Deus tem sexo? Ou Deus não tem essência (é queer)? A considerar por seu nome, sim, ele é masculino, é Deus, não deusa. Só por ser Deus, no masculino, vem a pergunta: ele seria desigual, opressor, explorador?
Não temos comprovação, claro, de que Deus tem sexo. É uma questão de fé (a fé pra mim já basta).
Quem faz questão de dizer que Deus é masculino e, portanto, dominador, são as ativistas feministas, por acharem que o homem, criatura dominadora, herdou o caráter opressor de Deus. Cancelam Deus como também são cancelados homens e mulheres que não querem integrar-se ao bando na luta para emancipação feminina (prostitutas são banidas porque permitem ser objeto masculino).
Este Deus sexista, o Deus cristão, é patriarcal, causa repulsa no movimento feminista. Para suas ativistas, a teologia e a filosofia monopolizaram o saber machista e opressor. Esta obviedade no falar (usamos “homem” para os dois sexos) tem que ser cancelada, entende o movimento anticristão que brada por um Deus pós-sexista.
A considerar, ainda, que a religião cristã vê a mulher como auxiliadora do homem e foi feita da costela dele, o ódio à figura masculina passa a ser mortal. Surge a noção de culpa. Culpa do patriarcalismo, do machismo, do capitalismo, do cristianismo e por aí vai. O ressentimento parece não ter fim.
Adão e Eva, nossos ancestrais, tinham a obrigação de multiplicar a Terra. Sobreviviam de vegetais. Se separaram. Eis os primeiros humanos, o primeiro casamento, a primeira família, o primeiro divórcio.
Eis a gênese da guerra dos sexos. Talvez Eva não queria ser serva, submissa, a costela, mãe, esposa, “O outro” de Simone de Beauvouir. Por certo Eva não queria votar em nenhum candidato político (exercer sua cidadania), nem abortar (se automutilar), fazer sexo à vontade, controlar seu corpo, receber o mesmo ou até mais do que o homem, “tornar-se mulher”. Não queria porque essas reivindicações ainda não existiam, são bandeiras dos movimentos feministas, claro. Tem sentido.
Vamos meter um pouco a colher. Não sabemos quem pediu o divórcio. Na época nem existia divórcio. Todo o mistério original da briga dos dois pode ser resolvido numa única sentença: houve desobediência à regra de bom tratamento, além da desobediência de conter a curiosidade em relação ao fruto proibido.
O relato deste drama não parece algo novo. Parece uma novela de vida real, bem familiar, com seus papéis bem definidos. Mas feministas radicais não querem estar do lado do homem, ser costela, e desprezam a verdade bíblica biológica (baseada na força masculina) e imperativa, que para elas soa submissão e opressão. No lugar da essência de uma vida pós-queda, uma ideologia, o feminismo, baseado em números que expressam apenas dominação e opressão masculina.
Eis uma nova queda. Mas agora achamos o culpado: o feminismo como movimento político. Ele vem da vontade de violar a regra supra-humana originária e ver que o sexo não existe. O que existe é o gênero, uma construção social.
Por outro lado, se estes números coletados dos fatos (como, por exemplo, o homem ocupar mais cargos públicos do que as mulheres) querem dizer opressão e dominação masculina porque homens ocupam mais cargos, por que não posso aproveitar estes mesmos números e concluir que esse é o plano divino? Ora, uma leitura diferente para o mesmo fato.
Ninguém aqui é cego, tapa os olhos ou é cínico para negar qualquer violência masculina. Mas o mundo, a vida, é de mazelas. Só nos resta andar para frente e tentar combatê-las com dignidade e consciência de que nada é perfeito, sem leituras marxistas dos fatos que só trazem ainda mais conflito.
O feminismo odeia essa origem divina que divide em dois seres exatamente definidos. Por certo, vem daí a suposição de que o homem só tem mais cargos do que a mulher, seu salário é mais alto, por causa do poder e de sua dominação que vem, em parte, de sua superioridade biológica e do consenso sobre isso. Para elas, feministas iradas, isso se tornou natural e tem que mudar. Quem sabe inverter. É o que elas querem sem medir consequências.
Duas coisas me vêm à mente quando penso na guerra dos sexos. A primeira, que a intenção real é desarrumar a ordem divina; a segunda, que esta desordem deve atingir a todos indistintamente, não apenas os que querem a nova “ordem”. O nome desta nova ordem é “gênero”, que passou a ser a palavra da vez no lugar de sexo, na luta do feminismo contra a desigualdade.
A música Masculino e feminino, de Pepeu Gomes, de 1983, seria cancelada hoje.
A música tem essa parte na letra:
“Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino sou masculino e feminino…”
O cancelamento viria porque já não se pode mais falar em sexo masculino e sexo feminino, e sim em gênero, que significa indiferença em relação a papéis sociais e comportamentais. A biologia não importa. Nada de nascimento, cristianismo, ordem. Importa é o pensamento, a vontade. Homem dono de casa, mulher que trabalhar fora. Se ficasse só nisso, nada contra.
O problema é que, não se contentando em buscar mais igualdade e desfazer a hierarquia entre os sexos, o movimento feminista é político e quer mudar a sociedade como um todo, incluindo a vida de cada um dos indivíduos. Todos são atingidos. E aí de quem se rebelar contra ele. Isso é totalitarismo, e dos brabos.
Pensando bem, é muita pretensão querer mudar uma sociedade inteira para beneficiar grupos específicos. Justiça haveria se estes grupos fossem favorecidos sem atingir os direitos dos outros ou os valores conquistados.
Em vez de reconstruir a sociedade pelas ideias, por que não buscar as respostas na Bíblia? É questão de fé, então essa leitura precisa de desprendimento, abrir o coração para as coisas divinas, uma dificuldade numa sociedade cada vez mais terrena e materialista.
Se a realidade é feia (desigual, intolerante, racista, machista etc.), a mentira sobre ela é um crime hediondo.
Por Sergio Renato de Mello, defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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