Um dos motivos de pessoas não acreditarem em Deus é a grande dificuldade de acreditarem em milagres. Mas ateus preferem ser ateus pela pura conveniência de pecar. Eles preferem vida boa e sem compromisso com o jugo de Cristo, que é leve, não são íntegros, ou seja, erram e justificam seus erros dizendo “Deus entende!”, e são hipócritas, elogiam Cristo mas o traem com suas ações. São apostadores, maus apostadores, como afirma Pascal.
Com relação aos milagres, de fato, não sei, mas parece que poucos realmente são os escolhidos. Acreditar que a água foi transformada em vinho, que alguém abriu o mar ao meio, fez paralítico andar, cego enxergar, mudo falar, que alguém já desenganado pode ser curado de uma doença terminal ou que um mendigo pode enriquecer muito, está bem longe do que nosso senso de causalidade física pode fazer acreditar.
Mas é possível que alguém acredite em Deus sem acreditar em milagres. Por um momento, desprezemos que toda a criação já é em si um milagre divino para, pelo menos, continuarmos com esta reflexão.
A razão, a lógica, pode ser útil para provar que Deus existe. Kant, se estivesse vivo e se tivesse poder para tanto, censuraria quem falasse uma coisa dessas, pois foi ele quem negou que a mente humana limitada pode ir tão longe em coisas que só Deus entende. Se o próprio Einstein acreditava em Deus, quem é você, moderninho que até ignora a finalidade dos pelos de seu nariz, para duvidar da existência do divino? Muita arrogância. Pois bem.
Num ponto Einstein combina, em tese, com a fé: ele se maravilhava com a lógica e a criação. Se Einstein não cria que poderia ser salvo era problema dele, e, diga-se para finalizar, estará condenado eternamente se não se entregou totalmente à fé aos quarenta e nove do segundo tempo, como o ladrão na cruz ao lado de Jesus.
Deus é racional e nos deu racionalidade. Então, se pensarmos bem, a filosofia ajuda a pregação da fé, como defendia Santo Tomás de Aquino.
De fato, como Deus pode não existir se o mundo é inteligente? Como pode um mundo cheio de lógica, inteligência e finalidade ter sido criado sem um criador inteligente? Como pode todas as coisas existentes terem sua finalidade e função sem uma causa primeira que tenha criado e ordenado tudo? Não parece pura vaidade quem se faz de louco para ignorar que até seus pelinhos no nariz servem para alguma coisa?
Sim. Existe um artista que construiu tudo. Aristóteles afirmou na Metafísica:
“Se virmos uma casa construída com cuidado, com vestíbulos, pórticos, apartamentos para homens, mulheres e para outras pessoas teremos uma ideia do artista: não acharemos que foi feita sem arte e sem artesãos. E o mesmo diremos de uma cidade, de um navio, ou de um objeto qualquer construído, seja ela pequeno ou grande. Do mesmo modo, aquele que entrou nesse mundo como uma casa ou numa enorme cidade e viu o céu que gira em círculo e tudo contém, os planetas e as estrelas fixas movidos por movimento idêntico ao do céu, simétrico, harmonioso e útil ao todo, a e terra que recebeu o lugar central… esse homem concluirá que tudo isso não foi feito sem uma arte perfeita e que o artífice desse universo foi e é Deus”.
É possível acreditar em Deus recorrendo a um senso comum de Deus. Se o senso comum aceita um Deus imaginário para quem lhe pede socorro mesmo não crendo nele é porque ele existe. Por outro lado, pensemos em seres desumanos. Hitler pode ter colocado Deus à prova de tão bárbaro que foi, mas continuamos falando em Deus depois do genocídio da Segunda Guerra e de regimes totalitários como o comunismo e o fascismo. Ou seja, não existe ser humano tão desumano que, lá no fundo da alma, duvide de Deus.
Um outro argumento que pode convencer ateus moderninhos é o do movimento. Não existe movimento eterno. As coisas que se movimentam foram movimentadas por outras, mas sempre tem que ter algo que gera movimento, um “Primeiro motor”, que é em si mesmo imóvel. Este gerador de movimento é Deus. Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica defendeu esta razão.
Aristóteles também foi advogado de Deus com o argumento do ótimo. Se existem coisas boas no mundo e pelo fato de o mundo ser bom, então existem coisas ótimas e um ótimo que é Deus, criador das coisas boas.
De novo, em Aristóteles, que hoje em dia talvez seja considerado pela modernidade o advogado do diabo, defendeu Deus como o ser necessário. Existem seres possíveis que dependem de um ser necessário, e este ser necessário, único e último da cadeia, só pode ser Deus.
A prova ontológica, de Anselmo da Aosta, define Deus como aquilo que é maior e que não se pode pensar. Se existe algo misterioso ou oculto sobre o que se pode pensar que é maior, este maior existe tanto no intelecto quanto na realidade. Semelhantemente a isto, o simples fato de pensarmos em Deus, termos isso em mente, é prova suficiente de sua existência.
Pascal defendeu o argumento moral de Deus. Existem aqueles que preferem apostar na inexistência de Deus e viverem como se ele não existisse. Pascal argumenta que este tipo de aposta não leva em conta os benefícios de uma aposta em sentido contrário, na existência de Deus.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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