiu para as colinas da Judeia com seus cinco filhos e com os demais homens com quem formou uma pequena força para combater as tropas selêucidas.
Essa força improvisada, liderada por sacerdotes, e bem inferior ao inimigo, resistiu bravamente à luta renhida, promovendo uma espécie de guerra de guerrilha para desgastar seus oponentes. Esses revolucionários ficaram conhecidos como Macabeus por causa do nome do filho mais velho de Mattityahu, Judas Macabeu. Foi ele quem prosseguiu comandando a luta dos judeus após a morte de seu pai. O nome Macabeu provém das iniciais em hebraico Mi Kamocha Ba’eilim HaShem que significa “Quem é como Tu, ó Senhor?”
“Um grande milagre ocorreu ali”
Após o longo conflito e o emprego bem-sucedido de táticas de guerrilha, os Macabeus entraram em Jerusalém para retomar o Templo que havia sido completamente profanado nas mãos dos helenistas por ordem de Antíoco. Após realizarem uma limpeza ritual de todo o complexo, decidiram consagrá-lo, dedicando-o novamente a Deus (e daí provém o nome Hanukkah), restaurando o serviço diário de adoração.
Nesse processo de purificação, os sacerdotes descobriram um pequeno jarro de azeite selado que não fora profanado e podia ser usado na iluminação da menorá no Lugar Santo. Embora o azeite encontrado fosse suficiente apenas para prover iluminação por um dia, aquela pequena quantidade fez com que a menorá fosse iluminada por oito dias consecutivos, um verdadeiro milagre. Esse tempo foi suficiente para que se produzisse mais azeite de modo a permitir seu uso contínuo na iluminação da menorá.
Esse é considerado o milagre de Hanukkah. Embora a guerra contra os selêucidas tenha sido um milagre em si — e sem ela não haveria a retomada do Templo —, o azeite usado na iluminação da menorá é um símbolo de que o Altíssimo esteve com os judeus que se rebelaram contra a profanação de sua fé desde o início. Primeiro, Ele fortaleceu as mãos de Mattityahu para iniciar uma guerra, operando milagre após milagre, até culminar com a multiplicação do azeite da menorá. A expressão “Um grande milagre ocorreu ali” é usada até hoje para se referir a Hanukkah.
A Festa de Hanukkah está citada no Novo Testamento apenas uma vez. “E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão” (João 10:22,23). Definitivamente, Jesus havia subido a Jerusalém para celebrar Hanukkah. O fato dessa Festa não constar na Torá e, ainda assim, Jesus subir a Jerusalém para celebrá-la mostra o quanto Ele estava conectado a suas raízes judaicas.
As lições dos Macabeus
A Revolta dos Macabeus nos traz lições válidas para nosso tempo. Nunca tenha medo de se posicionar a favor do que é correto e justo. A fé de Mattityahu e de seus cinco filhos não os permitiria fazer menos. Não importa se somos perseguidos ou sofremos danos diante dos homens. Deus sempre honra aqueles que o honram. Um homem de fé e de valores morais sólidos é um homem sem medo e lutará por eles até o fim. E Deus continua contando com os Macabeus nos dias de hoje para difundir seu Evangelho, não apenas falado, mas vivido por suas testemunhas.
O óleo na Bíblia é um símbolo do Espírito Santo. Sem esse azeite diário reposto em nosso homem interior, é impossível brilhar sua luz. A comunhão diária com o Espírito Santo é condição essencial para resplandecer sua esperança, fé e amor. E, assim como no milagre de Hanukkah, quanto mais fizermos uso desse óleo, mais ele se multiplicará, tornando mais intenso o brilho da luz do Messias em nossas vidas.
A outra lição é que as trevas não devem ser motivo de temor, mas de estímulo para os que conhecem a luz. Quanto maior a escuridão, maior o brilho da luz. É uma referência para todos os que passam pelo caminho escuro da rua. Ao olharem para ela, de longe reconhecerão sua luz e poderão se guiar. Assim é todo aquele que crê e segue a Yeshua. Como Ele mesmo disse: "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mateus 5:14). Ele é a luz maior e nós somos pequenas menorás e lamparinas nesse mundo a brilhar essa luz; não há como ocultá-la.
Hanukkah é um bom tempo para refletir se temos brilhado sua luz intensamente, se temos sido como um pavio tênue e tremulante, quase se esvaindo, ou se temos estado apagados, sem azeite para brilhar sua luz. Que assim como os Macabeus lutaram para dedicar o Templo a Deus novamente, possamos lutar contra as forças contrárias a fim de remover as cinzas do altar de nosso coração, lançando fora qualquer coisa que o tenha profanado, dedicando nossa vida inteiramente ao Senhor.
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br
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