Nesses 22 anos de advocacia militando na área da família, pude ver muita dor e sofrimento quando a questão é o “rompimento dos laços conjugais”.
Na verdade, por mais que o profissional se esmere em dar o seu melhor, tanto um lado, quanto o outro sempre sairá insatisfeito pois verá uma certa imparcialidade pois suas aspirações não foram 100% atendidas.
Enfim, resolvi mudar o foco e hoje sou advogada dos filhos pois entendo que são eles que mais sofrem com o esfacelamento da família e que mais precisam de ajuda.
Aliás uma célebre frase que usamos é que “parente não se escolhe”, e a verdade é que, os que menos escolheram onde e com quem conviver, são os que mais sofrem com o divórcio: as crianças.
Infelizmente, e não foram poucas vezes, que ouvi as partes dizerem que pelo casamento não ser o que eles desejariam, o divórcio era o único caminho a fim de que eles pudessem alcançar a tão sonhada “felicidade”. E os filhos, eles não têm direito de serem felizes?
Até hoje nunca encontrei um filho que desejasse que seus pais se separassem. As crianças que hoje são adultos relatam a vida difícil e sofrida na disputa de ambas as partes após o divórcio, em ter a atenção, o amor e o companheirismo. Mas a realidade é uma só: um copo quebrado jamais conseguiremos juntar os cacos e torná-lo um copo novamente.
Uma família esfacelada, por mais que a Justiça, a Igreja, ou ainda todo o esforço humano venha contribuir para que os danos do divórcio sejam os menores possíveis, mesmo assim, o estrago já está feito.
Quando em uma família um pai ou uma mãe morre, há um luto. Mas com o passar do tempo, o luto é superado, e ficam as boas lembranças e a saudade. No entanto, o divórcio traz consequências irreparáveis: a falta da união e do companheirismo que foram quebradas, as juras de amor dos pais com os filhos que esfriam com o distanciamento, e o empobrecimento econômico que, em última instância, desagua no rebaixamento econômico que a criança sofre. E, se somado a tudo isso, vem os familiares “agregados” (padrasto, madrasta, meios irmãos etc.), e assim a privacidade no núcleo familiar, que antes existia, abre espaço para um novo momento que as crianças não estão preparadas.
Desta forma, não é difícil identificar comportamentos hostil, agressivo, depressivo, desobediente; outras vezes descompensando no peso, no desempenho escolar. Tudo isso se reflete como: o “luto do divórcio”.
A realidade é que o divórcio não foi plano divino, mas uma exceção exatamente pela dureza do coração do homem. E exatamente essa dureza traz duras consequências que a hoje a sociedade moderna está pagando duramente: crianças se autoflagelando, outras se suicidando, outras fumando, se drogando, se prostituindo... Enfim, uma geração completamente perdida em seus conceitos e valores por pais que ainda não amadureceram o suficiente e ainda estão sonhando com uma “felicidade impossível”.
Relacionamento é uma construção todo dia. Essa pandemia veio mostrar quão chato é viver sozinho, não se associar, não compartilhar, não se relacionar, mas seja qual for a escolha tudo terá um preço.
Viver a dois envolve renúncia, amar além das próprias forças. E, quando chegam os filhos, findou-se o desejo de ser feliz sozinho, pois os filhos trazem uma carga de responsabilidade inigualável. Jesus nasceu, viveu e morreu para que nós nos tornássemos filhos de Deus. E nesse exemplo é possível aprendermos que o caminho excelente para que nossos filhos sejam felizes se chama: renúncia.
Que antes mesmo de pensarmos em sermos felizes “fora dos muros familiares”, possamos entender que nossas escolhas erradas trarão terríveis consequências primeiramente aos nossos filhos, que são os mais vulneráveis nessa relação, e depois a cada um de nós.
Que Deus tenha misericórdia da família brasileira e que Deus preserve cada família debaixo de suas asas!
Por Patrícia Regina Alonso, mãe, advogada há 20 anos, teóloga, musicista formada pelo Conservatório Musical Ernesto Nazareth. Foi capelã do Hospital das Clínicas de São Paulo. É membro da ADVEC. Escritora do Livro “Alienação Parental o Lado obscuro da Justiça Brasileira” e colaborou no livro “A invisibilidade de crianças e mulheres vítimas da perversidade da Lei da Alienação Parental”.
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